UM PEQUENO ESTUDO SOBRE O GRANDE CARLOS CUNHA

BIOGRAFIA DE CARLOS CUNHA

Luiz CARLOS da CUNHA nasceu em São Luís/MA, em 18 de maio de 1933. Professor, jornalista, escritor, historiador, trovador, ensaísta, crítico literário, declamador, poeta. Foi grande incentivador de várias gerações, principalmente nas áreas de Educação, Jornalismo e Literatura.

Ingressou no Jornalismo aos dezessete anos; fundou seu próprio jornal, Jornal POSIÇÃO, que trazia o slogan "O jornal que não suja as mãos nem a consciência", por meio do qual combatia os malversadores do dinheiro público e os maus governantes.

Como educador, fundou, em 1959, o Instituto Lourenço de Moraes, entidade mantenedora do Colégio “Nina Rodrigues”, escola de cunho eminentemente social, levando educação aos menos favorecidos economicamente.

Formado em História, Geografia e Filosofia, Carlos Cunha também integrou a rede de educadores do ensino público e exerceu cargos públicos de assessor de imprensa. Entrou para a Academia Maranhense de Letras em 1968, ocupando a cadeira Nº 33, fundada por Viriato Correia; também foi membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, da Associação Brasileiro de Imprensa, da União Brasileira de Escritores e de outras entidades respeitáveis no país. Foi o primeiro delegado da União Brasil de Trovadores, Seção no Maranhão. Em 07/12/1968, fundou a Academia Maranhense de Trovas (Casa de Catullo), da qual fora seu primeiro presidente.

Publicou mais de 30 livros, dentre os quais “Eu e a Academia Maranhense de Trovas”, “Perfil de Pandiá Calógeras!, “Vultos Históricos à Luz da Crítica Moderna”, “Poesia Maranhense Hoje ou 50 Anos de Poesia”, ”A Páscoa da Gaivota”, “AS Lâmpadas do Sol”, “O Caçador da Estrela Verde”, seu livro de memórias. Como declamador, conquistou admiração da sociedade, difundindo poesias suas e de escritores brasileiros, chegando a interpretar o monólogo AS MÃOS DE EURÍDICE, de Pedro Bloch em teatros do Piauí e Ceará. Faleceu aos 22 dias de outubro de 1990, em São Luís/MA.

TROVAS DE CARLOS CUNHA

Parece até que a viola

De Catullo, o trovador,

Trazia a alma da corola

Nas asas de um beija-flor.

Saudade traz o perfume

De tudo que já passou

A saudade é um vagalume

Resto de luz que ficou.

São Luís é uma cidade

Que se veste de azulejos;

O mar, quando tem saudade,

Banha seu rosto de beijos.

Confesso na mocidade

Saudade não ter sentido

Mas hoje sinto saudade

Daquele tempo perdido.

Saudade é chuva caída

Na calha do coraçõa

É centelha revivida

Em noite de escuridão.

Desconheço nesta vida

Quem passe sem ter saudade

É a mucama preferida

Da própria felicidade.

Conheço um barco veleiro

Parado no cais, sozinho;

Assim sou eu prisioneiro

No porto do teu carinho.

O céu noturno é mais lindo

Visto lá do meu sertão

Parece um colar luzindo

No pescoço da amplidão.

Olhos assim como os teus

Serenos, meigos, risonhos

Parecem feitos por Deus

Numa alvorada de sonhos.

Meu retrato muito antigo,

Cheio de vida e de brilho

Já não parece comigo

Parece mais com meu filho.

Quando Catullo morreu

Deus chorou em serenata

Na porta grande do céu

Com mil violas de prata.

POEMA SEM NÓDOA DO TEMPO LIQUEFEITO (CARLOS CUNHA)

Eu procurava, no meu subúrbio colorido,

Acender o lume das auroras, mas as minhas manhãs

Eram desidratadas e, sempre que olhava o céu,

Sentia o gosto de azul na boca.

Com aquela rosa de alumínio batia à minha porta

Um trecho de órgão que procurava sufocar a minha infância. Eu cresci num sufrágio de porquês,

Mas, no horário dos sinos também.

A minha tristeza morreu servida numa taça

E, das grandes madrugadas sonolentas,

Roubei o brilho de um peixe

E fiz minha canção.

SONETO PARA CATEDRAL (CARLOS CUNHA)

Eu vi Tereza no teu altar rezando

Preces de amor na festa do noivado.

Era um anjo, sereno, imaculado;

Ou, uma rosa em paixão se confessando

Depois, eu vi Tereza iluminando

Teu simbolismo em ouro cravejado,

Eu vi Cristo sorrir crucificado

Vendo no altar Tereza se Casando.

Hoje, porém, a rosa já não brilha;

Já não sinto e ouço a voz da minha filha

Que tão cedo partiu para a eternidade

E o Cristo que sorriu para Tereza

No mesmo altar solução de tristeza

Procurando conter minha saudade.

CANÇÃO SEM RIMA PARA UMA ILHA (CARLOS CUNHA)

Sou Velha e moça ao mesmo tempo

pois nasci ontem

e continuo tão bela qual uma estrela.

Foi descoberta por portugueses, Franceses dominaram-me o coração

E hoje pertenço integralmente a brasileiros. Canhões antigos cantam hosanas seculares E dos seus musgos escorrem aleluias

De um passado que será perpétuo

E que será perene.

Nas noites de lua cheia,

Passeiam lendas pelas minhas calçadas,

Subindo e descendo as minhas ladeiras.

Eu sou o passado em harmonia com o presente

Eu sou a tradição em luta com os costumes modernos Eu sou o país dos azulejos,

A catedral dos vitrais,

A cidade dos sonhos, o reinado da poesia

Eu me chamo São Luís

BILHETE A PAPAI NOEL (CARLOS CUNHA)

Papai Noel, que vergonha! eu

confesso de você

Sonhei muito, mas quem sonha

não vive bem, já se vê.

Inda tenho os sapatinhos

que guardava pra você

Andei por muitos caminhos

não o vi, não sei por que...

Inda guardo os sapatinhos

empoeirados, tristonhos,

mas dentro deles sozinhos

os fantasmas dos meus sonhos!

Papai-Noel, que vergonha,

se você me visse agora:

alma cansada, tristonha, cheia

do nada de outrora

Quantos sonhos disfarçados

em seu saquinho, Noel,

castelos alicerçados

em colunas de papel J..

Papai-Noel, por favor,

não minta para as crianças

traga mensagens de amor

e um Natal só de esperanças!

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CANÇÃO DE NATAL PARA O MENINO POBRE (CARLOS CUNHA)

Menino pobre, menino do meu subúrbio

Papai Noel não te quer.

Uma infância desenflorada

Balança tua espádua nua, dilacerando o silêncio

Esquece Papai Noel, menino pobre, menino do meu subúrbio. O carro

desse velhinho passou distante de ti.

Papai Noel nunca viu

O teto todo furado do teu casebre de tábua

Teu riso transfigurado, teu braço magro, comprido

Teu ventre pasto de verme.

Porque se viesse, menino,

Menino do meu subúrbio,

Não te daria um brinquedo.

Mas um pãozinho de trigo

E um minuto de sossego.

CONDOR FERIDO (Carlos Cunha)

Eu já fui forte, ousado, destemido,

um rochedo sem medo do oceano,

primavera durante todo o ano, uma

feliz vendaval sem ser vencido.

Eu fui condor, voando distraído, sem

receio ou temor, sem desengano,

conquistei corações qual um

tirano, fui mais forte no amor do

que Cupido. Mas, tu chegaste,

assim, na minha alma. E foste

entrando, em mim despercebida,

deitando lá no fundo da minha

alma. Pobre destino o meu, morrer

assim: um furacão vencido pela calma.

Foi tão-somente o que restou de mim.

SONETO DA MINHA ANGUSTIA (Carlos Cunha)

Eu tenho filho, cujo olhar profundo penetra o

infinito da minha alma.

Esse olhar estrangula a minha calma.

E, em magoas e tristezas me fecundo. Finjo

aceitar em mim, lá bem no fundo, no

mistério da dor que em mim se espalma, a

mudez que meu filho traz encalma,

na rosa cor de rosa do seu mundo!

E esse olhar, qual lâmina me invade. Parece

até um triste fim de tarde

que se debruça sobre o meu viver.

Ah! se eu pudesse cessar esse absurdo... Não

sofreria se ficasse mudo,

vendo e sentindo a sua voz nascer!...

Wanda Cunha
Enviado por Wanda Cunha em 09/08/2019
Reeditado em 28/08/2020
Código do texto: T6716482
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