VENHO TECIDO NA PAPELARIA
VENHO TECIDO NA PAPELARIA - viver é sinônimo de estar em movimento. É certo que cansamos envelhecendo, o trabalho árduo e a dedicação nos esgotam especialmente nas salas de aula. O caso é que sinto ter cumprido minha demanda como professor em sala de aula, papel social que desempenhei apaixonadamente; comparo essa etapa da minha vida com um capítulo da minha história que julgo bem escrito.
Mas continuo ensinando, e aprendendo. Não posso fugir do que sou: um humanista por apropriação cultural, um franciscano que ainda não aprendeu amar mais que ser amado e um marxista-budista que não pratica a fé o quanto deve porque não concilia contradições fora da poesia.
E assim se chega ao DNA da pessoa que me tornei durante essa caminhada: sou poeta. Sou poeta de nascença, ser poeta é uma doença da qual morrei feliz.
Meu credo proclamo para todo lado: a poesia é a alma da Literatura e esta é o motor da criação. Se viver é estar em movimento, espero continuar tocando as pessoas com minha arte como de certa forma toquei o espírito de quem tive a oportunidade de ser professor. Sou lhes grato do fundo da minha alma. Espero continuar tocando com minha arte o próximo e o distante, quem se banha no tanto de mar que há entre nós e por vezes nos afoga. Seja contando histórias usando a palavra, seja contando histórias fotografando, espero que meu trabalho torne-se condão mágico que faça da penumbra que nos rodeia tecido delicado de luz.
Mas não fará sentido aposentar o professor esquecendo-o como muitas vezes esquecemos livros na estante. Do professor, na carne do professor, nasce o poeta anunciado como o verme necessário ao equilíbrio das forças que surge dentro do fruto maduro e dá sinal ali de que é o tempo certo. Assim, o professor dá passagem ao poeta - este que nas horas vagas se delicia com o aroma do café amargo na xícara branca pensando nas flores do cafezal; este que fotografa o pólen do assa-peixe flutuando na brisa acreditando tratar-se de abelhas e borboletas dançando no vento.
Não sei se me fiz claro, a linguagem exata me enfada e “a coisa mais certa de todas as coisas não vale um caminho sob o sol”. Se eu soubesse traduzir o que sinto e o que penso fora da poesia eu não seria quem sou, e outro não pretendo ser. Pretendo continuar promovendo pessoas e causando empatia, sorriso e esperança. Também reflexão, e alguma epifania por desavisado pisar como se fosse pela primeira vez nesse palco.
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Baltazar Gonçalves