Testemunho Parte II
Eu era atormentada de dia e de noite, porque quando eu estava dormindo, minha avó me disse que eu ficava me mexendo na cama, e não sossegava, ou ficava falando dormindo, e quando estava acordada destruia tudo dentro de casa, e até quebrei o vidro da janela do meu quarto dando soco nele, e batia todas as portas em que eu passava com força, promovia o caos em todo o lugar em que eu ia. As vezes, tinham que me amarrar com lençol dentro de casa pra eu sossegar, e minha avó até tentava me exorcizar, pondo óleo ungido na minha cabeça, mas não adiantava porque não era esse o meu desejo.
Ia quase todos os dias em morros diferentes comprar maconha, e até pensei em virar tragicamte, mas minha mãe me aconaelhou a não fazer isso. Minha mãe era a única pessoa pra quem eu contava todas as coisas que aconteciam comigo, porque ela não me criticava, somente me aconselhava, e às vezes ia até em alguns lugares comigo, como o garage e a lapa; mais tarde eu fui saber que ela fazia isso, pra poder ficar por dentro da minha vida, porque ela sabia que se ela me criticasse, eu não ia contar mais nada pra ela.
Comprava quase todos os dias muita maconha e cheguei a ser detida por 3 vezes, mas por ser menor, apenas chamavam meus pais na delegacia, e eu não cheguei a entrar em uma cela.
Um dia conheci uma menina chamada Julia, na época ela tinha 13 anos e eu 16; e ela tinha uns tios ricos, e então começamos a andar juntas, e conforme o vicio foi tomando conta dela, ela passou a roubar whisques 21 anos e 18 anos, dinheiro, jóias e comida desse tios, e então vendíamos e comprávamos roupas e drogas, e vivíamos num certo luxo, no lixo de vida que vivíamos; houve dias em que ficávamos cheirando cola pelas ruas durante semanas, e tinham meninas de família, bonitas mesmo, que ficavam cheirando cola com a gente, mas sempre voltávamos pra casa, não éramos como mendigas não.
Depois veio a Roberta, a menina mais doida que eu conheci. Com ela, eu ficava dias fora de casa, na casa dela ou na casa de amigos dela, hora fumando crack, ora fumando muita maconha, apesar de acharmos estranho ela ter dinheiro, não perguntávamos da onde ela tirava, mas desconfiávamos que ela era prostituta, mas nunca descobrimos se isso era de fato verdade.
Teve uma vez que viajamos para Penedo e depois para São Paulo. Em Penedo ficamos na casa de uma amiga dela, e em Rezende, que fica perto de Penedo, ficamos em uma casa, meio abandonada, e por perto tinha um pasto. Nós nos embrenhamos no pasto à cata de cogumelos, foi a primeira vez que tomei chá de cogumelo, e invadimos a noite um cemitério local para lá usarmos droga.
Na nossa ida para São Paulo, fomos de carona de caminhão, com bastante dinheiro, mas ficávamos pela rua pedindo dinheiro e comida e o dinheiro que tínhamos, gastávamos com drogas, Houve um dia em que invadimos um cemitério com um grupo de roqueiros mais novos e menos safos que a gente, e adentramos uma sepultura na parte em que se colocam os ossos embaixo do túmulo e fumamos crack ali, eu e ela, eles fumaram apenas maconha.
Andávamos pelas ruas de São Paulo com as nossas roupas no corpo as vezes até 3 ou 4 peças, uma por cima da outra, e as vezes que dormimos, como éramos menores, pedimos para um rapaz que conhecemos, para nos hospedar em um hotel, e ele ficaria sendo nosso responsável, tivemos que dormir ao lado dele na cama, mas não aconteceu nada, porque uma coisa de que eu tinha muito orgulho de ser, era de ser lésbica, apesar de ficar com uns meninos de vez em quando, só que ninguém podia saber, pra eu não perder o respeito que eu tinha adquirido, no meio dos garotos, porque só andava no meio deles, como se fosse um deles. Voltamos para casa de carona de caminhão, não sei bem certo quanto durou a viagem, mas acho que foi uma semana ou mais, isso sem avisar nada pra ninguém da minha família.
Depois dessa viagem, no aniversário de 14 (acho) anos da Julia, ela conseguiu arrumar R$100,00 e então fomos no morro (eu, ela, Camila e João) e compramos tudo de cocaína e cheiramos tudo naquela noite, foi a primeira vez que cheirei. Prometi que não voltaria a fazer isso nunca mais, menti, pois cerca de 1 ano ou mais depois, nas minhas idas ao garage e à Lapa, comecei a andar com pessoas que usavam muito e passei a fazer uso também, apesar de não comprar, sempre aparecia alguém que me dava, e maconha também, eu sempre tinha muita droga, apesar de não ter dinheiro.
Nas minhas muitas idas à favela ora do Manguinhos, ora do Jacaré ( ia quase todos os dias), teve vezes que quase morri, mas Deus me deu livramento, uma vez no Boréu, outra em Parada de Lucas, Vou contar com detalhes a experiencia do Boreu...
Um dia, eu estava na Lapa com a Julia, um amigo nosso e um morador local, então conhecemos um homem que botou muita cocaína para nós cheirarmos, só que quando acabou, entramos todos no carro dele e fomos comprar mais, eu queria ir no morro do Querosene mas acabamos indo no morro do Boréu.
Chegando lá, ele comprou muito pó e eu fiquei falando muito, e pela muita experiência que eu tinha nom as drogas, eu sabia fazer chá de cogumelo, chá de trombeta, crack e tinha idéia de como se fazia haxixe. Eles (os traficantes) estranharam, e acharam que eu tinha alguma ligação com tráfico também, e o cara que nos levou lá falou para eles, sem nós sabermos, que estávamos querendo ir no Querosene, facção rival da favela em que estavamos. Entramos no carro pensando que íamos embora eu, Julia e o nosso amigo antigo, só que ao invés de entrar o motorista, o homem que nós tinhamos levado pra lá, quem entrou foi um traficante, e nos levou para cima do morro, e falou que íamos morrer, e que não tinha jeito; mas tinha uma imagem de Jesus Cristo na boca de fumo, e eu me lembrei dEle, e falei pro traficante:
- Tem amor a Jesus Cristo?
E então Deus nos deu livramento naquele dia.
Na favela Parada de Lucas, Deus me deu sabedoria para responder bem, apesar de ter estado a noite inteira cheirando, e já estar na loucura da cocaína. Se eu houvesse respondido a verdade, teria morrido, pois eu estava em uma favela de facção rival a facção da minha área.
No Garage eu conheci um garoto chamado Pedro e ficamos amigos, e eu ia pra a casa dele sempre e ficava lá, tinha até 2 camas na casa dele, uma minha e outra dele, éramos só amigos, nada além disso, mas ele sempre me dava drogas (maconha e crack, eu sempre tinha, isso nunca me faltava).
Mas um dia, após haver tomado uma caixa de Benflogin com vodka e fumado muito crack no dia anterior, eu estava na casa dele e então aconteceu que Deus fez como que se me abrissem os olhos e eu pude ver a minha vida, o caos que ela estava, e então decidi que queria ser crente. Quebrei minhas enormes unhas pretas, tirei meu pentágrama, meu ankh, que já estavam comigo há anos, tirei meu cinto prateado e fui para casa, mas como cheguei não sei.
Na volta para casa, dentro do ônibus, fiquei maluca, tive a impressão de que o ônibus estava andando em círculos, mas só lembro de flashes dessa volta para casa, e quando dei por mim estava endemoninhada, ficava falando o tempo todo para minha mãe:
- Aceita Jesus no seu coração? Muitas e muitas vezes depois comecei a, ajoelhada e sem roupa, cantar com uma voz horrorosa:
- Maior é o que está em nós do que o que está no mundo...
Depois comecei a falar que nem japonês e depois com sotaque espanhol e isso durou quase 2 dias, sendo que em algumas ocasiões nesse tempo, eu ouvia uma voz me dizendo que eu só iria conseguir me libertar se eu me matasse, e eu tentei de algumas formas totalmente ineficazes faze-lo (me matar), mas pela graça de Deus eu estava num estado de consciência tão precário que eu não cheguei nem perto de conseguir, e então minha cunhada foi correndo chamar a pastora na igreja e veio ela e duas irmãs, e começaram a expulsar os demonios que estavam em mim (só lembro de flashes) e então elas falaram na língua dos anjos e o dêmonio que estava em mim falou pra elas falarem em latim porque aquela língua ele não entendia, tentou bater nelas mas ao levantar a mão para faze-lo, teve (tive) a mão paralisada no ar mediante o nome de Jesus que a irmã falou.
E então elas conseguiram por a roupa em mim e me levaram para a igreja, à força, chegando na porta o dêmonio que estava em mim gritou: -Não entre! e nada fazia eu entrar até que minha ex cunhada falou que eu ia entrar sim em nome de Jesus e me empurrou com toda força, então eu entrei mas dava alguns passos e tentava fugir, quando me botaram lá na frente eu cuspi no pastor, nas irmãs e quando o pastor botava a mão na minha cabeça eu tirava até que, graças ao poder de Deus, eu fui liberta, e voltei a minha plena consciência.
Dentro do gabinete eu fui recebida de volta “à vida” (verdadeira) e então o pastor perguntou do que eu estava mais aliviada, e eu falei que era do cheiro de cio que a pomba gira que estava em mim exalava através de mim (nojo).