COM ISMAEL NERY POR OUTROS CAMPOS DE TRIGO

Ismael Nery, pintor, desenhista, ilustrador, cenógrafo, poeta e filósofo paraense (Belém 1900 – Rio de Janeiro 1934) aos nove anos de idade se mudou com a família para a então Capital Federal. Em 1915, ingressou na Escola Nacional de Belas Artes, no entanto a abandonou algum tempo depois, pois não se adaptou à disciplina escolar. Em 1920, viajou para a Europa tendo freqüentado a Academia Julian, em Paris. Voltou ao Brasil algum tempo depois vindo a trabalhar no Patrimônio Nacional do Ministério da Fazenda, onde conheceu o poeta Murilo Mendes (Juiz de Fora 1901 – Lisboa 1975), seu amigo por toda a vida. Em 1922 casou-se com a poeta Adalgisa Ferreira (Rio de Janeiro 1905 – Idem 1980) que depois viria a ser conhecida como Adalgisa Nery. Em 1926, Ismael deu início a um sistema filosófico de fundamentação católica e neotomista, cujo nome Murilo Mendes batizou de Essencialismo, mas esse sistema em nada se converteu visto que Ismael não deu prosseguimento a ele. Em 1927 fez outra viagem à Europa onde entrou em contato com o pintor bielorusso Marc Chaggal (Vitebsk 1887 — Saint-Paul-de-Vence, França, 1985) e outros pintores surrealistas. Sua obra sofreu influências importantes como a metafísica do pintor italiano nascido na Grécia Giorgio de Chirico (Vólos 1888 – Roma, Itália 1978) e do cubismo do pintor espanhol Pablo Picasso (Málaga 1881 – Mougins, França 1973). A figura humana, retratos, auto-retratos e nus são as suas preferências. Trabalhou, também, em várias técnicas aplicadas em desenhos e ilustração de livros. Em 1931, contraiu tuberculose e, a partir daí, suas figuras tornaram-se mais viscerais e mutiladas. Durante os seus 33 anos de vida participou somente de três exposições individuais e outras quatro coletivas. Esquecido por mais de 30 anos foi resgatado a partir da VIII Bienal de São Paulo, em 1965. Nery era um homem à procura de si mesmo. Renegava veementemente a condição de pintor, preferindo ser filósofo. Mendes escreveu para o jornal o Estado de São Paulo: “...Nery achava que muitas intenções da pintura já estavam realizadas definitivamente; por exemplo, a primeira vez que viu Tintoretto, achou inútil continuar a pintar...”. Os críticos dividem a obra de Nery em três fases: de 1922 a 1923, a expressionista; de 1924 a 1927, a cubista, com evidente influência da fase azul de Pablo Picasso; finalmente, de 1927 a 1934, adotou o surrealismo, sua fase mais importante e promissora. Murilo Mendes preservou alguns desenhos e poesias de seu amigo, sendo responsável pelo redescoberta de Nery nos anos 1960. Portanto, meus amigos, homenageemos Ismael porque homenagens, sob todos os aspectos, ele merece.

Enzo Carlo Barrocco
Enviado por Enzo Carlo Barrocco em 20/09/2007
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