HISTÓRIA DE VIDA

HISTÓRIA DE VIDA DE CAMPONEZ FROTA

Autor: Camponez Frota

Sou filho de Octacilio Santana Borges e Ilka Romil Frota Borges, já falecidos. Meu pai serviu na Brigada por 2 anos (1943 e 1944) no final da 2ª Guerra. Pediu a baixa para, depois, tornar-se funcionário do Porto de Porto Alegre, no tempo em que havia muita movimentação de navios (idos dos anos 50 e 60), e minha mãe dedicava-se a cuidar dos 4 filhos e a bordar à máquina para uma confecção, complementando a parca renda familiar na época. Sou o segundo filho na ordem de nascimentos. Meu irmão Gece, mais velho, foi soldado da Brigada, entre 1969 a 1974, tendo servido no Regimento Bento Gonçalves, na Diretoria de Saúde e no Hospital da Brigada. Por não ter vocação militar pediu a baixa e seguiu carreira na área da saúde como Auxiliar de Enfermagem do INPS. Atualmente é fiscal da Anvisa. Tenho mais duas irmãs (Mariza e Lisarbe) que moram em Canoas.

Meu avô materno, Camponez Riograndense Falcão da Frota, foi brigadiano tendo sido reformado no posto de Capitão (amparado pela Lei Praieira), após a Legalidade, movimento ocorrido em 1961 no RS. Serviu muitos anos no Regimento Bento Gonçalves (RBG), passou pelo Palácio Piratini, como barbeiro do governador. Encerrou a careira como comandante de um destacamento do 1º Regimento de Cavalaria (1º RC - atualmente 1º RPMon sediado em Santa Maria) , na Rua Augusto Severo, em Porto Alegre, aonde ficou morando por motivo daquela unidade ter sido transferida para a cidade de Santa Maria. A sua permanência no destacamento foi para cuidar dos materiais que ali permaneceram, bem como, dos cavalos que aguardavam destino (segundo ele, aquelas terras pertenciam ao Dr. Décio Martins Costa).

Nasci em 26 de fevereiro de 1951, no antigo quartel do 1º RC que situava-se na Rua Augusto Severo, então conhecida como a Rua dos Cachorros, entre a Av. Sertório, e o aeroporto Navegantes, em Porto Alegre. Meus primeiros cueiros foram fardas da Brigada, visto que meus pais passavam por dificuldades financeiras e moravam com meu avô, à época. Aos seis meses de idade fomos morar no Bairro, então chamado Vila Rio Branco, em frente ao antigo pombal, em Canoas, pois meu avô havia comprado um terreno e construído uma casa para que meus pais fossem lá morar. Na época era considerado interior, tendo em vista a dificuldade de deslocamento para ir a Porto Alegre.

Vivi minha infância naquela casa com minha família, sem muitas perspectivas de melhoria de vida. O local era uma vila de operários do Frigorífico Sul Riograndense (Frigosul), vindos em sua maioria das cidades de Santana do Livramento e de Pelotas, para ali trabalharem e povoarem aquele fundão da Vila Rio Branco. A minha alfabetização foi com uma senhora que dava aula em casa, chamada Ledir, e depois, a partir dos 7 anos na escola Maria Imaculada Conceição. Tive muitas dificuldades de aprendizado nos anos iniciais tendo em vista o pensamento que deveria trabalhar para ajudar a família e poder comprar minhas coisas. Costumava brincar de soldado, visto que sempre admirei muito o meu avô e o meu primo-padrinho Octávio Frota, que na época era capitão da Brigada. Um fato interessante que ocorreu comigo é que segundo a minha mãe, pretendeu ela convidar para me batizar, o seu tio Coronel Venâncio Batista, que na época era o Comandante Geral da Brigada. Me contou ainda que, antes de eu nascer decidiu que o primeiro casal que viesse me visitar, seriam os padrinhos, pois percebeu que os parentes poderiam interpretar que o tio Venâncio somente teria sido convidado por ser ele o Comandante Geral da BM. Por ironia do destino, o primeiro casal que me visitou foi o Aspirante-a-Oficial Octávio Frota e sua esposa Ledyr Coelho Frota (meus primos em segundo grau), o qual, mais tarde veio a ser o Comandante Geral da Brigada (1963 a 1967) num período histórico nacional. Hoje penso que estava predestinado a ter como padrinho um comandante da Força Pública que sempre amei e que fiz carreira.

Comecei a trabalhar efetivamente com 13 anos de idade numa sapataria na vila Rio Branco, depois aos 14 anos numa fábrica de carteiras e cintos e, em junho de 1966, aos 15 anos, fui trabalhar na fábrica de calçados do Serviço de Intendência (Sv Int) da Brigada Militar, situado na Rua André Belo, no Bairro Praia de Belas. Na minha adolescência sempre vivi mais as coisas da Brigada do que a vida civil, pois trabalhava de segunda a sexta-feira, da manhã à noite, somente sobrando os fins de semana para contatos com o mundo civil. Fui muito introvertido quando criança, e tive muitas dificuldades de integração com os outros adolescentes. Preferia conversar com os mais velhos, pois sempre me aconselhavam e me orientavam para a vida. O que me marcou nessa época foi passar os fins de semana na casa de meus avós, no Bairro Ipiranga, ouvindo histórias da família Frota e das peripécias do meu avô, e da velha BM, e também na casa de meus padrinhos, na Rua General Canabarro em frente ao Tribunal de Contas, e depois na Av. Teresópolis, residência oficial do Cmt. Geral, onde vivia intensamente os bastidores do período da revolução democrática iniciada em 31 de março de 1964, visto que meu padrinho era o então Comandante Geral.

Em 16 de outubro de 1969, aos 18 anos, prestei concurso e incorporei nas fileiras da Força como recruta no ensino, no Serviço de Intendência, mesma unidade que vinha trabalhando desde os 15 anos. Na verdade somente coloquei o fardamento e recebi algumas instruções militares para tirar serviço, visto que naquela época profissionais necessários as Organizações de Apoio ingressavam sem a necessidade de fazer o Núcleo Preparatório Policial (NPP). Pelo tempo que trabalhava no quartel, já me sentia um brigadiano veterano. Em 1971, enquanto soldado, pedi transferência para o QG e prestei serviço no Centro de Operações Policiais Militares (COPOM) como operador de rádio e depois como motorista dos Oficiais Superiores de Dia à Guarnição. Em 1974 realizei o curso de Socorro em Enfermagem na Cruz Vermelha Brasileira, tendo estagiado no Hospital Geral do Exército (HGuPA). Prestei concurso para o CFC/C, em novembro de 1975, tendo sido aprovado, e em abril de 1976 me apresentei no 5º BPM, em Montenegro para realizar o curso. Após conclusão, fui classificado na Ajudância Geral, retornando ao Centro de Operações para desempenhar as funções de operador de rádio. Naquele período já sonhava em ser sargento combatente. No fim do ano de 1976 prestei concurso para o Curso de Sargentos Combatentes (CFS/C), tendo logrado aprovação, sendo que na véspera do Natal daquele ano recebi o maior presente que já tinha recebido na BM, a notícia que havia passado no concurso para o CFS. Cursei o CSF em 1977 e, no período do curso recebi novo presente, o nascimento de minha filha Lícia em abril daquele ano. Minha esposa Elisabeth dando a luz em Porto Alegre, e eu estudando na ESFAS em Santa Maria. Dias difíceis, mas de grandes alegrias e compensações.

Casei em 1975, aos 24 anos, com a jovem Elisabeth Oliveira, que mais tarde se formou professora pelo magistério, e depois graduou-se em Artes Visuais pela ULBRA, em Canoas. Atualmente é Pós-graduada em Arteterapia pela FAVI – Curitiba/PR e em Psicopedagogia pela Faculdade Uniasselvi – Polo Porto Alegre. Temos um casal de filhos, Lícia, Graduada em Administração de Empresas (COMEX) e Pós-graduada em Marketing, e William, Acadêmico de Gestão em Segurança, e operador na área da segurança e portaria, que nos brindou com três lindos netos, Rayan e Henry e Lauren.

Após me formar como Sargento em 1977, fui classificado no 3º BPM, em Novo Hamburgo sendo que lá servi na 1º Cia, na sede, e depois na 3ª Cia, em Canoas. De lá pedi transferência para a Ajudância Geral, onde trabalhei no EMBM-PM/2, onde fui promovido a graduação de 2º Sgt, e depois na AjG 3, tendo como chefes diretos o Cap Ney Feliú e o Cel Mesquita, que havia sido meu comandante no 3° BPM. Cansado da rotina administrativa, pedi transferência para o 11º BPM em março de 1983 e fui servir na 2ª Cia PM, comandada pelo meu primo-irmão o Cel Alcery Frota Pinto, que na época era Capitão Cmt. da 2ª Cia. No Onze foi onde mais realizei as atividades que sempre pensei em realizar na Corporação. Fiz o Curso de Batedor Motociclista em 1984 no 3º BPE, e o Curso de Arrais Amador na Capitania dos Portos de Porto Alegre, e ainda participei da Marcha Militar à pé, de 200 km (Barra do Ribeiro à Piratini) comemorativa aos 150 anos da Revolução Farroupilha, juntamente com tropas de infantaria da 6ª Divisão de Exército. Naquele período estava empregado no Pelotão de Choque, nas funções de Sgt. Auxiliar do comandante do pelotão. Participei de uma Operação tipo Polícia, num exercício desenvolvido pelo Exército Brasileiro no município de Barra do Ribeiro que me deu uma visão muito próxima de qual seria a missão da Polícia Militar numa situação de guerra. Realizei vários exercícios de contraguerrilha e montagem de pista de aplicação para os cabos e soldados da 2ª Cia PM que finalizavam a Instrução Centralizada (PIC) nas ilhas do Guaíba. Sob as ordens do Cmt. da 2ª Cia, organizei, treinei e comandei a Patrulha Urbana de Manobra e Ataque (PUMA), em 1983, para fazer enfrentamento aos constantes assaltos a banco que estavam ocorrendo na capital. O resultado foi a conquista de índice zero naquele tipo de ocorrência na sub-área 2 do Onze, no período de atuação da patrulha (1983 a 1985). Foi no Onze, também, que consegui realizar a conclusão no Ensino Médio à noite, no Colégio Universitário localizado no centro de Porto Alegre.

Após 4 anos no Onze, em 1987 fui chamado a prestar serviços na Casa Militar no governo de Pedro Simon. Por lá realizei o curso de Montanhismo Militar no 11º Batalhão de Infantaria de Montanha – Regimento Tiradentes, em São João Del Rey – MG. Trabalhei na Subchefia de Defesa Civil por dois anos e, devido ao meu envolvimento político, fui apresentado na Secretaria do Trabalho Ação e Comunitária (STASC) para desempenhar as funções de Oficial de Gabinete da Secretária Mercedes Rodrigues. Da Secretaria fui transferido para a Fundação Gaúcha do Trabalho (FGT) para ser Assessor Especial Legislativo do Presidente da Fundação, para realizar a ligação entre a FGT e a Assembleia Legislativa. Desta, retornei à Casa Militar em 2001 e fui apresentado na Ajudância Geral - Aj G, visto ter trocado o governador (saiu Pedro Simon e entrou Alceu Collares).

Terminada a missão junto ao governo do Estado em 1991, fui servir no Centro do Suprimento e Material de Intendência (CSMInt), ainda como 2º Sargento, tendo desempenhado as funções de Chefe do Setor Pessoal Militar (Sargento Brigada) e o Chefe do Setor de Pessoal Civil (Encarregado de Pessoal), tendo daquela unidade, prestado concurso e ido para a EsFAS, em Santa Maria, em julho de 1991, realizar o Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos (CAS). Concluído o curso e retornando à unidade de orígem, fui promovido a 1º Sargento (1993) passando a responder pelas funções de Secretário, e finalmente, fui promovido à graduação de Subtenente em 22 de dezembro de 1995, me tornando a praça mais graduada da unidade.

Os caprichos do destino fizeram com que encerrasse minha carreira na mesma unidade em que havia iniciado minha história brigadiana. Fui transferido para a reserva naquela unidade sem planejar tal trajetória, e nem para o final da minha carreira. Em síntese: encerrei minha carreira militar ativa na mesma Unidade onde iniciei como menor aprendiz, e mais tarde, como recruta no ensino militar. Transferido para a reserva remunerada, a pedido, no posto de 2º Tenente, por ato do governador do Estado em 24 de março de 1997. Após, me estabeleci com um escritório de Serviços de Assessoria Documental e de Segurança em Cachoeirinha, onde já residia desde 1983.

Encerrada a minha trajetória profissional brigadiana, fui dar mais atenção para minha formação acadêmica, tendo concluído o Curso Superior de Gestão em Segurança Pública e Privada pela ULBRA – Canoas em 2005. Posteriormente em 2010, realizei Pós-graduação em Docência do Ensino Superior pela UCB – RJ. A partir da minha graduação comecei a dar aulas para os cursos de formação de Guardas Municipais e Segurança Empresarial, realizando palestras, assessorias e consultorias em segurança (Porto Alegre, Cachoeirinha, Gravataí, Alegrete, Rosário do Sul e Santana do Livramento ). Coordenei cursos de formação de Guardas Municipais na Escola ABC de Segurança com sede em Gravataí/RS. Ao longo do tempo tenho desenvolvido as minhas atividades como professor, hora pela Fundação Brigada Militar ou pelo IDEFAAP, sempre na minha área de formação. Também pela Associação dos Veteranos e Amigos da Polícia do Exército (AVEAPE-RS) venho atuando como professor no Estágio de Prevenção de Acidentes com Motocicleta (EPAM) dentro do Programa de Instrução do Comando Militar do Sul (CMS), para os militares das Unidades do Exército Brasileiro. No meu escritório de Assessoria e Consultoria em Cachoeirinha realizei expediente diário por 06 anos, despachando os assuntos do Núcleo da Liga da Defesa Nacional de Cachoeirinha (LDN-Cach), do qual fui o fundador e primeiro presidente.

Sempre estive, no decorrer de minha carreira profissional, de forma paralela, envolvido com o mundo da literatura, tendo participado de coletâneas de poesias, crônicas e publicações de poemas em jornais e revistas diversas. Dentro do movimento literário sou membro da Casa do Poeta Riograndense, do Grêmio Literário Castro Alves e sócio fundador da Associação Pró-editoração à Segurança Pública (APESP), já na área da segurança, sou sócio fundador da Associação Brasileira dos Gestores de Segurança (ABGS-RS). Ocupei o cargo de Vice-presidente do Instituto de Ensino, Formação e Assessoria à Administração Pública (IDEFAAP). Possuo duas obras publicadas com os títulos: “Segurança Patrimonial para Vigilância e Guardas”, e “Segurança e Defesa Nacional”, esta fruto dos trabalhos acadêmicos realizados no período de faculdade. Tenho outras obras já escritas aguardando oportunidade para publicação, entre essas uma intitulada “Observatório Social – Crônicas”, sobre temas do cotidiano, os quais sempre me chamaram a atenção e expressados nos poemas que faço. Possuo um blogue e uma página na internet, onde publico matérias sobre assuntos diversos (políticos, acadêmicos, literários e sobre Segurança e Defesa) para continuar participando ativamente dos momentos históricos os quais estamos vivendo.

Aos novos brigadianos, gostaria de dizer que estar na reserva da Brigada Militar, não significa necessariamente estar na inatividade, pois penso que “inativo” é um conceito retrogrado e usado de forma equivocada sobre a condição de um momento de nossa vida, quando encerrada uma carreira profissional. A Reserva é o início de uma nova etapa de vida que ainda temos que experienciar. A busca da readaptação é necessária para a reinserção no mundo civil. Nesta condição, temos todas as possibilidades disponíveis de requalificação profissional e de exploração dos potenciais, já consolidados na carreira anterior, para a nossa realização plena como seres humanos e como cidadãos.

OBS. Este artigo foi redigido pelo autor e publicado no Jornal ABC da Segurança - Correio Brigadiano, Ano XVIII – nº 210 APESP, Pág. 11 – Novembro de 2012. Foram realizadas correções e atualizações no texto original, pelo autor, em Janeiro de 2018 e em Abril de 2020.