A FACE DO MAL ou O CARRINHO DE PLÁSTICO DURO - autobiografico
A FACE DO MAL ou O CARRINHO DE PLÁSTICO DURO
Numa carta escrita, sem saber escrever, mas com a ajuda da irmã mais velha o desabafo, não pedidos.
Meu choro é punido com o couro da cinta onde é acertada, e o pedido é ignorado, o colo não ocorreu e nem o carinho na cabeça.
Pergunto ao Noel por que ele abriu sua mão do cuidar de mim e me deixou na mão do destino torto, e se eu cantar terei como o fim a face externa da mão na boca, então resta rezar as hipocrisias dos hinos religiosos e escondido num canto escuro da mata cantar Clara Nunes.
Não fui para a pré-escola, não houve e não há explicação, mas aprendi a ler e escrever lendo gibis que ganhava da Isaura e a minha coleção foi vendida a troco de drogas, não importa falar que foi doado, mas doar algo de outra pessoa é roubo.
A reclamação por ter sumido com a minha coleção espancamento do pai que protegia o drogado de meu irmão, calo pois na confissão o meu pecado queria que um raio caísse na cabeça do progenitor e do irmão.
Um ano passado perfeitamente, no espancamento segurei o choro mesmo com dentes amolecidos, passei vontade do “Glub”, passei vontade do camarão do “gebara” e na minha fome sem dinheiro me alimentava de AAS INFANTIL.
Outra vezes queria uma moeda para um “ploc” a resposta um tapa na cara, achei o tal do “ploc” caído no pátio da escola e assim masquei o “ploc” pela primeira vez na vida.
Que viu a criança com a face roxa pegando um “ploc” e mascando, não quis saber o que ocorria, espalhou a todos que o filho do ‘formicida’ comia “ploc” do chão.
Sarro e não Bullying, troca línguas que come “ploc” do chão.
Mas naquele ano aos 6 anos sabendo que Noel não existia escrevi uma carta com a ajuda da bela irmã.
Passei pano no chão todos os dias, mesmo formando bolhas na mão, arrumei vitrine, sempre sim senhor e não senhora, mas parece que você Noel nuca me escuta e nas minhas crises de ódio 10 aves marias por pensar e deixar a vida e mais 10 por pensar em matar alguém.
Fui a missa, ajudei a cuidar da irmã mais nova, baixei a cabeça a ser xingado, e ter sido humilhado e orei por aquela pessoa, mas o Jesus não me ajudou, na violência e no sangue a correr o Jesus não me tirou a dor e nem Noel me veio ao auxílio.
Naquele ano abri o meu coração e falei tudo que tinha feito de bom e ruim,
Pedi um carro de plástico duro, ou um forte apache ou um zoológico.
A carta foi a minha esperança final.
Pedi de coração pedia para falar corretamente.
Pedi para saber o por que apanhava
Dia 25 de dezembro chega, com as minhas economias de moedas ganhas compro uma fita de balas para cada irmão, para meu pai e minha mãe.
A inda lembro a reação após meio século de cada um deles.
O presente era todas as minhas moedas transformadas em balas.
Aquele ano Noel trouxe o seu presente abro afoito, um barco de plástico mole, tinha barcos iguais a ele no mercadinho da esquina, inclusive Noel estava tão inspirado que uso o mesmo papel do mercadinho.
Meu irmão um carro a pilha que bate e volta
Meu irmão acima de mim um carro de bombeiro de plástico duro, a escada esticava, a parte da frente abria, alias era o carro que queria.
Meu irmão acima joga o carro longe, ele queria um moto que bate e volta, alvoroço, escuto meu pai falando que ia conversar com o Armelini, dono da loja de brinquedo, sai de casa e volta com a moto.
E o caminhão vermelho de plástico duro?
Meu irmão não queria de maneira alguma e ele passa para mim, o braço de plástico duro já havia perdido as rodas, barco com rodas?
Ninguém queria brincar comigo com um barco na terra. Brincava sozinho com ele no quintal, eu e os porquinhos da índia.
Choro escondido para não apanhar a cada humilhação dos primos e crianças da rua, tudo isso por causa de um barco de plástico. Sandra, Carla, Mi, Gerson, Flavio, Flavinho, os irmãos Pagans.
Levanta o sol para ir trabalhar, e cada um deles com a coragem do grupo de ter língua solto e me deixar com a alma no chão.
OI carrinho de bombeiro ali estava jogado em cima do guarda roupa, e ele vem para mim, o destino afinal não era torto, não foi Jesus que fez ele vir para mim, era apenas a birra de meu irmão que fez o carrinho vir para mim.
Meu melhor presente, um carrinho rejeitado, tão rejeitado como eu era pelas crianças da rua e na noite escura sem ninguém me ver chorava pela humilhação.
O carrinho que era refugo ficou chamado de lixo, e passei a brincar com o meu melhor presente de natal com os porquinhos, no barraco de mais de três metros esculpia buracos de apartamento, simulava salvamento dos porquinhos... Amava o Carrinho de plástico duro.
O destino torto pode se esconder, e um dia, meu irmão o dono do carrinho quis me matar, e subindo no barranco com um ferro de prender escravos tentou me matar, mas o destino torto me fez escorregar e assim meu melhor presente do mundo inteiro foi esmigalhado.
Não podia chorar, pois o choro era sinal de espancamento.
Odiei Jesus, Odiei Noel, Odiei destino torto, e ao contar a minha mãe:
“Vamos orar a Deus que tudo se resolve”; já odiava essa frase e nesse dia odiei mais ainda, que bosta é essa que no lugar de estender a mão e ajudar pedir para orar.
Semana passada sentado na janela de minha casa o fone toca, minha mãe:
“Tudo bem com você?”
“Muito triste e angustiado”
“Vamos orar a Deus que tudo se resolve, mas como você viveu em pecado com a borboleta de olhos verdes tem que procurar um padre e se confessar’
Não perguntou os motivos de minha angustia,
Se podia fazer algo
Por que me afastei da família,
Da minha janela pude ver o carrinho destruído pelo peso de prender em escravo, e quis ser o carrinho de plástico duro.
Reclamei ao meu pai; por falar mal de meu irmão uma jornalada da cara sem aviso... engoli o choro, mesmo com o gosto de sangue na boca, fui para o quarto entrei embaixo da cama, se jesus não ajudava, se meus pais não ajudava, meus amigos tiravam sarro de meus presente e minha fala errada, restava chorar embaixo da cama e pedir para que o destino torto tirasse a sua roupa e aparecesse como sendo o anjo mais pelo de Deus, aquele que brilha, aquele que na sua beleza tem a face do mal e essa face é bela e me levasse com ele para os infernos.. como orei para que isso ocorresse.
Queria morrer, cortar o pulso, overdose de comprimidos, pular da ponte, mas dormi e sonhei com o meu carro vermelho de plástico duro quebrado.
AS vontades não passam, as decepções não passam, o passando atormenta nas poucas horas de sono, mas a noite passada brinquei com o carrinho de plástico vermelho duro que nunca foi meu de fato mas que eu amei... e ninguém veio me socorrer.. acordei com vontade de voar...
André Zanarella 06-11-2018
(sem releitura, apenas escrevo um desabafo de minha infância)