1076-LANCHE PARA OS PRESOS
Elvira Colombarolli – Biografia – Cap. 16
Elvira era extremamente prestativa. Visitava frequentemente todas aquelas amigas mais ligadas, sempre oferecendo ora um pão caseiro, ora prato de doce, ora frutas da chácara. Não media esforço e sempre vinha a pé para a cidade. A Cadeia Pública de São Sebastião do Paraíso situava-se a dois quarteirões da Praça da Matriz, onde funcionava a Delegacia de Polícia com seis celas para o encarceramento dos presos, e algumas salas para a guarnição de oito guardas da policia. . Já fora um edifício imponente, mas devido à falta de conservação estava com paredes encardidas e a pintura manchada pelo efeito do tempo. Pouca gente ali ia cumprir a virtude cristã de visitar os presos. Em que pese humanidade dos delegados e dos carcereiros, ninguém dava à mínima para os encarcerados. Todos menos Elvira, que, dotada de fé religiosa ímpar, olhava com comiseração aqueles homens ali detidos. . Na ocasião da comemoração do dia de Santo Antonio, Elvira fazia questão de trazer café completo aos presos da cadeira de São Sebastião do Paraíso. Antes pedia autorização ao Delegado, bem como o número de presos. Pelas catorze horas, chegava Elvira com alguma companhia trazer sua incumbência aos presos. Traziam em grandes cestas de taquara as garrafas com café, leito, chocolate, e as diversas quitandas, bem como pães fresquinhos que ela mesma fizera na manhã daquele dia. Em algumas vezes, os presos eram liberados, saiam das celas e sob os olhares atentos da guarnição policial, rodeavam uma mesa e eram servidos nas suas respectivas canequinhas o delicioso café, chocolate, acompanhado de pães, roscas, biscoitos e outras guloseimas. Findo o lanche os presos, cujo numero variava entre catorze e vinte, agradeciam de modo afetivo aquela merenda especial, retornando pacienciosamente para suas celas. Enquanto residiu em São Sebastião, quer na chara, quer na própria cidade, para onde mais tarde transferiria sua residência, Elvira manteve esta visita que, por ser quase uma tradição, era aguardada com ansiedade pelos presos da cadeia publica da cidade.
ANTONIO ROQUE GOBBO e DARCY MOSCHIONI
Belo Horizonte, 21 de Junho de 2018.
Conto # 1076 da Série INFINITAS HISTÓRIAS