1074-PERSONALIDADE - ALGUNS TRAÇOS
Elvira Colombarolli – Biografia – Cap. 14
Elvira andava sempre na moda. Uma das vezes que me recordo ver minha mãe com cabelos penteados por volta de 1946. Era todo embutido de baixo para cima, circundando a orla cabeluda. Nos dias atuais aquele penteado lembra muito bem o mesmo usado pela cantora lírica espanhola, muito famosa, Montserrat Caballe ou Maria de Montserrat Concepcion Caballe. Mais tarde, seguiu a moda e cortou os cabelos curtos, o que lhe ficou muito bem no seu rosto de altas maçãs e pescoço elegante. Um fato marcante de Elvira era o seu bom humor. Nunca fechava a cara para suas visitas ou hospedes. Era agradável, e qualquer pessoa que fosse à casa da chácara era oferecido algo especial, de boa qualidade que possuía. Ninguém saia de lá sem tomar seu bom café ou comer algo que fazia na cozinha. Gostava de ouvir causos, histórias, adivinhações e piadas familiares. Uma adivinhação de sua predileção, que ela propunha sempre aos visitantes reunidos em momentos de lazer era a seguinte: “Um abade (um sacerdote que dirigia uma abadia, explicava) desconfiou que entre seus fiéis monges havia uma mulher disfarçada em monge. Como fazer para descobrir? Perguntar aos monges de nada adiantaria, pois a disfarçada não iria se revelar. Mandar que eles levantassem a batina também não iria resolver. Pensou, pensou, pensou e então chegou a uma conclusão. Tomou uma maçã, mandou que todos os monges (a disfarçada entre eles) se reunissem no refeitório e mandou que se sentassem nas cadeiras, numa simples fileira diante da qual se colocou.” Então, fazendo uma pausa, perguntou aos ouvintes: “Vocês sabem como o abade descobriu a mulher disfarçada em monge? Ninguém dos presentes soube responder. Então ela relatava o final de seu causo: — “O Abade Jogou a mação para cima, a fim de fosse cair sobre os colos dos monges”. Todos os monges, menos um, fecharam instintivamente as pernas, tal qual fazem os homens, unindo os joelhos, para segurar a maçã em seus colos, quando caísse. Todos, menos um, que separou os joelhos, como fazem as mulheres quando vêm um objeto cair em seu colo. Estava descoberta a mulher disfarçada em monge.!” Quando ia à cidade, para fazer compras na Casa Bueno ou no Clinio Queiroz — tecidos, linhas e aviamentos para as roupas da família — visitava as cunhadas Maria, Nena, Rosa, e sempre contente, trocava com elas notícias dos membros das famílias. E para elas trazia sempre um bolo, um pão ou um cestinho com quitandas, feitas por ela em seu fogão da qual muito se orgulhava. As visitas à sua mãe, viúva, eram mais raras, pois a distância entre as duas propriedades era grande, talvez uns dez quilômetros. E só as fazia em algum feriado, com Alpineu, que era muito querido pelos cunhados que, ao saberem que eles estavam lá, na “chácara de dona Rosinha” desciam da cidade para encontrá-los.
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ANTONIO ROQUE GOBBO e DARCY MOSCHIONI
Belo Horizonte,21 de Junho de 2018
Conto # 1074 da Série INFINITAS HISTÓRIAS