1063-NA FAZENDA MONTE ALTO

Elvira Colombarolli – Biografia – Cap. 3

As terras da Fazenda Monte Alto se estendiam por centenas de alqueires de terras de campos, morros, e vales. Cortadas por meia dúzia de riachos ou córregos de maior volume de água, e situavam-se no então desconhecido distrito de Guardinha, no município de São Sebastião do Paraíso, região Sudoeste de Minas Gerais.

Matas virgens, intocadas, campos transformados em pastos, e grandes plantações de café. Ao longe, pelas bandas do nascente, podia-se ver o casario branco da cidade de Paraíso. Ao norte, estendiam-se terras que eram marcadas como limites dos dois estados, Minas Gerais e São Paulo. Também na direção do norte estava o Morro da Mesa, uma formação muito diferente da morraria da região, pois seu topo era plaino como uma mesa e do tamanho aproximado de um capo de futebol. Lugar pitoresco, misterioso e importante, pois no seu centro exato passava a fronteira entre os dois Estados, marcada por um pequeno poste de cimento de pouco mais de meio metro de altura, e onde se podem ler as palavras registram a imaginária linha divisória.

A fazenda era importante, orgulho do proprietário Comendador João Pio de Figueiredo Westin, que a considerava a melhor de todas as suas — na ocasião, seriam dez ou onze — fazendas de café no município. Do Morro Alto saiam centenas de sacas de café, a riqueza da região e que proporcionava ao dono rendas extraordinárias. A recente lei da libertação dos escravos fora um golpe duro para os proprietários rurais, que usavam o serviço dos negros em larga escala. Por isso, a chegada de numerosas levas de europeus era importante, pois os “colonos” vinham substituir a mão de obra servil.

O trabalho nas lavouras de café era árduo, ressaltando que o mato a ser carpido era quase da altura dos trabalhadores. As dificuldades encontradas, como o sol causticante, os insetos, moscas, carrapatos, escorpiões, cobras e uma quantidade infinita de insetos que atormentavam dia e noite.

A comunicação era outro entrave e os nativos não entendiam o linguajar dos imigrantes. Mas o vigor era imenso. Os patrões eram severos para com os novatos. Trabalho de sol a sol, isto é, desde a manhãzinha até o anoitecer. Almoço era levado numa vasilha de lata, as quitandas e o café iam num embornal. Quando chegam do trabalho os homens estavam totalmente exaustos.

Descanso só aos domingos.

Todavia, cada família recebia pequeno trecho das férteis terras, para que quem quisesse cultivar para seu consumo arroz,

O trabalho daquelas pequenas eiras era feito pelas mulheres, que deixavam seus bebês de colo em locais sombreados, enquanto manejavam enxada, enxadão e outros utensílios agrários. Os filhos mais crescidos, conforme a idade (e o tamanho) também tinham de ajudar naquela lida doméstica, quando não acompanhavam o pai para trabalhar no cafezal.

Uma vida que não era muito diferente da vida dos escravos, libertados tardiamente no Brasil em 1888.

ANTONIO ROQUE GOBBO e DARCY MOSCHIONI

Belo Horizonte, 1º. De Maio de 2018

Conto # 1063 da Série INFINITAS HISTÓRIAS