Duas décadas de caminhada

Hoje fazem exatamente vinte anos que nasci. Passaram semelhantes a um furacão: rápidos, mas impactantes. Uma verdadeira viagem pelo tempo que está sendo bem marcante mesmo. Uma experiência única, irrepetível e fantástica!

Na tarde de 31 de outubro de 1997 (após exatos 480 anos que Lutero lançou suas 95 teses, nem um segundo a mais nem a menos) um dia que, para quase toda a população mundial era como outro qualquer (apenas mais um Halloween), para mim foi de extrema importância, pois, nessa data, foi dada a largada de uma grande caminhada que iniciei e ainda não sei até onde chegará: a minha vida. As únicas certezas que carrego comigo são de que o tempo é curto e a distância nem imagino qual seja, por isso procuro não desperdiçar nenhum instante.

Passado algum tempo após o início da caminhada, dei novos passos importantes: fui batizado; comecei a pronunciar minhas primeiras palavras; aprendi a andar, a cair e a me levantar também, para poder seguir em frente; “dei minhas primeiras pedaladas” e, por morar no sítio e não ter vizinhos com crianças de minha idade, tive uma infância um tanto quanto solitária, tendo convido basicamente com meus pais, meus avós paternos e meu avô materno que logo veio a falecer (salvo alguns poucos momentos em que saímos a passeio, quando recebíamos alguma vista ou em alguns casos em que eu ia posar na casa de alguns primos meus), no entanto esse fato não impediu que fosse uma época bem agitada com muitas brincadeiras, frutas nas árvores para comer (claro que não poderia faltar comida, não é?), televisão para assistir, um contato bem próximo da natureza, alguns pequenos serviços, e diversas outras coisas a fazer.

No ano de 2004, aos seis anos de idade, além do nascimento de minha irmã mais nova, tive uma das grandes oportunidades de minha vida. Pela primeira vez, pude adentrar os portões de uma escola – a Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Professora Angélica Amorim Pereira –, dessa vez não foi apenas um grande passo em minha caminhada, mas um verdadeiro salto. Na época, lembro-me que fiquei bastante entusiasmado e ao mesmo tempo com certo receio dessa nova experiência que estava por vir, mas mesmo assim iniciei os estudos no “jardim três”, lá fiz muitos amigos, conversei, brinquei bastante e escrevi minhas primeiras palavras. Fiz a primeira série, o terceiro ano, o quarto e, em 2008, o quinto. Esse último ano em que estive nessa escola foi muito importante para mim devido ao fato de ter sido finalista em um concurso de redação organizado pela Prefeitura Municipal de Assis o qual me proporcionou a oportunidade de, pela primeira e única vez (até o presente momento), ir à praia. Fui ao Guarujá acompanhado de minha professora, uma colega de classe (que havia sido premiada como primeira colocada), diversos ganhadores do município e pessoas responsáveis por coordenar e trabalhar na viagem. Foi mágico sentir aquela água fria e salgada do mar entrando em contato comigo, sem contar que conhecemos diversos pontos turísticos e históricos do local e um aquário com muito tipos de peixes e animais marinhos em geral. Além do mais, foi também em 2008, que ganhei meu primeiro celular, era um “tijolo” preto da Motorola que minha mãe usou durante seis anos e depois me deu (eu o usei durante um ano apenas porque, logo depois, veio a estragar. Era supermoderno: além de fazer ligação, mandava mensagens – bom, até que realizaria esses dois serviços se tivesse créditos – e ainda por cima possuía agenda telefônica. Era o sonho de consumo de todos! – ou não? É melhor deixar isso quieto...).

Em 2009, outro grande passo em minha caminhada foi dado, além do fato de ter ocorrido a minha primeira comunhão (em uma pequena capela perto de casa), passei a estudar na Escola Estadual Professora Leny Barros da Silva. Inicialmente foi constrangedor e até mesmo assustador chegar em um local quase que totalmente desconhecido, com pessoas estranhas principalmente aqueles “grandalhões” da terceira série do ensino médio, mas lentamente fui me adaptando a essa nova situação. Assim se passou o sexto, o sétimo e o oitavo ano. Já no nono, em 2012, foi um ano cheio de surpresas: fiquei como terceiro colocado em um concurso de redação da minha cidade (no qual recebi como prêmio um celular); por incrível que pareça, mesmo não gostando muito de matemática, conquistei um certificado de menção honrosa na OBEMP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas); pela primeira vez viajei – com a escola – para São Paulo (fato esse que veio a se repetir nos anos de 2013, 2014, 2015 e 2016); também é nesse ano que foi realizada a minha crisma (na igreja matriz de Platina – SP); foi nessa época que ocorreu minha “formatura de Ensino Fundamental” e; não menos importante, a internet finalmente chegou a minha casa – até hoje não é aquilo que possa se chamar “nossa, mas que internet fantástica!”, no entanto é a única opção que tenho no momento e permite que eu faça tudo o que é necessário no meu dia a dia, ou quase tudo (se não quase tudo, pelo menos boa parte do que preciso, em todo caso, pelo menos posso dizer que é possível fazer algo com ela, eu acho) –. Em seguida, novos avanços em minha caminhada: início dos estudos no ensino médio; realizo dois anos de estágio na sala de informática da minha escola (2014-2015) – o qual foi uma experiência muito importante e construtiva –; muitos estudos com o intuito de passar nos vestibulares e obter boas notas no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e participei do 15º encontro do Grupo de Jovens Escalada São Nicolau (uma experiência fantástica em minha vida que me proporcionou a oportunidade de ver que eu precisava – e sempre precisarei – melhorar em diversos aspectos da minha vida, realmente foi algo que me fez/faz refletir sobre diversas atitudes que eu tinha/tenho. Sou muito grato a esse grupo, por isso, sempre que posso, participo dele e ajudo naquilo que está em meu alcance como um modo de tentar retribuir, ao menos em parte, as experiências que esse encontro me proporcionou).

Já no final de 2015 e início de 2016, houve a “epifania”, a grande descoberta, nova mudança de rotas na caminha, um processo que até hoje não se concluiu por completo e, provavelmente, creio eu, que infelizmente (ou não?) ainda demorarei para me acostumar com isso: descobri que não possuo o pleno controle sobre minha vida, que não posso escolher tudo do jeito que quero, percebi que Deus, no qual já acreditava desde que me lembro por gente, sim Ele, somente Ele (e mais ninguém!) tem o poder sobre tudo e todos, apenas quando me deixo ser guiado plenamente por Ele é que posso ser realmente feliz e realizado como ser humano. Apesar de ter ouvido isso diversas vezes na igreja, em casa e em pregações precisei “sentir na pele” para realmente poder entender e aceitar este fato. (Acredito que isso faz parte da natureza do ser humano: em muitos casos não basta as pessoas dizerem determinadas coisas, muitas vezes, na maioria das vezes, precisamos vivencia-las para de fato entende-las!). Digo que ainda não me acostumei muito com isso – com o fato de não conseguir, por mim mesmo, controlar toda a minha vida –, porque muitas vezes, em minha teimosia e ignorância, tento tirar Deus do lugar d’Ele (que é no centro de tudo) e, é claro, “quebro a cara!”. Mas, apesar de ainda precisar evoluir muito nesse sentido, sei que já melhorei bastante em diversos aspectos. Essa percepção – da necessidade de uma mudança – se deu durante a realização dos vestibulares e quando iniciei as aulas na graduação, principalmente nessa última estou percebendo o como sou tão frágil e indefeso sem Deus sendo minha base.

No decorrer desses 20 anos muitas pessoas importantes passaram e estão passado por mim (sejam parentes, amigos, colegas de classe, professores, pessoas que encontro nos mais variados lugares por onde passo ou apenas conhecidos), algumas – com as quais não mais convivo – não fazem falta nenhuma atualmente, pelo contrário, foi melhor terem ficado no passado, já outras... fazem uma falta “danada”, é como se parte de mim tivesse ido embora com elas e, ao mesmo tempo, algo delas houvesse ficado comigo. É interessante notar essa capacidade que algumas pessoas possuem (não todas, infelizmente) de deixarem boas marcas na vida da gente, de mudarem o nosso modo de ser, de agir, de pensar... enfim, de contribuírem de modo muito positivo na nossa formação como ser humano. Essas pessoas carregam uma grande luz dentro de si (Deus) e sabem muito bem como leva-la a todas as pessoas que as cercam. São seres humanos incríveis! Espero eu um dia ser assim também... Mas, de todo aqueles com os quais tive contato, sem sombra de dúvidas, a família é o mais importante: são aquelas pessoas que fazem de tudo para me verem bem, ajudam-me sempre que preciso e nunca me abandonam apesar de alguns desentendimentos que ocorrem no cotidiano. A minha família foi o melhor presente que Deus me deu, a maior, melhor e mais completa escola na qual eu poderia ser matriculado.

Logicamente que essas breves palavras são muito pouco (pouquíssimo! Quase nada!) para descreverem tudo o que vivi e aprendi até o presente momento. Muitos assuntos foram deixados de lado como: os mais variados tipos de brincadeiras que já fiz no sítio em meio às arvores, animais e com amigos; a primeira vez que fui ao cinema e ao teatro; a época em que comecei a realizar serviços no sítio (como capinar, ajudar afazer cerca, tirar leite e trabalhos afins); àquelas vezes em que fui na Feira da Aprumar; o falecimento de meu avô materno e de minha avó e da bisavó paterna; os mais variados cursos que já realizei e ainda estou realizando presenciais e EAD; o primeiro aparelho de DVD (com karaokê e videogame) que eu e minha família compramos no ano de 2007 (foi realmente muito divertido de início – era muito “top” mesmo –, mas hoje, com a presença do computador, ele ficou meio de lado); a primeira vez em que eu fui a um show da dupla Cacique e Pajé (não que eu tenha gostado muito, mas...) e da Eliane Ribeiro; a compra do microcomputador em 2010; as aulas de violão que fiz nos anos de 2012 e 2013; meu primeiro passeio na rua sem a presença de meus pais; o carrinho de controle remoto que ganhei de presente em um de meus aniversários; os passeios realizados com minha família para Quatá (SP), Abatiá (PR), Candido Mota (SP), Paraguaçu Paulista (SP), Platina (SP) e Maracaí (SP); os momentos difíceis pelos quais eu e minha família passamos devido à problemas com doenças, internações e cirurgias; algumas romarias em tive a oportunidade de ir para Aparecida do Norte – SP; as duas peregrinações (2016 e 2017) realizadas para o Santuário de São Miguel Arcanjo (Bandeirantes – PR); o acidente de moto e o de carro ocorridos em 2016; as vezes em que participei do DNJ (Dia Nacional da Juventude); a conquista de minha primeira habilitação e de minha moto; a primeira vez que fui sozinho a uma festa, as apresentações de trabalho em congressos da faculdade e; diversas outras aventuras que vivi e ainda estou vivendo durante esse meu trajeto pela vida.

Bem, como diz o Evangelho de São Lucas, capítulo 2, versículo 40 (Lc 2, 40): “O menino ia crescendo e se fortificava: estava cheio de sabedoria, e a graça de Deus repousava nele”. Bom, talvez eu ainda não tenha tanta sabedoria assim e nem tenho dado devido valor à graça de Deus como Jesus Cristo assim o fez, mas estou crescendo e melhorando muito, posso não estar como eu gostaria (e deveria), mas tenho certeza de que hoje estou melhor do que antes, bem melhor, bem melhor mesmo! Acredito que o mais importante é lembrar o que dizia Santa Tereza de Calcutá: “Quando não conseguir correr através dos anos, trote. / Quando não conseguir trotar, caminhe. / Quando não conseguir caminhar, use uma bengala. / Mas nunca se detenha” e viver do modo como afirmava William Shakespeare: plantando meu próprio jardim e decorando minha alma, ao invés de ficar esperando que alguém me traga flores, com isso eu aprenderei que realmente posso suportar, que realmente sou forte, e que posso ir muito mais longe depois de pensar que não posso mais e que realmente a vida tem valor e que eu tenho valor diante da vida.

Obs: Outra coisa extremamente importante que a vida me ensinou é que os grandes milagres, os melhores momentos, as gigantescas alegrias e as maiores aprendizagens não estão nos grandiosos acontecimentos, nem nos momentos de maiores sucessos e menos ainda quando chegamos ao tão sonhado e almejado “topo” (seja lá onde for que ele se encontre, pois em cada época de minha vida acredito que ele esteja em determinado um lugar, mas logo depois descubro que me enganei). Na verdade, o melhor da vida está em aproveitar cada momento como ele realmente é: único, irreversível e, como disse a pouco, irrepetível. Sim! O tempo passa e não volta mais, por isso cada segundo da vida, cada detalhe, cada acontecimento por menor e mais insignificante que aparenta ser é o melhor momento de ocorrerem milagres, aprendizagens e, é claro, também é tempo de ser feliz.

31 de outubro de 2017