Gabriella Gilmore - Uma história real
Olá pessoal.
Estou compartilhando um de meus trabalhos feitos na faculdade no ano de 2017.
Esse tem o caráter pessoal, onde a universidade pediu que fizéssemos um "profile" para entender os motivos que levaram, nós alunos, a escolhermos o curso de História na universidade.
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Síntese - Uma história real
Resgatar lembranças do passado nem sempre foi fácil, mas uma coisa eu não posso negar ou me esquecer, é o fato deu sempre carregar comigo a criatividade,
a hiperatividade, o amor pelo novo e por papéis. Eu amava brincar de escritório.
Numa época em que não tínhamos acesso a tecnologia pelo fato de não possuirmos muito recurso financeiro, o meu computador e telefone eram coisas totalmente fruto da minha imaginação. Bastava pegar algo com teclas e eu "navegava" por horas.
Eu gostava muito também de pegar os papéis de jogos nas casas lotéricas. Era o roubo mais prazeroso que uma criança poderia praticar.
Aquela corrida, com as mãos enfaradas de papéis, era o medo mais gostoso de sentir. Crianças... Rs.
Tive uma infância muito gostosa, apesar de presenciar fatos violentos dentro de casa entre meus pais. Porém, tive muita sorte de ter nascido numa família recheada de tios e primos. Então, eu dividia muito bem o meu tempo entre estudar e brincar com meus amigos e parentes.
Pulando bastante os capítulos da minha vida, eu me recordo o pavor que eu tinha em me apresentar na frente da sala quando algum trabalho precisava ser debatido em classe. Como esse medo foi bastante prejudicial para minha vida escolar e acadêmica (eu estudei Pedagogia por 2 semestres), eu senti necessidade de procurar ajuda psicológica para superar esse "trauma", e nas análises, eu consegui me lembrar o motivo com que me fez ter problemas com o público escolar. Na minha alfabetização, quando sentávamos na roda de leitura, eu tinha problemas para ler, e gaguejava um pouco por causa da ansiedade, e a professora sem paciência me dava tapinhas na cabeça ordenando que eu parasse com o gaguejo e lesse "direito". Isso ficou encravado no meu subconsciente, e reprogramar toda essa história passada me levou bons meses de terapia.
Hoje, eu não vejo isso como um problema, mas sim como uma oportunidade para crescer como ser humano, e sei que hoje estarei mais habilitada para lidar com crianças com dificuldades de aprendizado, porque eu senti na pele como é ter suas peculiaridades violadas.
Voltando a minha infância, eu me lembro de períodos maravilhosos que é impossível esquecer:
1° é o cheiro da maresia de Vila Velha - ES e a rua da minha tia Cidina cheia de sementes vermelhas que os capixabas chamavam de chapolin.
2° as brincadeiras de cabaninha na beira do Rio Doce, na Ilha dos Araújos com meus primos e minha irmã mais nova, numa época em que o rio ainda era limpo, e sua areia era clarinha, parecia uma praia do campo. E quando a fome apertava, a gente sabia que a tia Miriam estava preparando boas receitas caseiras. Hummm que fome.
3° as brincadeiras no barranco vermelho atrás da casa da tia Leah, em Timóteo - MG. Era a desobediência mais engraçada que uma criança podia fazer. Eu lembro como a nossa tia ficava furiosa de nos ver chegando ao final da tarde todo lamelado de barro vermelho, e marcando o quintal limpinho com pisadas imundas. Por fim, a gente acabava fazendo isso tudo de novo porque era muito engraçado ver a tia brava.
Ainda antes dos meus setes anos, eu consigo puxar da lembrança duas festas nacionais em que meu pai estava presente: Era a festa junina na chácara da irmã dele (minha tia), com aquela fogueira enormemente linda e muito refrigerante guaraná. E o natal, quando meu tio Evaldo se vestia de papai Noel, e do nada surgia pela janela, à meia noite, trazendo exatamente o presente que eu tanto queria. Naquela época eu ainda acreditava na existência do bom velhinho, então era muito mágica aquela noite natalina. Inesquecível!
Eu estudei no Nelson de Sena do pré-primário até a quarta série. Minha mãe precisou me trocar de escola e me colocar no colégio Estadual onde minha irmã caçula estava estudando, tudo para que eu a protegesse do bullying (na época esse ato nem tinha esse nome) que ela vinha sofrendo desde então. E só sai de lá quando conclui o ensino médio.
Sempre fui muito querida em sala, e um pouco irritante também pelo fato de ser muito hiperativa e conversava um pouco fora de hora. Entretanto, era boa aluna, que atingia as metas e respeitava os professores. Não consigo me lembrar de ter ido à sala de diretor. Talvez eu tenha até ido, todavia realmente não me lembro.
Desse período escolar, os que mais me marcaram foram o pré-primário no Nelson de Sena, ainda na época da diretora Lagares, uma senhora conservadora e muito severa. Lembro-me de ver alguns amigos de joelho no milho por fazer bagunça em sala de aula. Era o castigo da época. Lembro também da disciplina e o respeito à bandeira e hino nacional. Toda segunda-feira nós iniciávamos o dia enfileirados cantando em conjunto o hino nacional. Era a coisa mais linda e emocionante de se ver. Uma época em que o Brasil tinha pessoas que se colocavam de pé, em verde e amarelo. Espero que um dia isso ainda possa ser resgatado, e as escolas e universidades passam a amar o país, da mesma forma que idolatram partidos políticos.
E o outro período memorável foi o ensino médio, no qual eu tive maior consciência de mim mesma, do meu valor perante meus colegas e perante a sociedade. Foi quando eu percebi a importância de cativar boas pessoas ao nosso lado, pois a nossa vida é feita de capítulos, e acredito que vale a pena carregar os melhores atores para mais cenas da vida real que virão. E com isso, cultivei grandes amigos que carrego até hoje. Oh quanta saudade eu tenho de assistir filmes com eles, descobrir novas bandas americanas, e ter o apoio deles sobre minhas diversas estórias que eu escrevia em cadernos brochurões, porque foi aos quinze anos que comecei a criar roteiros e continuações de filmes. Eu amava escrever. Ainda amo, na verdade. (Explicando o pseudônimo Gilmore devido as minhas publicações em sites no Brasil).
Nessa mesma época, eu comecei a perceber o quanto de confiança eu passava para as pessoas. Quando eu saia com minhas amigas, ou íamos dormir na casa de alguma colega em comum, os pais normalmente pediam para eu tomar conta delas, como se fosse a irmã mais velha. E depois fui percebendo que eu era boa ouvinte e conselheira, e comecei a cogitar na possibilidade de um dia estudar Psicologia na faculdade. Foi um dos primeiros cursos que me veio à mente, entre a Medicina Veterinária e Botânica. (nem sei se existe curso superior de botânica hahaha)
Tenho grande empatia pelo outro, e acredito que isso me atrai até as pessoas. Fico orgulhosa por ter este dom.
Quando completei 18 anos, eu não tive muita empolgação ou estímulo da minha mãe em ir para a universidade. Minha mãe, muito religiosa, fantasiava uma vida para mim no qual eu me casaria cedo e iria ser dona de casa. Que sonho é esse de se ter para uma filha? Nada contra o casamento, mas pular fases eu não acha muito comum ou sadio. E por ter sido literalmente empurrada para o mundo capitalista onde a gente é sugada 100% no trabalho, eu perdi um pouco o foco sobre ir para a faculdade, e acabei mergulhando no campo de trabalho.
Desde então, raramente fiquei desempregada, coisa que eu me orgulho muito.
No entanto, como eu sempre fui muito ativa, eu arrumava cursos para fazer. Estudei computação, digitação, inglês, filosofia, teologia, francês e música.
E em 2009, quando retornei de uma viagem frustrada de Campinas - SP, eu resolvi enfrentar o vestibular e tirar do meu bolso a grana para o curso superior.
Escolhi Pedagogia pelo fato de não ser caro. Sempre me diziam para eu fazer Letras, porque eu sabia inglês e gostava de escrever, mas nunca achei graça nesse curso, e como gostava muito de Psicologia, eu pensei que talvez Pedagogia poderia me abrir um pouco a mente e o leque, e de alguma forma eu também estaria ajudando alguém depois de formada.
Porém, ao final do segundo semestre, eu fiquei desempregada, e temerosa em não encontrar emprego rapidamente, eu acabei trancando a matrícula e fui para Brasília - DF. Lá, eu não consegui voltar para a faculdade. Era quase impossível morando tão longe dos lugares. Contudo, nunca desisti de estudar.
Quando voltei para Valadares, eu sentia uma necessidade desesperada em massagear meu cérebro com novos conhecimentos, e cheguei até a pensar em cursar Direito se eu conseguisse bolsa, mas Deus foi tão cuidadoso comigo que me livrou dessa (um dia talvez eu lhe conto pessoalmente o motivo) e me deu de presente o curso de História, pelo qual estou extremamente apaixonada, e me pergunto até hoje o motivo de não tê-lo cursado antes.
Tem tudo a ver comigo. Eu gosto de saber dos fundamentos das coisas, sou curiosa, gosto de pesquisar e sou esforçada. Adoro ensinar e sou divertida. Logo eu já fico imaginando como serão minhas aulas. E peço a Deus que me dê graça quando eu me formar e for lecionar, porque quero impactar a vida das pessoas da mesma forma que fui impactada por bons professores ao longo de minha vida, como a memorável professora de História da Educação, Ana Lídia, no curso de Pedagogia.
Bom, eu acho que agora é só esperar ansiosa pela conclusão dessa nova etapa da minha vida, e aguardar a oportunidade de fazer algo pela Educação e pelas crianças do meu país, porque o futuro da nossa nação é o agora.