Mundo das solidões
Já era abril, no calendário feitor,
eu pintava em letras de forma
os escuros e as solidões;
nos cenários daquele outono ressecado,
o desenho de uma noite sem vida nenhuma;
um passado feito um espírito,
vagando pelo corredor deserto;
vestes maltrapilhas,
a alma rasgada
por todas essas lembranças
que me vinham, cada vez mais;
os mortos de sempre pela madrugada
e seus rostos tristes,
sentados pela escada;
mil anos depois,
sonhava ali, o mesmo sonho;
andava de preto pelas cidades ,
ninguém, me conhecia mais;
eu era o dono, das minhas solidões;
tinha um mar que batia violento
e levava de mim meu cheiro na maresia;
Eu andava pelo Arpoador,
e pelas madrugadas
vencia minhas marés
e minhas muralhas;
a lua era companheira;
lá fora a alma vagava
pelos corredores batia suas portas;
meu corpo se arrastava pelo vazio, pelas pedras,
por uma dose de um vinho seco
que lhe cortasse o beijo desbotado,
que lha atravessava o coração,
feito um punhal afiado;
eu era dono de todo o luto, e daquele mal,
carregava o peso daquelas solidões pelas cidades;
por ali o mundo das solidões, não tinha forma certa;
nossos rostos tristes, se marcavam pelo tempo;
eramos sós;
o coração despedaçado se banhava
com o sal do mar;
meu olhar vivia
amava sofria,
feito um disfarce, mero algoz,
depois no mundo das solidões, morríamos outra vez,
a meia lua, meio amor, a meia voz.
(Edmilson Emilio Cunha)