Pretty boy
Com as chuvas continuadas, fofinha que era, a terra baixou, formando uma leve depressão sob a mangueira ao lado da coberta, onde se ressalta uma pedra escura, ovalada, de cerca de uma arroba de peso.
Mais que para lhe segurar sua alma, serve como lembrete permanente de que ali jaz o amigo Pretty, que viveu seus doze anos em nossa companhia, e, jazendo hoje, onde muito lhe aprazia.
De aspecto assustador, sobretudo quando latia, mais doce que Pretty, porém, nem a ambrosia se jactaria. Obediente, com exceção da aração quando a bóia, pela paciente e carinhosa mão de mamãe, lhe era servida e logo sorvida, sabia, sim sabiamente sabia, o que era ser vida.
Dele, cada um de nós, pais, filhos, visitantes, poderia ter um rosário de histórias, cujo primeiro mistério, por sinal, gozoso, foi todo contemplado e orado pela mana Brígida, que o trouxe de Santa Catarina, ainda juvenil, mesmo sem pedigree, lembrança que certamente e cegamente ainda lhe sorri.
E que gosto nos deu, sempre de olhos fixos e meigos no eventual interlocutor, perscrutador, humilde, um senhor.
Dos momentos mais emblemáticos de sua lealdade ficou em mim fotogravada aquela pose sua, há pouco mais de dois anos, diante do sllente ataúde de papai, a desoras na madrugada, velado sob a aconchegante coberta quintalícia. Com todo o respeito aos caninos, e às nossas cãs já de velhos meninos, quanta expressão de sóbria tristeza e solidariedade na alma daquele Pretty boy...