O Retrato de Raimundo João: foto e grafia dele mesmo.
“Sou Raimundo João Cardoso, (R J Cardoso), Poeta e escritor. Publiquei nas décadas de 70, 80 e 90 artigos e crônicas em diversos jornais cariocas como Última Hora, O dia e O Globo. Ao longo do tempo, por iniciativa própria, escrevi Mensageiros de Gandhi, O Filósofo Jesuíta, Na Cauda do Cometa e Memórias Nordestinas. Cenário das Artes, Amor para Sempre, Castelo dos Sonhos e “CASA DE FAMÍLIA”. Participei de publicações das antologias da Editora Litteris: Amor e Paixão – o erotismo na Literatura, Contos e Poemas do Brasil, Amor, Razão de Viver e Dicionário Bibliográfico dos Escritores Brasileiros do Ano 2000.
Segundo filho de família desprovida economicamente. Fui criado com todo o desconforto e insegurança que oferece tal condição. Fui sempre um menino muito estimado. Meus pais eram mineiros e ensinavam-nos para que seguíssemos caminhos abertos por nós mesmos, esperando que todos encontrassem, mais tarde, a felicidade.
Nasci pequeno, com dois quilos e meio, no exato momento em que minha mãe, Josefa Judithe Fagundes, deixava a lavoura de arroz no fim do dia rumo à nossa casa. Em meio a um temporal, não mais que de repente, ela me viu sustentado apenas pelo cordão umbilical e quase levado pela enxurrada; o que teria acontecido não fossem tuas santas mãos. Meu pai, Saturnino Fagundes, o traço hereditário mais evidente que dele herdei foi à arte musical: era um bom violinista.
Meu avô paterno falecera de enfarto do miocárdio. Trago dele a vaga lembrança de um senhor de idade elevada, vestindo terno preto e naturalmente de cabelos grisalhos. Era meu avô muito prestativo com todos nós, essa uma postura comum à família de meu pai. Todos eram corteses, magnânimos, desvelados, mas longe, sem nos dispensar muito estimulo, afeição e carinho de que todas as crianças gostam e necessitam para uma vida feliz. Meus avós maternos eu não conheci, nem mesmo através de fotografia.
Meu pai, de baixa estatura e cabelos encaracolados, era muitíssimo bom, mas muito tímido. Sempre gostei do contato de sua mão na minha. Sentia-se vitorioso no trabalho quando um galho de seu pé de café amanhecia florido. Sua parca economia só permitia que ficássemos naquele ermo, distante de tudo, na periferia de um povoado de nome SERICITA, no estado das Minas Gerais, onde passei a maior parte de minha infância, nas proximidades de ABRE CAMPO, onde nasci, numa fazenda de propriedade dos Coelhos. Fazendeiros conhecidíssimos e respeitados na região pela dignidade com que tratavam seus trabalhadores. Lembro-me, como se fosse hoje, das visitas às outras fazendas, onde me deparava e ficava estarrecido com trabalhadores sovando o feijão ou o arroz nos terreiros. Busco e posso rever no fundo da memória todos de calças listradas e botas de canos longos caminhando sobre os cereais.
Meu pai era para mim o homem mais perfeito, meu herói.
Minha mãe era de baixa estatura, mede cerca de um metro e cinquenta, é magérrima e assim permanece até hoje.
Como na infância eu e meus irmãos ficávamos diretamente sob sua tutela, nós a víamos como uma mulher maravilhosa, o que na verdade era. Passavam-nos despercebidas suas duras palavras. Minha admiração por ela era tão grande, que compensava, me levou a querer ser fazendeiro dono de grandes rebanhos de corte e leiteiro. Tanto que quando alguém me perguntava o que eu queria ser quando eu crescesse, sem titubear, respondia:
“Fazendeiro”!
Instante após ela acrescentava com certa desconsideração: “Mas fazendeiro, meu filho”, logo eu percebia que o significado de ser fazendeiro não era muito bom para ela; ai me elevava a aspiração e eu respondia:
“Quero é estudar para ser doutor”
Meus irmãos eram ótimos comigo e vivíamos todos numa perfeita harmonia. Meu irmão Adão era muito bom para comigo, mostrava-me muitas coisas e cuidava de mim como se cuida de uma joia: dispensando-me muito carinho.
Encontrávamo-nos, todos, no começo da vida, quando tudo era mil maravilhas compreender e aprender o novo. Não entráramos ainda no caminho torto dos homens. “Não havíamos entregado a vida ao espancamento mental, que gera reação de igual intensidade” para viver dignamente.
Num cantinho da sala de minha casa, onde hoje improvisei meu escritório, está o computador no qual escrevo estas poucas palavras, lá, bem no fundo do meu inconsciente, coloquei um quadro contento fotografias, que se encontram amareladas pelo tempo, de meus pais, Adão, eu, Expedito, José, Geraldo e Eva, respectivamente, quando tínhamos dez, oito, sete, cinco, quatro e três anos. Éramos seis criaturas lindíssimas e saudáveis. Mentalizo a velha fotografia e me emociono. O que nos reservou a vida! Quantas lutas para não sofrer e quantas palavras em vão proferidas! Por conta disso, quando olho um menino, imagino quantos obstáculos ele terá que transpor para sobreviver com dignidade... São rápidos momentos de fragilidade, devido aos transtornos que na vida passei.
Como se percebe, foi difícil essa infância. Eu chegava avidamente a adolescência, como a própria palavra define, é uma travessia de muito sofrimento. Classifico-a como um período de tortura e que se eu tivesse de voltar às descobertas e as revoltas não gostaria jamais.
Com quinze anos, sem ainda nada ter estudado, apaixonado pelos livros aprendi a ler e escrever. Por conta disso, fui convidado para trabalhar no armazém de secos e molhados do meu amigo JOÃO MARIANO DE QUEIRÓS em Sericita - antes, porém, fui peão de boiadeiro, passando por Contagem, Caiaca, Ponte Nova, Rio Casca, Abre Campo e, finalmente, Sericita. Eu deixava a vida de lavrador para na cidade viver. Confesso que senti saudade do aconchego de minha família que, apesar de desprovida financeiramente, era abastada de amor e carinho.
No meu segundo dia de trabalho, pensei em estudar, mas o trabalho no armazém ficaria prejudicado, uma vez que suas portas se fechavam às 21 horas e meu contrato, apesar de verbal, dizia que eu trabalharia desde a hora de sua abertura até este horário.
Depois de três anos, eu disse ao JOÃO que ia morar no Rio de Janeiro e ele não se contrapôs. No mês seguinte, pagou-me tudo que devia, me indenizou pelo tempo de serviço e para a Cidade Maravilhosa eu parti sem conhecer uma vivalma. Morei na Estrada do Cambota - em Guadalupe - num pobre barraco no morro, juntamente com alguns desconhecidos, período em que fui operário da construção civil em Engenho da Rainha. Tempos mais tarde fui morar no bairro de Mesquita, ate então município de nova Iguaçu. Lá conheci uma família procedente de minha terra cujo filho mais novo, Antônio Cordeiro, me levou para trabalhar no Moinho Fluminense, hoje com outra denominação social, onde permaneci por mais de um ano.
Em 1972 ingressei no Instituto de Resseguros do Brasil - hoje também com outra denominação - como empregado de uma prestadora de serviços cujo nome não posso precisar, antes, porém, passei pelo Hotel Copacabana Palace, Nero Figueiredo, Fábrica de Estopas São Luiz Durão, Moinho da Luz, etc. Em primeiro de agosto de 1975, ingressei no quadro do IRB, em 1986, fui eleito para a diretoria de Comunicações do Sindicato dos Securitários do Rio de Janeiro, mandato que cumpri com dignidade e presteza que a categoria merece, até 1989. Depois retornei ao IRB e ajudei na fundação do Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Resseguros (SINTRes). E na instituição IRB - fundada pelo Doutor JOÃO CARLOS VITAL, no governo de Getúlio Vargas, em 1939, - permaneci até outubro de 1995, quando fui demitido junto com outros companheiros por um famigerado Plano de Afastamento Voluntário, chamado PAV. No ano de 2004, ajudou reorganizar a administração do Condomínio do Bloco 02 B do Parque residencial Santa Cruz até o ano de 2009, depois me lancei candidato a síndico e fui eleito com mais de 50% dos votos válidos numa disputa bastante acirrada, fui eleito por 04 mandatos, e exerci com dignidade, ética e transparência a função de 2009 a 2017, ano em que me decidi não mais trabalhar para o condomínio, que foi entregue todo reformado do ponto de vista arquitetônico e educacional; criou-se harmonia entre moradores.”
“Sou Raimundo João Cardoso, (R J Cardoso), Poeta e escritor. Publiquei nas décadas de 70, 80 e 90 artigos e crônicas em diversos jornais cariocas como Última Hora, O dia e O Globo. Ao longo do tempo, por iniciativa própria, escrevi Mensageiros de Gandhi, O Filósofo Jesuíta, Na Cauda do Cometa e Memórias Nordestinas. Cenário das Artes, Amor para Sempre, Castelo dos Sonhos e “CASA DE FAMÍLIA”. Participei de publicações das antologias da Editora Litteris: Amor e Paixão – o erotismo na Literatura, Contos e Poemas do Brasil, Amor, Razão de Viver e Dicionário Bibliográfico dos Escritores Brasileiros do Ano 2000.
Segundo filho de família desprovida economicamente. Fui criado com todo o desconforto e insegurança que oferece tal condição. Fui sempre um menino muito estimado. Meus pais eram mineiros e ensinavam-nos para que seguíssemos caminhos abertos por nós mesmos, esperando que todos encontrassem, mais tarde, a felicidade.
Nasci pequeno, com dois quilos e meio, no exato momento em que minha mãe, Josefa Judithe Fagundes, deixava a lavoura de arroz no fim do dia rumo à nossa casa. Em meio a um temporal, não mais que de repente, ela me viu sustentado apenas pelo cordão umbilical e quase levado pela enxurrada; o que teria acontecido não fossem tuas santas mãos. Meu pai, Saturnino Fagundes, o traço hereditário mais evidente que dele herdei foi à arte musical: era um bom violinista.
Meu avô paterno falecera de enfarto do miocárdio. Trago dele a vaga lembrança de um senhor de idade elevada, vestindo terno preto e naturalmente de cabelos grisalhos. Era meu avô muito prestativo com todos nós, essa uma postura comum à família de meu pai. Todos eram corteses, magnânimos, desvelados, mas longe, sem nos dispensar muito estimulo, afeição e carinho de que todas as crianças gostam e necessitam para uma vida feliz. Meus avós maternos eu não conheci, nem mesmo através de fotografia.
Meu pai, de baixa estatura e cabelos encaracolados, era muitíssimo bom, mas muito tímido. Sempre gostei do contato de sua mão na minha. Sentia-se vitorioso no trabalho quando um galho de seu pé de café amanhecia florido. Sua parca economia só permitia que ficássemos naquele ermo, distante de tudo, na periferia de um povoado de nome SERICITA, no estado das Minas Gerais, onde passei a maior parte de minha infância, nas proximidades de ABRE CAMPO, onde nasci, numa fazenda de propriedade dos Coelhos. Fazendeiros conhecidíssimos e respeitados na região pela dignidade com que tratavam seus trabalhadores. Lembro-me, como se fosse hoje, das visitas às outras fazendas, onde me deparava e ficava estarrecido com trabalhadores sovando o feijão ou o arroz nos terreiros. Busco e posso rever no fundo da memória todos de calças listradas e botas de canos longos caminhando sobre os cereais.
Meu pai era para mim o homem mais perfeito, meu herói.
Minha mãe era de baixa estatura, mede cerca de um metro e cinquenta, é magérrima e assim permanece até hoje.
Como na infância eu e meus irmãos ficávamos diretamente sob sua tutela, nós a víamos como uma mulher maravilhosa, o que na verdade era. Passavam-nos despercebidas suas duras palavras. Minha admiração por ela era tão grande, que compensava, me levou a querer ser fazendeiro dono de grandes rebanhos de corte e leiteiro. Tanto que quando alguém me perguntava o que eu queria ser quando eu crescesse, sem titubear, respondia:
“Fazendeiro”!
Instante após ela acrescentava com certa desconsideração: “Mas fazendeiro, meu filho”, logo eu percebia que o significado de ser fazendeiro não era muito bom para ela; ai me elevava a aspiração e eu respondia:
“Quero é estudar para ser doutor”
Meus irmãos eram ótimos comigo e vivíamos todos numa perfeita harmonia. Meu irmão Adão era muito bom para comigo, mostrava-me muitas coisas e cuidava de mim como se cuida de uma joia: dispensando-me muito carinho.
Encontrávamo-nos, todos, no começo da vida, quando tudo era mil maravilhas compreender e aprender o novo. Não entráramos ainda no caminho torto dos homens. “Não havíamos entregado a vida ao espancamento mental, que gera reação de igual intensidade” para viver dignamente.
Num cantinho da sala de minha casa, onde hoje improvisei meu escritório, está o computador no qual escrevo estas poucas palavras, lá, bem no fundo do meu inconsciente, coloquei um quadro contento fotografias, que se encontram amareladas pelo tempo, de meus pais, Adão, eu, Expedito, José, Geraldo e Eva, respectivamente, quando tínhamos dez, oito, sete, cinco, quatro e três anos. Éramos seis criaturas lindíssimas e saudáveis. Mentalizo a velha fotografia e me emociono. O que nos reservou a vida! Quantas lutas para não sofrer e quantas palavras em vão proferidas! Por conta disso, quando olho um menino, imagino quantos obstáculos ele terá que transpor para sobreviver com dignidade... São rápidos momentos de fragilidade, devido aos transtornos que na vida passei.
Como se percebe, foi difícil essa infância. Eu chegava avidamente a adolescência, como a própria palavra define, é uma travessia de muito sofrimento. Classifico-a como um período de tortura e que se eu tivesse de voltar às descobertas e as revoltas não gostaria jamais.
Com quinze anos, sem ainda nada ter estudado, apaixonado pelos livros aprendi a ler e escrever. Por conta disso, fui convidado para trabalhar no armazém de secos e molhados do meu amigo JOÃO MARIANO DE QUEIRÓS em Sericita - antes, porém, fui peão de boiadeiro, passando por Contagem, Caiaca, Ponte Nova, Rio Casca, Abre Campo e, finalmente, Sericita. Eu deixava a vida de lavrador para na cidade viver. Confesso que senti saudade do aconchego de minha família que, apesar de desprovida financeiramente, era abastada de amor e carinho.
No meu segundo dia de trabalho, pensei em estudar, mas o trabalho no armazém ficaria prejudicado, uma vez que suas portas se fechavam às 21 horas e meu contrato, apesar de verbal, dizia que eu trabalharia desde a hora de sua abertura até este horário.
Depois de três anos, eu disse ao JOÃO que ia morar no Rio de Janeiro e ele não se contrapôs. No mês seguinte, pagou-me tudo que devia, me indenizou pelo tempo de serviço e para a Cidade Maravilhosa eu parti sem conhecer uma vivalma. Morei na Estrada do Cambota - em Guadalupe - num pobre barraco no morro, juntamente com alguns desconhecidos, período em que fui operário da construção civil em Engenho da Rainha. Tempos mais tarde fui morar no bairro de Mesquita, ate então município de nova Iguaçu. Lá conheci uma família procedente de minha terra cujo filho mais novo, Antônio Cordeiro, me levou para trabalhar no Moinho Fluminense, hoje com outra denominação social, onde permaneci por mais de um ano.
Em 1972 ingressei no Instituto de Resseguros do Brasil - hoje também com outra denominação - como empregado de uma prestadora de serviços cujo nome não posso precisar, antes, porém, passei pelo Hotel Copacabana Palace, Nero Figueiredo, Fábrica de Estopas São Luiz Durão, Moinho da Luz, etc. Em primeiro de agosto de 1975, ingressei no quadro do IRB, em 1986, fui eleito para a diretoria de Comunicações do Sindicato dos Securitários do Rio de Janeiro, mandato que cumpri com dignidade e presteza que a categoria merece, até 1989. Depois retornei ao IRB e ajudei na fundação do Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Resseguros (SINTRes). E na instituição IRB - fundada pelo Doutor JOÃO CARLOS VITAL, no governo de Getúlio Vargas, em 1939, - permaneci até outubro de 1995, quando fui demitido junto com outros companheiros por um famigerado Plano de Afastamento Voluntário, chamado PAV. No ano de 2004, ajudou reorganizar a administração do Condomínio do Bloco 02 B do Parque residencial Santa Cruz até o ano de 2009, depois me lancei candidato a síndico e fui eleito com mais de 50% dos votos válidos numa disputa bastante acirrada, fui eleito por 04 mandatos, e exerci com dignidade, ética e transparência a função de 2009 a 2017, ano em que me decidi não mais trabalhar para o condomínio, que foi entregue todo reformado do ponto de vista arquitetônico e educacional; criou-se harmonia entre moradores.”