Aristóteles: vida e obra

Aristóteles nasceu no ano de 384/383 a.C. em Estagira, cidade-colônia de origem jônica embutida no reino da Macedônia, situada na península trácia de Calcídia. Mesmo estando distante de Atenas, esta cidade era, na verdade, grega, pois a língua oficial era o grego. Vinha de uma família tradicionalmente ligada à medicina. Sendo seu pai, Nicômaco, era médico do rei Amintas e por viver nesse ambiente da ciência médica, foi conduzido naturalmente para a observação prática da natureza (physis) antes de se dedicar à ética, à retórica e à metafísica.

Mondin (1981), divide a vida de Aristóteles em três fases, a saber: discípulo de Platão, preceptor de soberanos e, por fim, fundador da escola peripatética. No texto a seguir, embora não se tenha essa divisão nitidamente, segue-se essa ordem cronológica.No ano de 366 a.C, Atenas era o grande centro artístico e intelectual da Grécia. Lá, havia duas instituições educativas: a de Isócrates e a de Platão. De acordo com Pessanha (1987), ambas visavam à preparação dos jovens para serem bons cidadãos e prosperarem na vida pública. A primeira, que tinha traços dos pensamentos sofistas, tratava de ensinar como lidar com os assuntos da cidade através da indução e da manipulação oral. A Academia de Platão, por sua vez, ensinava que o fundamento de qualquer ação era a investigação científica matemática. Diante dessas opções, o jovem Aristóteles escolheu a segunda e foi acolhido como discípulo por Platão. Posteriormente, começou a lecionar na Academia por 20 anos.

O clima daquele período, cume do pensamento grego e da expansão do mundo helênico, influenciou muito o pensamento aristotélico. Contudo, o filósofo irá contrapor o espírito de observação e a índole classificatória, típicos da observação naturalista, e que constituíram traços fundamentais do seu pensamento (PESSANHA, 1987).Em Atenas, Aristóteles era da classe dos metecos (estrangeiros residentes) que não eram cidadãos. Por isso, ao contrário de Platão, não se preocupa com os problemas da pólis, fazendo da política um objeto de estudo especulativo.

Quando Platão morreu, em 347, a.C, Aristóteles transferiu-se para Assos, na Ásia Menor, a convite do príncipe Hérmias, amigo e ex-integrante da Academia. Nesta cidade, fundou uma Escola com Erasto e Corisco, onde provavelmente lecionou cursos de disciplinas filosóficas (REALE; ANTISERI, 2003). E mais, descreve Pessanha:

Essa saída de Atenas, pode ter sido motivada pelo fato de Aristóteles não ter sido escolhido para substituir o seu Mestre na Academia, uma vez que ele achava-se o mais preparado para isso. Mas pelo contrário, foi escolhido Espeusipo, que tinha convicções bem diferentes de Aristóteles. (PESSANHA, 1987).

Após a morte do príncipe, Aristóteles dirigiu-se a Lesbos, onde permaneceu dois anos. Levou consigo Pítias, sobrinha e filha adotiva de Hérmias e que foi sua primeira esposa. Após a morte dela, desposará Herpilis, que lhe dará um filho e discípulo, chamado Nicômaco, o mesmo nome do pai de Aristóteles (REALE; ANTISERI, 2003).

Em 343 a. C., recebeu um convite de Felipe da Macedônia para confiar-lhe a missão de educar Alexandre, seu filho. Entre eles, mestre e discípulo, nasceu uma amizade, dessa forma o filósofo grego pôde influenciar significativamente na personalidade de Alexandre. Entretanto, nunca apoiou seu jeito de ser, como general e conquistador, que buscava a fusão da civilização grega com a oriental, já que, para Aristóteles, era impossível, uma vez que a natureza e o gênio desses povos eram diferentes. Dez anos depois, Felipe é assassinado e Alexandre sobe ao trono, com apenas 20 anos. Não sendo mais necessária sua presença, Aristóteles volta a Atenas. Lá, ele funda sua própria escola, o Liceu, pois ficava ao pé do Templo de Apolo Liceu, tornando-se, assim, “rival” da Academia, que no momento não era mais liderada por Platão, mas sim por Xenócrates. Seus discípulos ou alunos eram chamados de peripatéticos, pois as aulas eram realizadas na forma de passeios pelos pórticos (REALE; ANTISERI, 2003).

Com o passar dos anos, o Liceu tornou-se um grande centro de estudos, sobretudo das ciências naturais, que influenciaram na física e metafísica aristotélica, na medida em que se reflete na doutrina do movimento, elaborada por Aristóteles (PESSANHA, 1987).

Quando Alexandre, em 323 a.C., faleceu, por conta dos seus excessos, intemperanças e vícios, Aristóteles passou a ser perseguido pelo sentimento antimacedônico, e foi acusado de impiedade. Então, foi para uma pequena propriedade em Cálcis, na Eubéia, como refugiado, deixando o Liceu na direção de Teofrasto. Lá ficou um ano, morrendo em 322 a.C.

Aristóteles começou a construir sua obra na Academia de Platão, mas muitas dessas obras forma perdidas, de modo especial os diálogos. Tais escritos, provavelmente, teriam um estilo refinado, mas restaram apenas fragmentos que são de estilos áridos e sem unidade formal e orgânica. Nos anos vinte do século passado, formou-se a escola histórico-genética, que através da interpretação das várias obras do estagirita, comprometeu em grande medida a unidade filosófica de Aristóteles (REALE; ANTISERI, 2003).

Ainda segundo Reale; Antiseri (2003), os escritos de Aristóteles, podem ser divididos em dois tipos. O primeiro são as obras Exotéricas, destinadas ao grande público, ou seja, às pessoas de fora da escola e compostas de forma dialógicas, a maneira de Platão. Destas perdeu-se completamente tudo, restando apenas fragmentos, a saber: Eudemo, tratada da imortalidade da alma e o diálogo Sobre a Filosofia, que rejeita a teoria das ideias de Platão.

O segundo tipo são as obras Esotéricas ou acromáticas, que se referem a pequenos tratados que foram a base didática destinada apenas aos seus alunos e que tratam de problemas filosóficos e ciências naturais. Pode-se citar como exemplo os Tratados de Filosofia Moral e Política: a Ética a Nicômaco, a Grande Ética, a Ética Eudêmica e a Política. Esta última é um conjunto de oito livros não muito bem articulados. Sobre esses tratados nos afirma Mondin: “Ele é o filósofo por antonomásia, não só porque elaborou um sistema que oferece uma explicação completa do mundo que nos cerca, como também porque nos deixou, em seus tratados, um modelo incomparável da técnica de filosofar”. (MONDIN, 1981, p. 82).

REFERÊNCIAS

MONDIN, Battista. Curso de Filosofia. Trad. Benôni Lemos. São Paulo: Paulinas, 1981.v.1.

PESSANHA, José Américo Motta. Aristóteles: vida e obra. In: ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. São Paulo: Nova Cultural, 1987. Introdução, p. 7-17. (Coleção Os Pensadores).

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. Aristóteles. Trad. Ivo Storniolo. In:______. História da filosofia: filosofia pagã antiga. São Paulo: Paulus, 2003. cap. 7, p. 187 - 204. v.1

Pedro Xavier
Enviado por Pedro Xavier em 28/01/2018
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