A necessidade de findar uma página

Foi uma noite tumultuada. A mensagem em tom de ultimato causou espanto. Afinal o que precisava ser dito com tanta urgência? O sono foi difícil...

O dia a seguir também foi cheio de expectativas. Orei para que não houvesse mais ninguém ferido pelas palavras.

A espera de um reencontro me dava arrepios. Pensamentos infestavam a mente. Pensamentos bons, ora ruins. Afinal era muito tempo sem se ver, pra ser exato quase ultrapassava os 6 anos. O convite no imperativo assustava. “Me espere, não quero desculpas. Desta vez vamos esclarecer tudo.”

Esclarecer exatamente o que? Pra mim estava tudo claro. A gente não tinha futuro, apenas insistíamos em uma coisa que não ia dar em nada novamente.

Mesmo assim aceitei o convite-ordem... Tinha medo da reação ao encontro. Tinha medo de fraquejar, de tentar um novo recomeço. O encontro até foi interessante. Rever alguém que havia sido importante foi legal. Mas ser legal é muito pouco. Conviver com alguém é preciso ser mais que legal. É preciso ser especial, e vi que já não havia nada de tão especial. Acho que o especial fora ofuscado pela mágoa, pelo ressentimento, pelo tempo e distância talvez....

Colocar as coisas às claras foi bom, a conversa fluiu... No final a pergunta: você não tem nada a dizer?

Minha resposta: “ não.” Acho que foi surpreendente para os dois. Ela esperava algo mais, percebi. Eu não esperava nada de novo. Os motivos que me fizeram sair do vôo a 6 anos atrás eram os mesmos que me fizeram não pegar voô outra vez.

Percebi que as pessoas não mudam. Por mais que digam que mudou, por mais que digam que vai ser diferente, é necessário observar nas entrelinhas das palavras, que o pensamento é o mesmo. Afinal as características estão enraizadas no ser, no íntimo de cada um. São traços que acompanham-nos desde a formação da personalidade até os últimos suspiros.

Ao final percebi que a noite turbulenta nada mais era que apenas uma história mal resolvida que depois de esclarecida não deixou marcas, não deixou sequelas. Abriu um coração para novas estórias, para uma nova fase.

A grande descoberta é que as coisas nunca podem ficar pela metade. Nunca podemos deixar uma estória inacabada. Faz mal, gera incômodo. Provoca medos, receios bobos, noites tumultuadas.

Percebi que tudo aquilo era necessário ter acontecido há muito tempo, para virar uma página inacabada e recomeçar uma página em branco. Uma página para outra estória.

Ansel Antony
Enviado por Ansel Antony em 15/01/2018
Código do texto: T6227129
Classificação de conteúdo: seguro