Esclarecimentos sobre a história do RN escrita por Rocha Pombo

Quem foi José Francisco da Rocha Pombo e qual a sua relação com o Rio Grande do Norte? Rocha Pombo, como é mais conhecido, foi um dos maiores historiadores do Brasil, apesar de não ter concluído um curso superior.

Nascido em Morretes no Paraná, Rocha Pombo foi professor, político, historiador, poeta, jornalista e escritor.

Republicano e abolicionista fervoroso, ingressou na política em 1886, elegendo-se deputado à Assembleia Provincial, pelo Partido Liberal. Abandonou a política desiludido com o insucesso da Revolução Federalista da qual foi um grande defensor.

Em 1897, transfere-se para o Rio de Janeiro e passa a dedicar-se ao ramo da história enquanto trabalha na imprensa e no magistério, tendo ingressado, por concurso, na congregação do Colégio Pedro II. Lecionou, também, na Escola Normal.

Em 1900 escreveu “História das Américas”. Entre 1906 e 1917 escreveu sua obra de maior fôlego, aquela que seria a maior e mais completa obra do gênero “História do Brasil” em 10 volumes.

Sobre Rocha Pombo e a sua “História do Brasil”, escreveu Rodolfo Garcia, seu substituto na Academia Brasileira de Letras: “Se conferidas as estatísticas das bibliotecas, verifica-se que sua ‘História do Brasil’ é, nessa classe, o livro mais consultado, o mais lido de todos, o que significa popularidade e vale pela mais legítima das consagrações”. E concluiu Garcia: “No gênero, a ‘História do Brasil’ é a mais vasta, a mais considerável de nossa literatura, pela superfície imensa que cobre, das origens do Brasil aos dias presentes”.

Rocha Pombo escreveu e publicou ensaios literários e novelas: "Dicionário de sinônimos da Língua Portuguesa", "A religião do belo", "No hospício", "Visões", "Dadá" e vários outros, abrangendo os gêneros mais diversos. Também é de sua lavra, "Nossa Pátria"- com mais de 40 edições e "História do Paraná".

No entanto, o que pouca gente sabe é que este renomado historiador escreveu "História do Rio Grande do Norte". Editores Anuário do Brasil, Rio de Janeiro, 1922.

Fiquei curioso e procurei saber: qual o elo de ligação que vincula o historiador ao Rio Grande do Norte? Quais os seus relacionamentos pessoais e intelectuais com o estado que se propôs escrever a sua história?

Contabilizo, apenas, que o professor Rocha Pombo prefaciou o livro “Histórias que o tempo leva...” do nosso mestre maior Luís da Câmara Cascudo, obra de juventude e primeira publicação como historiador.

Minha curiosidade foi satisfeita na página 45 do livro “Salvados – Livros e Autores Norte-Rio-Grandenses”, de Manoel Onofre Jr., que nos informa que a “História do Estado do Rio Grande do Norte” foi escrita por encomenda do governador do Estado, Dr. Joaquim Ferreira Chaves, com vistas às comemorações do Centenário da Independência do Brasil.

Historiador Nacional, Rocha Pombo tem sempre uma visão dos fatos do ponto de vista da história geral do Brasil.

Numa conversa eventual sobre o tema, com o editor Abimael Silva, do Sebo Vermelho, fui informado de que a obra em referência era a mais limitada das que contam a nossa história e que o autor a escreveu com informações que conseguiu obter em diversas fontes consultadas, sem nunca ter posto os pés no Estado.

O ano de 2007 foi marcado pela transcorrência do sesquicentenário do seu nascimento.

Recentemente, em 21.07.2017, o acadêmico Rui Cavallin Pinto, cadeira nº 13, em artigo publicado no sítio da Academia Paranaense de Letras (http://www.academiapr.org.br/artigos/rocha-pombo-e-o-rio-grande-do-norte), esclarece com muito mais propriedade boa parte das nossas indagações.

Conforme Cavallin Pinto, tudo começou em 1917, após Rocha Pombo concluir sua História do Brasil e empreender uma viagem pelo norte e nordeste do país, desde o Rio de Janeiro até alcançar Manaus, durante mais de 4 meses, visitando todas as capitais do litoral, permanecendo, em média, uma semana em cada uma delas.

Homem simples e de aparência humilde, Rocha Pombo foi cercado de admiração e simpatia geral, pois, afinal, já era então um nome nacional.

Sua presença em Natal durou apenas 7 dias: de 28 de setembro a 4 de outubro, ocasião em que fez visita às instituições locais e conheceu os atrativos da cidade. Foi recepcionado no Instituto Histórico e por ocasião de sua partida recebeu o diploma de sócio honorário da casa, em solenidade singela, mas assinalada por discurso e champanhe.

Durante sua permanência em Natal conviveu com a intelectualidade mais representativa do Estado, como o governador Ferreira Chaves, historiadores como Augusto Tavares de Lyra, Desembargador Vicente Lemos, Dr. Nestor Lima, Oscar Brandão, o professor Jerônimo Gueiros e outros tantos. E foi nessa oportunidade que surgiu a ideia do livro.

Ao tempo do convite a Rocha Pombo, alega Tavares de Lyra que se propunha a escrever a história completa do Rio Grande do Norte, em 5 volumes. A oferta do governador ressoou, assim, nas rodas políticas e na opinião do próprio Tavares de Lyra, como uma tentativa de excluí-lo da “benemerência” de se tornar o primeiro historiador da terra potiguar.

Independente disso, porém, Tavares de Lyra deu constante assistência à obra de Rocha Pombo, durante sua elaboração, sem, no entanto, revelar que fazia obra similar.

Ao final, os dois livros celebraram juntos o centenário da independência do Brasil, em edição comemorativa.

Tavares de Lyra ainda chegou a presentear Rocha Pombo com o seu, agora reduzido a um único volume, mas editado primeiro, embora próximos no tempo.

Transcrevo trecho da carta de Rocha Pombo em que agradece a Augusto Tavares de Lyra que, assim como ele, também escreveu um livro homônimo: “Minhas respeitosas saudações, volto hoje a renovar meus agradecimentos pelo magnífico brinde que se dignou a fazer-me, do exemplar de seu novo livro ‘História do Rio Grande do Norte’. Acabo não apenas de ler, mas de estudar as excelentes e magistrais lições que V. Excelência, neste esplêndido volume, reuniu”.

A história do RN mais corrente é, sem dúvida, a de Luís da Câmara Cascudo (1955), pela sua amplitude cultural e visão social do autor, que ainda ostenta o título oficial de historiador de Natal e desfruta da preferência popular pelo que exibe da riqueza cultural da região.

DJAHY LIMA
Enviado por DJAHY LIMA em 30/11/2017
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