Fabião das Queimadas, o nosso primeiro poeta
Fabião Hermenegildo Ferreira da Rocha (1848-1928) é o nosso primeiro poeta, nasceu escravo na Fazenda Queimadas, município de Santa Cruz (RN), de propriedade de José Ferreira da Rocha, mais conhecido como Coronel José Ferreira.
Ainda menino começou a tocar rabeca e cantar, enquanto trabalhava na lavoura. Aos 15 anos de idade adquiriu seu primeiro instrumento e começou a cantar na região, com a aquiescência e o incentivo do seu senhor.
Cantando nas vaquejadas, nas casas de amigos e de ricos fazendeiros, conseguiu amealhar recursos suficientes para comprar a sua própria alforria e, posteriormente, a de sua mãe e de uma sobrinha.
Analfabeto, fazia versos de improviso.
Em certa ocasião, um amigo mais chegado lhe perguntou como ele criava e guardava seus versos. Em sua simplicidade, o cantador disse que “Quando eu quero tirar uma, me deito na rede de papo pra riba, imagino, imagino e quando acabo de imaginar, está imaginado pro resto da vida”.
Muito raramente ditava para que escrevessem os seus versos. Deixou inúmeros romances sobre bois e cavalos de sua região, como “Boi mão de pau”, com 48 estrofes, registrado por Luís da Câmara Cascudo em seu livro “Vaqueiros e cantadores”. Deixou também “A Vaca Malhada”, dentre outros que ele cantava, sempre acompanhado da sua inseparável rabeca.
A pecuária era o seu tema preferido e recorrente. Infelizmente a maior parte de sua obra foi completamente extraviada.
Em 1923, Fabião das Queimadas esteve na cidade do Natal, onde participou como atração principal, da quermesse organizada pela poetisa Palmyra Wanderley em favor do Instituto de Proteção à Infância, para construir o Hospital das Crianças, atual Varela Santiago.
Estiveram presentes figuras ilustres como o governador e escritor Antônio de Souza, o jornalista e político Eloy de Souza, seu irmão Henrique Castriciano e o médico Varela Santiago.
Em 1923, a expectativa de vida dos mais pobres no Brasil, mal chegava aos 60 anos. Fabiano, então com sessenta e dois anos, era considerado com “ótima lucidez, perfeita memória e bom timbre de voz”.
A festa começou às dezoito horas do dia 24 de dezembro. Logo cedo afluiu uma grande multidão, calculada em torno de 4.000 pessoas. Com caráter estritamente familiar, a festa mudou o quadro da principal praça da cidade, uma área que normalmente, após às oito da noite ficava deserta.
Ao subir no palco com sua inseparável rabeca, o trovador foi entusiástica e longamente aplaudido e desenvolveu uma apresentação que foi classificada pelo jornal “A República” como “magnífica”, composta de “repentes” e “louvores” que fizeram o deleite do público natalense naquela noite.
Em 1999, por ocasião dos 400 anos da cidade de Natal, teve o seu “Romance do Boi da Mão de Pau” recriado por Ariano Suassuna e Antônio Nóbrega e, pela primeira vez, gravado no CD “Nação Potiguar”. Seu nome consta do Dicionário Cravo Albim, da Música Popular Brasileira.
Em 2006, a TV Futura apresentou um programa especial sobre sua vida e obra. Sua vida é contada através de depoimentos de Raimundo Fabião, neto do personagem e violeiro; Hugo Tavares Dutra, pesquisador da vida de Fabião e Deífilo Gurgel, historiador e pesquisador do cancioneiro popular nacional e potiguar.
Fabião era um sertanejo dotado de uma imensa bondade. Lembrava saudosamente do seu antigo senhor, José Ferreira da Rocha, ao rebater uma crítica feita ao seu antigo amo, por não telo mandado à escola quando jovem. O cantador comentou: “Meu senhor foi sempre homem de muito tino e ele bem sabia que, se me tivesse mandado ler e escrever, quem lhe vendia era eu”.
Fabião das Queimadas morreu em 1928, aos sessenta e oito anos, de tétano, em um pequeno sítio de sua propriedade, chamado “Riacho Fundo”, próximo à Serra da Arara e do Rio Potengi, na atual cidade de Barcelona (RN).