LEANDRO GOMES DE BARROS-ACRÉSCIMOS

Leandro foi noivo de sua prima Ana Ermelinda de Castro – (Iaia). Na casa da minha trisavó Tereza tinha um gato que era muito namorador; à noite ninguém conseguia dormir com ele miando no telhado atrás de suas conquistas. Então, Leandro e Iaia pegaram o gato, foram para trás de casa e castraram-no, resolvendo assim o problema. Isso foi um escândalo para a família. Uma moça de família jamais poderia fazer isso, com o agravante de fazê-lo em companhia de um rapaz, ainda que fosse seu noivo. Não sabemos o que houve, mas eles romperam o noivado. Iaia casou-se com alguém, cujo sobrenome era de um pássaro, que denominaremos agora de “Canário” e teve duas filhas Terezinha e Estefânia.

Certo dia, com raiva do seu tio e primo em segundo grau, acusando-o de ter roubado a fortuna de sua família em favor da família de outro irmão, e ao tomar satisfação sobre o ocorrido com o Pe.Vicente, esse o ameaçou dizendo que no “cabaço ainda cabia orelha”. O cabaço foi guardado como relíquia, fruto de uma terrível vingança, com nove pares de orelhas de jagunços que faziam parte do bando que entraram na fazenda e mataram Manoel, um parente em linha ascendente, já velho, na ocasião em que todos haviam ido a um baile na cidade. Cada jagunço encontrado era morto e tinha suas orelhas cortadas e presas a um cordão, juntamente com as orelhas dos que já haviam sido mortos. Leandro, com muita raiva, mudou seu nome para Leandro Gomes de Barros como é conhecido. Leandro é irmão do meu bisavô Daniel Gomes da Nóbrega que casou com sua prima legitima Maria Amélia de Castro.

A seguir alguns trovas que não sei se estão registrados em seus escritos. Uma delas é algo tirado de uma das orações, outra é chocante, e o terceiro é uma pequena história, além de uma poesia. Todas têm relação com a Igreja Católica.

REZA

Pelo sinal do bico real,

Comi farinha e não fez mal;

Se mais tivesse, mais comeria,

Adeus seu padre, até outro dia.

ORAÇÃO

Deita-te corpo, deita-te rabo, deita-te com todos os diabos.

Levanta-te corpo, levanta-te rabo, levanta-te com todos os

diabos.

TROVA

Estava o povo arreliado, reunidos em frente à matriz ao descobrir que a paróquia estava sem padre.

Apareceu um padre na freguesia e vendo a confusão perguntou: aqui tem jaculatória? E o povo respondeu: não.

Fazer uma coisa errada hoje, amanhã de que me queixo? Sem jaculatória não rezo, nem que o cu salte do eixo.

POESIA-

O MEDO

Na certeza que um dia hei de morrer,

Assombro-me com a morte todo dia.

Toda vida é um eterno padecer.

Rouba-me a alma, rouba-me a calma, tudo me crucia.

E eu vou vivendo como ser errante e triste pelo mundo afora,

Temendo a morte que embora triunfante,

Há de vencer-me, há de mandar-me embora.

E tu madrasta ferrenha e desvairada,

Ser tenebroso, horripilante e forte;

Com teu chicote de mulher malvada,

Acoitas-te o meu pai na tua norma.

Leva-me! Que a lei da natureza vive a dizer-me que um dia morro.

Eu que daria do universo a grandeza por vida eterna embora, que de um cachorro.

Porém, rogo-te nessa amargura imensa!

Deixa-me viver, fazer uns versos, e depois,

Leva-me contigo mulher mesquinha.

Apesar de sua jocosidade com a morte, ele fala do próprio medo de morrer, para no final aceitá-la como inevitável. Dizia-se ateu, mas conhecia a Bíblia como poucos.

Os pesquisadores afirmam que Leandro morreu em 04 de Março de 1918, vitimado pela gripe espanhola que assolou o Brasil no início do século XX.

Da família de Leandro sabemos que sua filha mais velha Raquel casou-se com Pedro Batista, e tem filho de nome Pedro Batista Filho.