Zezestripulias...
Candidamente, a meio ano de se tornar nonagenária, Zezé faz auto-delação: conta uma surrada história que subiu subrepticiamente no coro da matriz da Abadia dos Monjolos - que viria a virar Martinho Campos, MG - e lá, como adorava a arte circense, quase tanto quanto o Divino Coração de Jesus, deu sim suas cambalhotas. Sem fazer alarde. Só pra ser denunciada mais tarde. E o severo Padre Marciano nem lhe puxou a orelha, apesar de ter feito cara feia, o que não lhe demandava nenhum esforço.
Talvez o que mitigasse a pena da menina tivesse sido o fato de que, como tantos outros guris e gurias de sua geração tivessem ajudado na construção daquela bela igreja, transportando água do hoje extinto córrego do Bambé, com suas latas e baldes. E há até uma fotografia, em preto e branco dessa meninada, descalça, de cabeleira desgrenhada, a entronizar esse ato de solidariedade. Temerário Michel se ao retrato apresentado na certa mandaria periciá-lo crente, crente de que o ato possa incriminá-lo...
Mas Zezé conta mais, abre o coração assaz: diz que nos primórdios de uma carreira que pendia ao bullyismo, sem resistir à tentação, de um pisão perturbou os passos de uma menina menor que lhe ia à frente, rompendo-lhe a sandália de palha de bananeira, presente de sua mamãe tão trabalhadeira...
Doutra feita, acompanhando parente sua na cidade de Divinópolis, mais uma vez dominada pelo espírito do Maligno, quando posta a dormir numa cama imaculadamente arrumada ao lado de uma garotinha com a metade de sua idade, já ferrada no sono, lascou-lhe sonoros beliscões sem ao menos poder experimentar o prazer mórbido de ver a garotinha despertar...e abrir o bué...
E por fim, no episódio dos retalhinhos, ao menos, a punição foi instantânea: havia ido com a mãe Maria, costureira, à casa de uma abastada cliente e após a execução do serviço in loco, à saída, portando um envelope recheadinho, passou-o às mãos da mãe que ao abri-lo na vista da anfitriã fez cair aquela porção de retalhinhos de que se apossara sem ao menos ter pedido... O choque foi tamanho que dispensou a repreensão verbal, ou corporal. E que, pela raiz, cortou o mal. Doïdamente.
E Zezé, mamãe ré é... ?
Prescreveu, me apresso a lhe dizer eu...