Trecho do Diário da Solidão. Dia 23.

O medo está em todo lugar, ele surge de dentro para fora, despedaçando - nos de todas as formas e de muitas maneiras; o medo me impulsionou ao abismo.

Hoje eu tive medo… Eu fui consumido por esse medo, o meu coração foi aprisionado na torre desse medo, Trancado no mais alto e escuro, a chave foi jogada no abismo.

Hoje eu tive medo… Do barulho estrondoso do mar, do som das ondas quebrando na praia, a espuma na praia sendo absorvida pela areia, tudo isso me traz medo, muito mais do que medo, pavor eu diria.

Hoje eu tive medo.. Da luz do sol ao nascer, dos matizes avermelhados nas nuvens, das folhas verdes recebendo a luz, tudo isso me trouxe medo, esse novo dia que nasce com tantas incertezas, quanto de medo existe em mim?

Hoje eu tive medo… Quando os pássaros cantavam na copa das palmeiras, as suas penas multicoloridas, o som agudo de seus cânticos fúnebres, eu tive medo dessa sonoridade rompendo o meu silêncio.

Hoje eu tive medo… Quando me deparei com o cara refletido no espelho, no meu espelho, aquela expressão de dor, aquela face envelhecida, onde está o seu sorriso? Onde está a sua alegria? Quem é essa pessoa desconhecida no espelho quebrado? Quem é meu Deus… quem é? Não o conheço mais, não o conheço mais…

Foi apenas um sonho,

Foi apenas ilusão,

Foi apenas engano,

Foi simplesmente em vão.

Foi a falta de vontade,

Foi a falta de determinação,

Foi a falta de alegria,

Foi simplesmente em vão.

Foi meu dia mais escuro,

Foi o meu momento de desatenção,

Foi no mais profundo da minha alma,

foi simplesmente em vão.

Foi puro medo eu sei,

Foi puro pavor eu sei,

Foi o meu próprio eu,

Foi simplesmente em vão.

Foi meus dias silêncio,

Foi meus anos solidão,

Foi a vida imperfeita,

Foi tudo simplesmente em vão.

Aquela sombra fúnebre passou por mim nesta manhã, logo aos primeiros raios do sol, quando os pássaros ainda ensaiavam os seus primeiros cantos matinais.

A sombra escura espreitou-me entre as colunas de areia, ela me seguia sem que eu a percebesse, com todos os seus desejos obscuros e sombrios, ela me espreitou; e no momento exato de seu ato malévolo, o anjo de Deus me livrou.

O amor e a misericórdia divina se revelaram a mim, e neste dia Deus me livrou da foice traiçoeira, a funesta sombra afastou - se de mim, escondeu-se nas entranhas escuras de sua moradia marítima.

Nossa vida é mesmo pequena e frágil, tal como uma pétala de flor, que ao ser balançada por forte ventania desprende - se é some.

Aquela sombra escura e maligna vive a espreitar todos os homens, sedenta por desprendê-los do caule da vida, fazendo - os definhar até desfalecer.

A morte bem que procurou,

Dar fim a minha vida,

Deus então me salvou,

Resgatou minha alma perdida.

A sombra escura e fria, desconfiada apartou - se sorrateira, procurando em outra eira, quem possa tragar.

A sombra escura e feia, com foice afiada e cara ossuda, maltrapilha e carrancuda, neste mundo vagueia desnuda, e no escuro da noite fria, cintila seu veneno e serpenteia.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 31/08/2017
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