Nasceu em uma família com pouco poder aquisitivo, seu pai era mais velho, sua mãe engravidou muito cedo, quando tinha apenas 14 anos. Seu pai não quis aceitar a gravidez e resolveu ir embora e não assumir a menina. Porém, a família da moça força ele a ficar e logo a leva para morarem juntos.
Ao longo dos anos a família foi aumentando e os problemas também. O bebê é uma menina linda! Ela possui um problema cardíaco e a correria em hospitais da capital tornam-se frequentes. Precisa de observação o tempo todo, sempre muito mimada e paparicada. A família aumenta com o passar dos anos e a menina ganha dois irmãos e uma irmã.
Como fora previsto, seu pai distribui carinho para os demais irmãos e a pequena cresce em meio a cobrança do pai. Sempre muito arteira, gosta de correr, pular, subir em árvores, jogar bolinhas de gude, brincar de casinha mas o que mais amava era brincar de escolinha; cresceu sempre rodeada de meninos, o que levava seu pai a loucura, ele possuía um cuidado exagerado e uma cobrança ao extremo. Talvez, um pouco de mágoa, mas sem saber que a culpa não vinha da pequena. Desde muito pequena brincava e sonhava em estar na sala de aula, queria buscar as letras e poder tocá-las. Sonhava em poder transformar as letras em palavras, desejava mais do que todos poder entender cada palavrinha, cada som e construir através dessas um novo significado ao seu mundo. Trazer para este novas formas e sons, encher seu caminhar de novos tons. Menina reprimida que encontrou nas letras um novo despertar. Seu pai sempre muito bruto, não apoiava seu desenvolver, dizia que escola não era lugar para meninas, que deveriam cuidar da casa. Mesmo com essa repreensão ela buscava ler e escrever. Amava estar em sala de aula, sonhava em cada linha que escrevia, cada palavra nova era uma festa, e o melhor ainda estava a se desenvolver o apreço em ensinar, em poder ajudar os coleguinhas com mais dificuldades. Com o passar dos anos sua paixão pela escola ia aumentando, porém, suas tarefas cotidianas também, seu pai cada vez mais rude e mais exigente de todas as formas, desejava tirar ela da escola: criança ainda, mas tratada como mocinha tinha seus afazeres e se esquecesse, sofria muito, pois a primeira coisa que ouvia: vou te tirar da escola. Cresceu lutando sempre com sofrimentos e tristezas, sua caminhada não foi fácil. Ao longo de sua adolescência já tinha todo o serviço doméstico em suas mãos, mas sempre encontrava um refúgio nos livros e em seus primeiros escritos poéticos, como gostava de escrever, de ver as palavrinhas formando frases, mundo novos e coloridos, amores e paixões, talvez nunca vividos mais desejados. Buscando sempre sorrir e tentar ser uma criança normal, cresceu com traumas e medos. Sua mãe tinha problemas de saúde devido a vida sofrida que carregava, isso pesava ainda mais à menininha sonhadora, mas sempre persistente ajudava e estava presente com sua mãe e seus três irmãos. Na adolescência pode entender que possuía um problema cardíaco, sua paixão não limitava apenas a livros, mas também girava entorno de atividades físicas as quais precisava privar-se pois com o esforço físico ela passava mal frequentemente. Moravam no interior, e seu pai era capataz de uma fazenda muito respeitada, sua mãe ordenhava as vacas. Sua função era cuidar da casa, vigiar os irmãozinhos e ajudar a mãe, seu momento mais divertido era buscar as vacas para a ordenha nos potreiros. Ela se divertia e sonhava, brincava e viajava em suas fantasias, imaginava mundos novos, paixões de novela, amigas íntimas e desejava que seu mundo imaginário logo chegasse. Ajudava em tudo, em uma fase de sua vida foram implantados dois aviários na fazenda e precisava ajudar a cuidar deles, trabalhou puxando carrinhos de ração com aproximadamente cinquenta quilos, cuidava ainda da temperatura dentro do ambiente, verificava os níveis de água, encontrava o lado bom do trabalho sempre, criava fantasias e novelas, como era divertido fugir de sua realidade. Quanto mais mocinha tornava-se, mais seu pai brigava com ela, era muito ciumento e protetor, imaginava que se não a protegesse ela se perderia no mundo, a protegia de tudo e de todos, mal podia sair brincar, pouco brincava com os vizinhos, brincava sempre sozinha, buscava lugares mágicos os quais a faziam sonhar. Tentava sempre se mostrar o mais quieta possível perto do seu pai, com tantas privações jamais deixou de buscar o que mais lhe agradava: sonhar com as letras. Brincava sempre às escondidas, ou melhor, até seu pai chegar em casa, seus vizinhos eram meninos então na visão machista do pai ela não poderia brincar com eles, brincava muito até ele chegar, nessa hora entrava para dentro de casa e não mais saia, ia para seu quarto olhar pela janela e chorar, quando a raiva passava pegava um livro e começava a ler e seu mundo mudava de tom. Sempre muito tímida, mas atenciosa começou a ganhar prazer em ajudar os outros tanto em sala de aula, quanto ao seu redor, ela apreciava quando a professora pedia que ela ajudasse um colega, claro ela sempre muito dedicada terminava rapidinho seus deveres só para poder ir dividir seu trabalho, gostava de mostrar e ajudar mesmo, não somente passar o dever pronto. As professoras a elogiavam sempre e enchiam seu coraçãozinho quando diziam que ela seria uma ótima professora. Algo ia crescendo em seu coração, uma paixão pelo saber. Um desejo de ensinar, de mediar o entendimento. Sua alegria maior era poder dividir o que aprendera. Cada ano que entrava seu medo de não estar na escola aumentava, seu pai ia cada vez mais querendo afastá-la, mas sempre muito persistente e um pouco teimosa não ia permitindo, corria para a mãe e como era o braço direito dela era defendida e era sua mãe que ouvia muitos desaforos. Quando atingiu dezesseis anos foi morar em Mangueirinha na casa de uns conhecidos, um meio que encontrou de continuar estudando e fugir das rédeas de seu pai, mas muita coisa mudara. Encontrou problemas com professores e acabou se afastando da escola, falta um dia aqui outro ali e de repente desistiu de vez do colégio, estava no 1º ano do ensino médio. Um ano e meio depois retornou para Santo Antônio do Sudoeste. Ficou morando na cidade não quis ficar com os pais. Começou a trabalhar, a namorar e resolveu voltar a estudar, até um tempo foi tranquilo depois teve problemas e abandonou novamente. Ficou mais um tempo afastada quando resolveu voltar a sala de aula, foi chamada para realizar uma cirurgia a qual era a correção daquele problema cardíaco. Nesse meio tempo seus pais começaram a brigar mais e mais e resolveram ir morar em Matelândia. Quando ligaram da clínica aonde seria feito sua cirurgia ligou para sua mãe acompanhá-la. Ficou uma semana internada, com medo de ter que ficar com os pais, pediu para ficar na casa dos pais do namorado, mas seu pai ficou doido e não permitiu. No dia da alta veio uma ambulância de Santo Antônio buscá-la, ficou tranquila, foi sedada e quando acordou estava chegando em Matelândia na casa do seu pai. Ficou muito mal e logo quis voltar, porém sem condições de viajar teve de ficar. Seu pai começou a brigar com ela e a tratar mal, ofendê-la muito. Completando quase trinta dias seu namorado veio vê-la e a pediu em noivado, queria que fosse embora com ele, conversaram com seu pai, todo atencioso concordou, porém mais tarde quando o rapaz fora embora o pai disse que não permitiria e brigou muito com ela, deixando a menina desesperada. Com quarenta dias foi marcado uma reconsulta em Pato Branco e no caminho de volta a menina pediu para ficar em Santo Antônio, o pai passando mal permitiu. Foi um fim de semana maravilhoso, porém seu pai a fez voltar para ir novamente na consulta. A menina foi receosa quando chegou era mentira não havia consulta nenhuma, desesperada chorou muito durante a noite, esperou o pai sair trabalhar e pediu a seu irmão que a levasse na rodoviária, vendo os prantos da irmã ele a leva. Foi aos poucos se recuperando e logo voltou a trabalhar, alguns meses depois sua mãe desaparece e a menina sem poder fazer nada, contudo ainda seu pai muda-se com os irmãos para São Paulo. A moça fica atordoada mais nada pode fazer. Vai acostumando com a situação e tenta manter o máximo de contato com o pai e os irmãos. Quando já estava mais recuperada volta a trabalhar em uma fábrica de malhas. Sente a necessidade de voltar a estudar, porém agora o trabalho não permite. Permanece alguns meses no trabalho e decide então deixar de lado este emprego e corre atrás dos estudos. Inicia alguns cursos de informática, quando conclui este, foi chamada para uma entrevista de emprego, era uma vaga de vendedora em uma loja de celulares. Muito receosa a moça consegue o cargo. Agora trabalharia em um loja de revenda de celulares e consultorias de planos telefônicos. Como era muito tímida houve algumas dificuldades, porém logo precisou perder o medo e correr atrás do emprego. Dedicada logo terminou os estudos do ensino médio, o que fazer agora? Bom, procurar uma faculdade, algo que supra suas necessidades. Começou a pesquisar cursos e buscar as faculdades mais próximas, surge a vontade de conhecer as letras, descobrir as palavras e qual o melhor curso para isso? Ah sim, Letras. Aonde? Surgem duas mais próximas em Ampére ou Barracão, a faculdade de Barracão não ofereceria o curso nesse semestre, então a moça busca marcar a data do vestibular em Ampére, marca- o para a última semana da oferta do mesmo, muito nervosa segue a caminho do vestibular. Realizou a prova no fim de semana, na segunda-feira recebe a ligação da instituição de que estava aprovada e que as aulas iniciavam na mesma noite, corre daqui, corre dali para encontrar as documentações necessárias. A ansiedade a consome, chega na instituição e realiza sua matrícula, quando se direciona para a sala de aula, sua primeira noite, seu coração parece sair pela boca, o nervosismo por não conhecer nada e aparentemente ninguém, a deixam mais ansiosa. Logo consegue encontrar um colega de trabalho e o medo vai ficando de lado. Sua primeira disciplina fora Libras e Educação Inclusiva, oferecida no intensivo do II semestre de 2012. Abriu seus horizontes. Quando inicia o regular as dificuldades voltam a aparecer, tudo novo, porém com a oferta da disciplina de Psicologia e Educação seu interesse aumenta, e ela passa a desenvolver um interesse pela Aprendizagem e Desenvolvimento. Quando na disciplina de Metodologia Científica surge a oportunidade de um trabalho com a escolha de um tema pertinente ao acadêmico, não surgem dúvidas, como a criança aprende? De que modo? Essas questões iniciam em sua mente e seu interesse vai evoluindo. Com o passar dos dias vai tendo contato com o autor que mais lhe chamou a atenção: Lev Semenovich Vygotsky, agora a ideia era entender como o autor pensava e concluir com seus pensamentos. Com o passar das semanas o trabalho fica pronto, porém mais curiosidade envolve seus pensamentos. Cada disciplina que abrangesse esse tema era sempre a preferida. No próximo semestre, para sua surpresa surge a disciplina de Aprendizagem e Desenvolvimento, aprofunda ainda mais seus pensamentos sobre Vygotsky e pode desenvolver mais um pouco sua curiosidade. A partir de agora ela sente a necessidade de sair do trabalho novamente para poder dedicar-se aos estudos, surge então a oportunidade que viria enobrecer o seu conhecimento: trabalhar como estagiária da Secretaria de Educação. Prepara a documentação necessária, logo a chamam e agora torna-se uma professora estagiária, onde poderá colocar em prática suas técnicas, podendo estar interagindo dentro do seu ramo de trabalho escolhido. No semestre seguinte surge a disciplina de Projetos Bilíngue VI-Produção Científica na Educação, a qual visava montar um pré-projeto de TCC, o tema e autor ela já tinha, era a chance de começar a elaborar o seu trabalho de conclusão de curso. Iniciou seus primeiros escritos dentro do seu tema envolvente, a partir daí todos os trabalhos e leituras giravam entorno do tema: Aprendizagem e Desenvolvimento fundamentados com as pesquisas de Vygotsky. Todo semestre havia um trabalho que permitia encaixar seu tema, e sua pesquisa ia sempre se enriquecendo, colocava uma palavra aqui, um pensamento ali, e cada vez maior era seu interesse pela psicologia, pelo entender como a criança aprende. Cada linha acrescentada nos demais semestres veio para facilitar esse caminho que ao longo dos anos vai consumindo os acadêmicos. A escolha do tema não foi algo simultâneo, fora crescendo dentro de cada disciplina, diante de cada visão nova, envolvendo cada trabalho, cada instante dentro do conhecimento. Essa vontade de conhecer e entender surgiu acredita-se que desde seu primeiro contato com a escola, com a necessidade de auxiliar os demais, de poder dispor seu conhecimento. Quando iniciaram-se os estágios supervisionados foi um pouquinho a mais de emoção, aquele medo de não saber o que fazer ou por onde começar retoma, mas agora é a prática, é o momento de entender um pouco como é o dia- a- dia da escola e descobrir o melhor caminho. Muitas dúvidas surgem e a cada nova experiência um querer mais, uma vontade de entender de conhecer cada vez mais. É, portanto, o Estágio, uma importante parte integradora do currículo, a parte em que o licenciando vai assumir pela primeira vez a sua identidade profissional e sentir na pele o compromisso com o aluno, com sua família, com sua comunidade com a instituição escolar, que representa sua inclusão civilizatória, com a produção conjunta de significados em sala de aula, com a democracia, com o sentido de profissionalismo que implique competência - fazer bem o que lhe compete. (ANDRADE, 2005, p. 2). Os estágios são de suma importância ao acadêmico, é normalmente o primeiro contato dele com a escola e sua comunidade escolar. Um passo muito significante à vida do futuro licenciado. Primeiro passo para um novo caminhar, um descobrir de caminhos e novos horizontes. Nos estágios teve-se dificuldades e é claro momentos prazerosos. A parte mais proveitosa das aulas era a interação com os alunos, não há como negar que o descobrir deste novo mundo foi emocionante e muito proveitoso. Com essas horas de interação pode-se conhecer e envolver-se mais com a comunidade escolar, ter uma base de como funciona e como desenvolve-se o meio escolar. Neste meio tempo, consolidar faculdade e família não era o problema e no final de 2015 ela casa-se no civil. Muitas alegrias ainda estariam por vir, a faculdade quase terminada e a vida de casada cada dia mais maravilhosa, após sete anos juntamente com seu companheiro o sonho de ser oficialmente senhora “da Silva” torna-se realidade. Nunca houve dificuldade em estabelecer uma unidade entre família e estudos, sempre fora muito incentivada pelo marido e família. No início de 2016 seria então seu último semestre na Faculdade de Ampére-FAMPER, as aulas iniciaram animadas, muita ansiedade em iniciar o Trabalho de Conclusão de Curso. Então surge uma surpresa, faria somente as disciplinas que faltariam e o TCC ficara para o próximo semestre. Foram alguns dias de desapontamentos, mas não havia o que fazer a faculdade estaria oferecendo aos professores um aperfeiçoamento sobre orientações de TCC e a partir de então todo o trabalho e as orientações passariam a ser “online” , em um sistema novo, oferecendo mais segurança ao acadêmico e a todos os envolvidos. Nesse tempo surgiram muitas dúvidas se realmente seria esse o tema, se não poderia ir para outra área, surgindo a hipótese de partir para a linguística, porém as leituras não evoluíam, o tema acabou sendo deixado de lado. Alguns meses após o início do semestre, uma decepção muito grande surge em seu caminhar: o divórcio, algo que acabou por dificultar as coisas. Não havia muito interesse em estudar ou mesmo tentar definir a direção do tema. Com o passar dos dias, tentou buscar leituras ainda que desfocadas, e conversas com professores para poder focar e direcionar o trabalho. Até o final do semestre houve um pouco de distanciamento com os estudos, porém não houve hipóteses de abandonar o trajeto. Algumas notas baixas surgem, mas nada que não possa ser superado. Voltando às leituras, buscando lembrar das dificuldades encontradas durante as disciplinas e claro retomando as experiências durante os estágios, pode-se enfim realmente delimitar o tema. Assim, o tema remete aos meados da psicologia, todo o caminhar mostra essa vontade de conhecer mais e poder deste modo entender e desvendar os segredos envolventes do aprender. Não há como buscar qualquer outro tema se não partir deste pressuposto: como a criança aprende? De que forma isso ocorre? O que direciona esse aprender? A cada dificuldade um novo descobrir, perceber. A escolha do tema deste TCC se intensifica mais ainda lembrando o passar das horas trabalhadas dentro dos estágios, o contato com o meio escolar, o estar entre os alunos fez com que esse tema fosse cada vez mais debatido, e o interesse em entender como ocorre o aprendizado e o desenvolvimento torna-se então foco nas leituras. Concluindo o semestre e iniciando enfim as orientações, pode-se perceber que esse era o tema desde seus primeiros contatos com a escola. Não poderia ser diferente, a vontade de descobrir, conhecer e entender esse tema nunca passou de forma despercebida. O tema direcionou-se para a área mais complexa, mas também a mais interessante ao ver acadêmico. Compreender de onde surge o conhecimento é o fator primordial para poder assim entrar no meio escolar. Contudo não há como entender essas questões sem direcionarmos um autor que nos faça refletir na educação como um todo. Lev S. Vygotsky com sua concepção de mediação passa a ser definitivamente o foco das leituras. O pensar do autor com o caminhar educacional deste acadêmico pesaram e a mediação, as concepções “vygotskiana” não passam despercebidas e tornam-se o direcionamento do tema. Assim: “Mediação, em termos genéricos, é o processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação; a relação deixa, então, de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento.” (OLIVEIRA, 1997, p.26).
Ao longo dos anos a família foi aumentando e os problemas também. O bebê é uma menina linda! Ela possui um problema cardíaco e a correria em hospitais da capital tornam-se frequentes. Precisa de observação o tempo todo, sempre muito mimada e paparicada. A família aumenta com o passar dos anos e a menina ganha dois irmãos e uma irmã.
Como fora previsto, seu pai distribui carinho para os demais irmãos e a pequena cresce em meio a cobrança do pai. Sempre muito arteira, gosta de correr, pular, subir em árvores, jogar bolinhas de gude, brincar de casinha mas o que mais amava era brincar de escolinha; cresceu sempre rodeada de meninos, o que levava seu pai a loucura, ele possuía um cuidado exagerado e uma cobrança ao extremo. Talvez, um pouco de mágoa, mas sem saber que a culpa não vinha da pequena. Desde muito pequena brincava e sonhava em estar na sala de aula, queria buscar as letras e poder tocá-las. Sonhava em poder transformar as letras em palavras, desejava mais do que todos poder entender cada palavrinha, cada som e construir através dessas um novo significado ao seu mundo. Trazer para este novas formas e sons, encher seu caminhar de novos tons. Menina reprimida que encontrou nas letras um novo despertar. Seu pai sempre muito bruto, não apoiava seu desenvolver, dizia que escola não era lugar para meninas, que deveriam cuidar da casa. Mesmo com essa repreensão ela buscava ler e escrever. Amava estar em sala de aula, sonhava em cada linha que escrevia, cada palavra nova era uma festa, e o melhor ainda estava a se desenvolver o apreço em ensinar, em poder ajudar os coleguinhas com mais dificuldades. Com o passar dos anos sua paixão pela escola ia aumentando, porém, suas tarefas cotidianas também, seu pai cada vez mais rude e mais exigente de todas as formas, desejava tirar ela da escola: criança ainda, mas tratada como mocinha tinha seus afazeres e se esquecesse, sofria muito, pois a primeira coisa que ouvia: vou te tirar da escola. Cresceu lutando sempre com sofrimentos e tristezas, sua caminhada não foi fácil. Ao longo de sua adolescência já tinha todo o serviço doméstico em suas mãos, mas sempre encontrava um refúgio nos livros e em seus primeiros escritos poéticos, como gostava de escrever, de ver as palavrinhas formando frases, mundo novos e coloridos, amores e paixões, talvez nunca vividos mais desejados. Buscando sempre sorrir e tentar ser uma criança normal, cresceu com traumas e medos. Sua mãe tinha problemas de saúde devido a vida sofrida que carregava, isso pesava ainda mais à menininha sonhadora, mas sempre persistente ajudava e estava presente com sua mãe e seus três irmãos. Na adolescência pode entender que possuía um problema cardíaco, sua paixão não limitava apenas a livros, mas também girava entorno de atividades físicas as quais precisava privar-se pois com o esforço físico ela passava mal frequentemente. Moravam no interior, e seu pai era capataz de uma fazenda muito respeitada, sua mãe ordenhava as vacas. Sua função era cuidar da casa, vigiar os irmãozinhos e ajudar a mãe, seu momento mais divertido era buscar as vacas para a ordenha nos potreiros. Ela se divertia e sonhava, brincava e viajava em suas fantasias, imaginava mundos novos, paixões de novela, amigas íntimas e desejava que seu mundo imaginário logo chegasse. Ajudava em tudo, em uma fase de sua vida foram implantados dois aviários na fazenda e precisava ajudar a cuidar deles, trabalhou puxando carrinhos de ração com aproximadamente cinquenta quilos, cuidava ainda da temperatura dentro do ambiente, verificava os níveis de água, encontrava o lado bom do trabalho sempre, criava fantasias e novelas, como era divertido fugir de sua realidade. Quanto mais mocinha tornava-se, mais seu pai brigava com ela, era muito ciumento e protetor, imaginava que se não a protegesse ela se perderia no mundo, a protegia de tudo e de todos, mal podia sair brincar, pouco brincava com os vizinhos, brincava sempre sozinha, buscava lugares mágicos os quais a faziam sonhar. Tentava sempre se mostrar o mais quieta possível perto do seu pai, com tantas privações jamais deixou de buscar o que mais lhe agradava: sonhar com as letras. Brincava sempre às escondidas, ou melhor, até seu pai chegar em casa, seus vizinhos eram meninos então na visão machista do pai ela não poderia brincar com eles, brincava muito até ele chegar, nessa hora entrava para dentro de casa e não mais saia, ia para seu quarto olhar pela janela e chorar, quando a raiva passava pegava um livro e começava a ler e seu mundo mudava de tom. Sempre muito tímida, mas atenciosa começou a ganhar prazer em ajudar os outros tanto em sala de aula, quanto ao seu redor, ela apreciava quando a professora pedia que ela ajudasse um colega, claro ela sempre muito dedicada terminava rapidinho seus deveres só para poder ir dividir seu trabalho, gostava de mostrar e ajudar mesmo, não somente passar o dever pronto. As professoras a elogiavam sempre e enchiam seu coraçãozinho quando diziam que ela seria uma ótima professora. Algo ia crescendo em seu coração, uma paixão pelo saber. Um desejo de ensinar, de mediar o entendimento. Sua alegria maior era poder dividir o que aprendera. Cada ano que entrava seu medo de não estar na escola aumentava, seu pai ia cada vez mais querendo afastá-la, mas sempre muito persistente e um pouco teimosa não ia permitindo, corria para a mãe e como era o braço direito dela era defendida e era sua mãe que ouvia muitos desaforos. Quando atingiu dezesseis anos foi morar em Mangueirinha na casa de uns conhecidos, um meio que encontrou de continuar estudando e fugir das rédeas de seu pai, mas muita coisa mudara. Encontrou problemas com professores e acabou se afastando da escola, falta um dia aqui outro ali e de repente desistiu de vez do colégio, estava no 1º ano do ensino médio. Um ano e meio depois retornou para Santo Antônio do Sudoeste. Ficou morando na cidade não quis ficar com os pais. Começou a trabalhar, a namorar e resolveu voltar a estudar, até um tempo foi tranquilo depois teve problemas e abandonou novamente. Ficou mais um tempo afastada quando resolveu voltar a sala de aula, foi chamada para realizar uma cirurgia a qual era a correção daquele problema cardíaco. Nesse meio tempo seus pais começaram a brigar mais e mais e resolveram ir morar em Matelândia. Quando ligaram da clínica aonde seria feito sua cirurgia ligou para sua mãe acompanhá-la. Ficou uma semana internada, com medo de ter que ficar com os pais, pediu para ficar na casa dos pais do namorado, mas seu pai ficou doido e não permitiu. No dia da alta veio uma ambulância de Santo Antônio buscá-la, ficou tranquila, foi sedada e quando acordou estava chegando em Matelândia na casa do seu pai. Ficou muito mal e logo quis voltar, porém sem condições de viajar teve de ficar. Seu pai começou a brigar com ela e a tratar mal, ofendê-la muito. Completando quase trinta dias seu namorado veio vê-la e a pediu em noivado, queria que fosse embora com ele, conversaram com seu pai, todo atencioso concordou, porém mais tarde quando o rapaz fora embora o pai disse que não permitiria e brigou muito com ela, deixando a menina desesperada. Com quarenta dias foi marcado uma reconsulta em Pato Branco e no caminho de volta a menina pediu para ficar em Santo Antônio, o pai passando mal permitiu. Foi um fim de semana maravilhoso, porém seu pai a fez voltar para ir novamente na consulta. A menina foi receosa quando chegou era mentira não havia consulta nenhuma, desesperada chorou muito durante a noite, esperou o pai sair trabalhar e pediu a seu irmão que a levasse na rodoviária, vendo os prantos da irmã ele a leva. Foi aos poucos se recuperando e logo voltou a trabalhar, alguns meses depois sua mãe desaparece e a menina sem poder fazer nada, contudo ainda seu pai muda-se com os irmãos para São Paulo. A moça fica atordoada mais nada pode fazer. Vai acostumando com a situação e tenta manter o máximo de contato com o pai e os irmãos. Quando já estava mais recuperada volta a trabalhar em uma fábrica de malhas. Sente a necessidade de voltar a estudar, porém agora o trabalho não permite. Permanece alguns meses no trabalho e decide então deixar de lado este emprego e corre atrás dos estudos. Inicia alguns cursos de informática, quando conclui este, foi chamada para uma entrevista de emprego, era uma vaga de vendedora em uma loja de celulares. Muito receosa a moça consegue o cargo. Agora trabalharia em um loja de revenda de celulares e consultorias de planos telefônicos. Como era muito tímida houve algumas dificuldades, porém logo precisou perder o medo e correr atrás do emprego. Dedicada logo terminou os estudos do ensino médio, o que fazer agora? Bom, procurar uma faculdade, algo que supra suas necessidades. Começou a pesquisar cursos e buscar as faculdades mais próximas, surge a vontade de conhecer as letras, descobrir as palavras e qual o melhor curso para isso? Ah sim, Letras. Aonde? Surgem duas mais próximas em Ampére ou Barracão, a faculdade de Barracão não ofereceria o curso nesse semestre, então a moça busca marcar a data do vestibular em Ampére, marca- o para a última semana da oferta do mesmo, muito nervosa segue a caminho do vestibular. Realizou a prova no fim de semana, na segunda-feira recebe a ligação da instituição de que estava aprovada e que as aulas iniciavam na mesma noite, corre daqui, corre dali para encontrar as documentações necessárias. A ansiedade a consome, chega na instituição e realiza sua matrícula, quando se direciona para a sala de aula, sua primeira noite, seu coração parece sair pela boca, o nervosismo por não conhecer nada e aparentemente ninguém, a deixam mais ansiosa. Logo consegue encontrar um colega de trabalho e o medo vai ficando de lado. Sua primeira disciplina fora Libras e Educação Inclusiva, oferecida no intensivo do II semestre de 2012. Abriu seus horizontes. Quando inicia o regular as dificuldades voltam a aparecer, tudo novo, porém com a oferta da disciplina de Psicologia e Educação seu interesse aumenta, e ela passa a desenvolver um interesse pela Aprendizagem e Desenvolvimento. Quando na disciplina de Metodologia Científica surge a oportunidade de um trabalho com a escolha de um tema pertinente ao acadêmico, não surgem dúvidas, como a criança aprende? De que modo? Essas questões iniciam em sua mente e seu interesse vai evoluindo. Com o passar dos dias vai tendo contato com o autor que mais lhe chamou a atenção: Lev Semenovich Vygotsky, agora a ideia era entender como o autor pensava e concluir com seus pensamentos. Com o passar das semanas o trabalho fica pronto, porém mais curiosidade envolve seus pensamentos. Cada disciplina que abrangesse esse tema era sempre a preferida. No próximo semestre, para sua surpresa surge a disciplina de Aprendizagem e Desenvolvimento, aprofunda ainda mais seus pensamentos sobre Vygotsky e pode desenvolver mais um pouco sua curiosidade. A partir de agora ela sente a necessidade de sair do trabalho novamente para poder dedicar-se aos estudos, surge então a oportunidade que viria enobrecer o seu conhecimento: trabalhar como estagiária da Secretaria de Educação. Prepara a documentação necessária, logo a chamam e agora torna-se uma professora estagiária, onde poderá colocar em prática suas técnicas, podendo estar interagindo dentro do seu ramo de trabalho escolhido. No semestre seguinte surge a disciplina de Projetos Bilíngue VI-Produção Científica na Educação, a qual visava montar um pré-projeto de TCC, o tema e autor ela já tinha, era a chance de começar a elaborar o seu trabalho de conclusão de curso. Iniciou seus primeiros escritos dentro do seu tema envolvente, a partir daí todos os trabalhos e leituras giravam entorno do tema: Aprendizagem e Desenvolvimento fundamentados com as pesquisas de Vygotsky. Todo semestre havia um trabalho que permitia encaixar seu tema, e sua pesquisa ia sempre se enriquecendo, colocava uma palavra aqui, um pensamento ali, e cada vez maior era seu interesse pela psicologia, pelo entender como a criança aprende. Cada linha acrescentada nos demais semestres veio para facilitar esse caminho que ao longo dos anos vai consumindo os acadêmicos. A escolha do tema não foi algo simultâneo, fora crescendo dentro de cada disciplina, diante de cada visão nova, envolvendo cada trabalho, cada instante dentro do conhecimento. Essa vontade de conhecer e entender surgiu acredita-se que desde seu primeiro contato com a escola, com a necessidade de auxiliar os demais, de poder dispor seu conhecimento. Quando iniciaram-se os estágios supervisionados foi um pouquinho a mais de emoção, aquele medo de não saber o que fazer ou por onde começar retoma, mas agora é a prática, é o momento de entender um pouco como é o dia- a- dia da escola e descobrir o melhor caminho. Muitas dúvidas surgem e a cada nova experiência um querer mais, uma vontade de entender de conhecer cada vez mais. É, portanto, o Estágio, uma importante parte integradora do currículo, a parte em que o licenciando vai assumir pela primeira vez a sua identidade profissional e sentir na pele o compromisso com o aluno, com sua família, com sua comunidade com a instituição escolar, que representa sua inclusão civilizatória, com a produção conjunta de significados em sala de aula, com a democracia, com o sentido de profissionalismo que implique competência - fazer bem o que lhe compete. (ANDRADE, 2005, p. 2). Os estágios são de suma importância ao acadêmico, é normalmente o primeiro contato dele com a escola e sua comunidade escolar. Um passo muito significante à vida do futuro licenciado. Primeiro passo para um novo caminhar, um descobrir de caminhos e novos horizontes. Nos estágios teve-se dificuldades e é claro momentos prazerosos. A parte mais proveitosa das aulas era a interação com os alunos, não há como negar que o descobrir deste novo mundo foi emocionante e muito proveitoso. Com essas horas de interação pode-se conhecer e envolver-se mais com a comunidade escolar, ter uma base de como funciona e como desenvolve-se o meio escolar. Neste meio tempo, consolidar faculdade e família não era o problema e no final de 2015 ela casa-se no civil. Muitas alegrias ainda estariam por vir, a faculdade quase terminada e a vida de casada cada dia mais maravilhosa, após sete anos juntamente com seu companheiro o sonho de ser oficialmente senhora “da Silva” torna-se realidade. Nunca houve dificuldade em estabelecer uma unidade entre família e estudos, sempre fora muito incentivada pelo marido e família. No início de 2016 seria então seu último semestre na Faculdade de Ampére-FAMPER, as aulas iniciaram animadas, muita ansiedade em iniciar o Trabalho de Conclusão de Curso. Então surge uma surpresa, faria somente as disciplinas que faltariam e o TCC ficara para o próximo semestre. Foram alguns dias de desapontamentos, mas não havia o que fazer a faculdade estaria oferecendo aos professores um aperfeiçoamento sobre orientações de TCC e a partir de então todo o trabalho e as orientações passariam a ser “online” , em um sistema novo, oferecendo mais segurança ao acadêmico e a todos os envolvidos. Nesse tempo surgiram muitas dúvidas se realmente seria esse o tema, se não poderia ir para outra área, surgindo a hipótese de partir para a linguística, porém as leituras não evoluíam, o tema acabou sendo deixado de lado. Alguns meses após o início do semestre, uma decepção muito grande surge em seu caminhar: o divórcio, algo que acabou por dificultar as coisas. Não havia muito interesse em estudar ou mesmo tentar definir a direção do tema. Com o passar dos dias, tentou buscar leituras ainda que desfocadas, e conversas com professores para poder focar e direcionar o trabalho. Até o final do semestre houve um pouco de distanciamento com os estudos, porém não houve hipóteses de abandonar o trajeto. Algumas notas baixas surgem, mas nada que não possa ser superado. Voltando às leituras, buscando lembrar das dificuldades encontradas durante as disciplinas e claro retomando as experiências durante os estágios, pode-se enfim realmente delimitar o tema. Assim, o tema remete aos meados da psicologia, todo o caminhar mostra essa vontade de conhecer mais e poder deste modo entender e desvendar os segredos envolventes do aprender. Não há como buscar qualquer outro tema se não partir deste pressuposto: como a criança aprende? De que forma isso ocorre? O que direciona esse aprender? A cada dificuldade um novo descobrir, perceber. A escolha do tema deste TCC se intensifica mais ainda lembrando o passar das horas trabalhadas dentro dos estágios, o contato com o meio escolar, o estar entre os alunos fez com que esse tema fosse cada vez mais debatido, e o interesse em entender como ocorre o aprendizado e o desenvolvimento torna-se então foco nas leituras. Concluindo o semestre e iniciando enfim as orientações, pode-se perceber que esse era o tema desde seus primeiros contatos com a escola. Não poderia ser diferente, a vontade de descobrir, conhecer e entender esse tema nunca passou de forma despercebida. O tema direcionou-se para a área mais complexa, mas também a mais interessante ao ver acadêmico. Compreender de onde surge o conhecimento é o fator primordial para poder assim entrar no meio escolar. Contudo não há como entender essas questões sem direcionarmos um autor que nos faça refletir na educação como um todo. Lev S. Vygotsky com sua concepção de mediação passa a ser definitivamente o foco das leituras. O pensar do autor com o caminhar educacional deste acadêmico pesaram e a mediação, as concepções “vygotskiana” não passam despercebidas e tornam-se o direcionamento do tema. Assim: “Mediação, em termos genéricos, é o processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação; a relação deixa, então, de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento.” (OLIVEIRA, 1997, p.26).