O honroso legado de Zé Tarzan
José Alves Soares, conhecido como Zé Tarzan, nasceu no Sítio Barro Vermelho, em São Gonçalo, no dia 11 de outubro de 1942. De origem extremamente pobre, sua genitora trabalhava como lavadeira; fora criado sem a figura paterna e, desde criança, teve que trabalhar para sobreviver, conhecendo muito cedo as dificuldades para se obter uma vida com dignidade. Durante toda sua existência, sempre manteve postura de cordialidade, até mesmo em seus prolixos diálogos com o destino. Zé Tarzan, com exceção da sua própria mãe, Dona Raimunda, não teve contatos com ascendentes maternos ou paternos.
Raquel de Queiroz certamente diria que esta é mais uma história do Nordeste Brasileiro. Embora seja uma história típica do sertão sofrido, não se trata de um conto qualquer. Esta narrativa apresenta em si atos de perseverança, de obstinação, de árduas batalhas, de derrotas e vitórias, de idas e vindas, de suores, sangues e lágrimas.
O cenário é o interior da Paraíba, tantas vezes visitado por José Américo de Almeida, seja de forma pessoal ou em comoventes contos reais e ficcionais de sua afinada arte literária. Para ser mais preciso, o ambiente é o acampamento federal de São Gonçalo, além de seus nostálgicos sítios, um verdadeiro oásis no seio da sequidão da caatinga. No entanto, nem sempre o oásis oferece flores e frutas para todos. Muitas vezes, para alguns, só restavam espinhos, próprios do bioma local.
As histórias narradas são verídicas, embora se apresentem miscigenadas com outras estórias possivelmente extraídas do imaginário popular, das mentes férteis dos briosos camponeses e do próprio processo de evolução cultural do sertão interiorano, impulsionadas pelo encanto e magia nordestinos, bem como pela leve ação romanesca do autor.
Os personagens, todos reais, pertencem a algumas famílias são-gonçalenses, unidas por fortes laços de parentesco. Um dos protagonistas, coincidentemente, tem nome de herói. Zé Tarzan começou sua história de lutas no dia 11 de outubro de 1942, no apogeu de uma grande seca que permeou o sertão, nas selvas xerófilas do Sítio Barro Vermelho, nas cercanias de São Gonçalo.
Do nascimento na miséria ao emprego e à estabilidade no DNOCS, passaram-se duas décadas de dificuldades, incertezas, mas, sobretudo, de esperança. Desta feita, a infância, ainda que pobre, fora muito bem vivida, intensa. Entre um trabalho e outro, que também era diversão, banhos de açude, de canais, no rio Piranhas e na medidora, estripulias inocentes nos campos e na área urbana, os filmes no cinema de Antonio Luiz, os desfiles do dia 7 de setembro, as aulas no grupo escolar, os carões da Professora Maria das Neves, as caçadas de baleeira, o pomar 6, as peladas de futebol, os grandes amigos...
Em meados do ano de 1964, o seu destino se cruza em um nó cego indesatável com aquela que seria sua companheira vitalícia, uma bela e jovem recém-chegada da zona sitiante de São Gonçalo, filha de um valoroso guarda do DNOCS.
O legado de honestidade, probidade, dignidade, solidariedade, herdado da sua genitora, Dona Raimunda, sempre foi aplicado em sua vida, inclusive no serviço público; hoje mais do que nunca, tão carente de bons valores éticos e morais.
Aos filhos e à esposa, Nina, Zé Tarzan procurou repassar esta invejável herança imaterial, naturalmente, apenas com o exemplo de sua vida. Uma grande vida, agora, resumida em algumas páginas, eternizada nos anais da literatura sertaneja.