Chiquito Pastelão, Caxambu e Pau de Sebo
Parentes entre si, duvido que tenham sido. E aparentemente, só o Pau de Sebo, já nonagenário, é que poderia agora responder essa questão, já que os outros não mais estão.
O que os aproximava, nada obstante, era serem praticamente vizinhos, morando todos com suas famílias ali pros lados da Fundição. E Fundição que aliás não fundiu jamais. Erigido o galpão até de certo imponente para o empreendimento, faltou algum ou mais que um elemento. A idéia que surgiu no tempo do boom siderúrgico das Gerais, que beneficiou fartamente cidades vizinhas como Divinópolis, Itaúna e o Pará, deixou Pitangui à meia bomba, só com a sua Siderpita. E ninguém pode ter noção do que seria à sério, uma fundição.
Sobrava contudo a fábrica de tecidos, a popular fapa, que ia acomodando tanta gente. Mas dessa trinca, ao que me lembro, somente o Pau de Sebo, cujo nome de pia é Raimundo foi que enfrentou a fapa . Do Chiquito apesar do apoio sugestivo e digestivo não posso afirmar com presteza se seu negócio eram as quitandas ou que tantas outras possíveis atividades e, do Caxambu, cujo nome coincide com uma das estações das águas famosas das Gerais, o que posso dizer é que entre suas formosas e virtuosas meninas uma delas gostava de caçoar comigo tratando-me - a distância segura - de Pintinha, nos tempos ainda de animado footing das noitadas alegres e saudosas de nossa Velha Serrana. Pintinha, no feminino, é bom que se frise, era uma alusão a uma manchinha amarronzada, feito uma casquinha de feijão que eu trazia no canto esquerdo da boca...um charme só - até eu achar-me só...Moço com pinta no rosto, o possível sogro iria aprovar aquilo?
Do Chiquito, cujo pastel jamais provei, a lembrança que guardarei é a de que parecia um pouco descadeirado nas suas calças de cintura exageradamente alta, quiçá para compensar ou realçar alguma falta...E o Pau de Sebo, Raimundo...? Moreno, bigodinhos bem aparados, invariavelmente usava um chapéu de feltro, da aba curta, com uma peninha em riste a adornar sua copa.
Quase o vitimei numa noite em que tentando acertar num gambá, alojados numa laranjeira, no quintal de minha casa, disparei e, naturalmente tendo errado o alvo, quase acerto o Pau de Sebo que subia ou descia a rua da Paciência - caminho mais discreto para a zona - que, espantado com o estampido e o risco corrido, chegou a gritar "tão querendo me matar", só para o meu gambá alertar...
No dia seguinte correu célere a especulação sobre um atirador misterioso na cidade...e como não tombei o Pau, e o possível delito já prescreveu, delato-me: fui eu. E o gambá, Içamá, sobreviveu!