AFETOS DE CADA UM
Passo na rua e vejo um par de olhos ali no chão, com mãos estendidas ou não, pedindo implorando, um pouco de afeto, de imediato me vem a mente que aquele ser um dia foi um bebê, que teve um útero aconchegante, que foi alimentado, que recebeu beijos no seu rosto, que foi ninado, que dormiu o sono de criança numa caminha quente, que correu, cresceu e se perdeu de todos os afetos e agora está ali diante de mim, que fico de coração partido, olho nos olhos daquele meu irmão e falo BOA NOITE! As vezes recebo um sorriso de gratidão, pelo simples fato de tê-lo visto. É certo que ele não terá uma boa noite, não ali no meio da rua, no frio da madrugada, com o estômago corroendo de fome.
Por falar em fome, há a fome dos artistas!!! Ao passar pela rua, bem perto do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, encontrei um artista paulista que expunha suas telas, belas por sinal, no chão, eu as olhei e fiquei com vontade de comprar, mas logo lembrei que estava sem dinheiro, ele veio me oferecer deu o valor e quando viu que eu já ia embora, se abriu dizendo, " Estou o dia inteiro aqui e não vendi nada, estou com muita fome, compra uma tela pra eu comer um lanche por favor!" então fomos a uma lanchonete e paguei um lanche no valor da tela, e aquele paulista me deu um sorriso agradecido, naquela mesma lanchonete que costumo tomar sucos deliciosos, tenho encontrado músicos da orquestra do Teatro, esses seres maravilhosos estão também abandonados a própria sorte, há mais de três meses sem receber salários, pobre artistas brasileiros!!!
Afetos perdidos que se embriagam, almas que um dia em algum lugar não se sentiu feliz consigo e resolveu adormecer da realidade dura sem amor, então seu corpo preencheu com a anestesia maldita da bebida ou das drogas, esses seres poucas vezes retornam para a realidade, terminam se perdendo num mundo violento de turbilhões de emoções desencontradas que o vício oferece.
Amores perdidos, amores vividos ao estremo, perdidos pela morte, pela distância, pela força do dinheiro, perdidos mas nunca esquecidos, porque o amor é o afeto que não se permite apagar, é tatuagem eterna na alma de quem o sente. Tem gente que só sente uma vez e vive o resto da sua vida das lembranças daqueles dias de amor, outras são mais afortunadas, conseguem um novo amor, mas nunca o compara, são afetos diferentes, são amores diferentes, cada um ao seu tempo, tem também quem consiga amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo, são aquelas pessoas que vivem com duas ou mais famílias, duvido que não haja amor! Acredito que todas as formas de amor são possíveis. As pessoas gostam de enquadrar, gostam de classificar.
O amor é o afeto mais livre que existe, e por isso é impossível de classifica, enquadrar, de rotular, é para se sentir e ponto final.