Rua minha...lembrança vovozinha...

Ao Doutor Agenor Cançado, que dá nome à minha rua, em Pitangui, é atribuído o heróico ato de salvação da imagem de Nossa Senhora do Pilar, a padroeira da cidade, quando se incendiou a matriz municipal, no ano de 1914.

Se pouco me lembro de ter visto a referida imagem a ornar o altar principal da nova matriz, que, reconstruída, foi inaugurada em 1921, de seu salvador, o Dr Agenor, só tenho visto espaçadas, mas sempre encomiásticas referências. Popularmente chamado de Nonô, é assim que ele aparece, nas placas que designam minha rua. E grafado erroneamente, Nono e Nonó...mas quem há de ligar para isso, se nem o estafeta que a trafega todo dia, de placas ainda precisaria?

E é uma rua curtinha, essa minha - e do Doutor Agenor - não mais longa de duzentos metros, com o máximo duma vintena de casas a orlar seus passeios estreitíssimos e assimétricos. Curtinha, mas curtida. Assim ao menos foi no meu passado, quando lá nos instalamos vindos do Brumado, em julho de 1958. Era então mero beco sem saída, a que papai procurou dignificar nomeando-o II Travessa São José. A primeira, já existente, é uma rua acima, paralela e já então com saída, ligando a praça São José com a Rua, antiga, da Paciência, e hoje homenageia outro prócer do nosso passado, o Maestro Quito Nunes, cujo qualificativo já diz tudo - musicalmente.

Mas e o Doutor Nonô? Muito menos dele sabia, além da proeza que o distinguiu, e das cepas ilustres de que provinha: Cançado, e se me não engano, Xavier, ambas radicadas na briosa Velha Serrana de muitas gerações.

E há coisa de duas semanas, foi justamente do José Rodrigues de Faria, mais conhecido por Vovozinho, octogenário e tanto, barbeiro por mais de seis décadas, e sempre residente na rua paralela abaixo, a Chiquinho Teodoro, mas dita por todos Beco dos Canudos, de mais longa história, foi que ouvi a surpreendente revelação, quando por mim indagado, falou sobre o Douto Cançado:

- Foi meu padrinho de batismo, a quem sempre pedi a bênção. A gente se via muito pouco, apesar de termos sempre morado em Pitangui. Numa das últimas vezes que lhe aparei os cabelos, ele me falou que só não morreu de fome em Pitangui, graças à horta que tinha no quintal, e donde tirava o seu sustento. O povo de Pitangui, naqueles anos da primeira metade do século XX não tinha nada, o dinheiro não corria...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 05/03/2017
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