Eu poderia falar dos Beatles, que ele tanto escutava... e de quando ele dizia às moças da barraca de suco, que eu era inteligente e já sabia cantar em inglês (mesmo sendo uma grande mentira, que para ele era uma grande verdade).

Poderia falar dos trocadilhos que a gente fazia com os nomes nas ruas, nos outdoors, nos letreiros, misturando a parte de uma palavra com uma parte de outra e criando... novas palavras. Não é assim que a vida é?

Eu poderia falar que ele tinha um enorme quadro de Caetano Veloso em seu quarto. E que ele me apresentou a música clássica, ao humor negro do Monty Python e principalmente... aos passos do Michael Jackson que eu tanto imitava nas festas e reuniões no playground.

Mas eu me lembro – mesmo - de um dia em que eu estava brigando com alguém (acho que era meu primo), porque eu SEMPRE estava brigando, com alguém. E eu queria usar um brinquedo como arma para agredir esse alguém. E então meu avô segurou o meu braço. Não sei se com raiva, mas... com bastante... determinação.
Foi foda.

Foi foda, porque eu achava que velhinhos eram homens fracos. E mais do que isso, não achava que ELE fosse capaz de me segurar – ou segura qualquer coisa - com tamanha força... ou... determinação. E eu chorei por causa disso. Foi um baita susto. E agora, pensando em tudo isso... me vêm uma voz que diz:

"você gosta de evocar coisas tristes, cara... para de se torturar."
E eu respondi sussurrando:

"Eu gosto de pegar coisas tristes... e transformá-las em algo mais... algo... lindo.".
Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 01/03/2017
Reeditado em 17/03/2017
Código do texto: T5927226
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.