O Jucorive
No meio de um Zico barbeiro, um Chiquim alfaiate, um Santo carroceiro, um Joaquim carteiro, um Antõe carapina, um Neném relojoeiro, um Dito carpinteiro, um Dico açougueiro, um Brandão guarda-livros, era o Juca ourives o que mais fundia, tanto na ouriversaria, quanto o nome trazia, ao que fazia: Jucorive, ainda que sôe horrive...
E, ao contrário dos demais profissionais, parecia estar só, único, na categoria. A ele toda jóia pertencia, para lhe dar brilho, forma, ou qualquer outra fantasia.
E de sua janela é que atendia. Do resto da casa, na esquina confluente de quatro ruelas, a patroa se ocupava, mesmo quando nem a cara mostrava. Seu jardim, do lado oposto à janela da freguesia é que se encontrava, e vicejava.
Metido no seu terninho de brim cáqui, Jucorive era a autoridade áurea da cidade. Cercada de suas joinhas mamãe lá chegou com o resto do tesouro que tinha: um anel doirado, duma baga encastoado. Eu acho que era verde, os manos todos sustentam que era azul. Ou vice-versa, e aí a lembrança se dispersa.
Não sei bem o que mamãe queria com aquela visita breve. Talvez uma avaliação para passar nos cobres aquele único adereço de que dispunha, ou quem sabe para um ajuste. O certo é que o anel voltou como solitário ocupante do porta-jóias de loiça que papai havia lhe dado no natal precedente.
A verdade é que não acompanhei o diálogo de mamãe com o Jucorive, que foi tanto receptivo quanto expeditivo. E a imagem que guardei foi da cabeça pequinina, já grisalha, bem aparada, que lhe dava a impressão de um prego, não nego, é a lembrança que carrego.
Sobre o Jucorive, que chegou a cruzar a barreira centenária da existência, vi uma história apaixonante, assinada por Mike Juliette, além de neta, sua tiete. No Pitangui em Mosaico, publicação que reúne pitanguienses das letras e outras tretas.