Cap. II - FAZENDO A VIDA VALER
Eu sou Mayelle Barnabé Anchesqui
“Caminhando Jesus, viu um cego de nascença. E os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu-lhe Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus.”
CAPÍTULO UM
O QUE OLHOS VIRAM
"Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam." 1 Coríntios 2:9
Existem momentos em que as palavras não conseguem traduzir, ás vezes o que vemos, ás vezes o que ouvimos, ás vezes o que sentimos ou pensamos – sem linguagem, sem fala, mas que a nossa mente não consegue fugir, fazendo destes momentos o silencio da alma. Assim, nos detivemos por alguns segundos abstraídos, passivos, e quando somos despertados, procuramos alcançar com maior intensidade – tentar descrever, fotografar, falar para todos sobre aquele momento de rendimento em que fora conclamado o nosso espírito, atônitos flutuamos no imaginário e respiramos – preciso escrever esta história.
Foi num domingo de agosto de 2016 por ocasião de uma visita de despedida. Estávamos mudando para um estado muito distante, se quer havíamos estado naquela casa por uma única vez, havia uma expectativa por encontrar parentes e amigos, poder cear com eles, comer dos frutos da fazenda. Na chegada, nem os cachorros ficaram no seu lugar, aliás, foram os primeiros a nos receber – os guardiões da casa. Também as pessoas vieram ao nosso encontro – abraços e beijos e em pouco tempo, todos nós estávamos sentados ao redor daquela mesa enorme na varanda da casa. Os olhares giravam em torno das pessoas e das belas paisagens coloridas do verde dos coqueiros e dos cafezais:
- Como é lindo este lugar!
Ana Maria mostrava o pomar...
- Olha, quantos passarinhos!
Perguntava eu ao cunhado Renato:
- E a água Renato, como você está enfrentando a seca?
- Vamos dar um passeio.
Em resposta, Renato nos convida para visitar os lagos da fazenda. Era de fazer dó, ver os peixes boiando em meio ao que restara. Às margens parecia ter formado uma pequena praia, o barco abandonado com seus remos e cheio pelo meio daquela água esverdeada que ia até o meio do lago, quase sem oxigênio.
Entre idas e vindas, as caminhadas em meio ao cafezal, bananeiras, chegamos até a horta que ainda se mantinha viva e cheia de vigor – taiobas, couves, coentro, pimentão, enfim, muito verde. O cheiro da comida que vinha da cozinha parecia dizer que estava chegando a hora do almoço. Aos poucos,todos novamente ao redor da mesa. Antes da oração de gratidão, todos pareciam falar ao mesmo tempo, alegres e contentes contavam os seus “causos”... Obrigado Senhor... Á minha direita, me dei conta que havia uma menina me parecendo bem pequena, parecia meio encolhida. Notei que havia alguma coisa diferente com ela. Olhei para ela, e ela logo esboçou um lindo sorriso, mas, não disse nada. Pensei que ela não falasse, era quase somente sua cabeça e um corpo meio contorcido. Ouvi sua voz, notei que ela queria corresponder-se comigo:
- Como é seu nome?
- Mayelle!
Respondeu a doce menina. Pensei não importuná-la, porém ansioso querendo entender se podia me aproximar mais. Tenho sempre em meu coração uma vontade enorme de fazer o que às vezes outras pessoas não entendem, essas pessoas especiais, em seu juízo gostam de ser tratadas como iguais.
O almoço demorou um pouco, e nós aproveitamos bem o nosso papo, quase não falei com as outras pessoas que estavam juntas à mesa. Nossa conversa era muito à vontade e muito sincera. Notei que ela começava a confiar em mim, porque fazia todas as perguntas que ela de fato gostaria que não fossem omitidas. Logo, a nossa declaração de amor:
- Sabe Mayelle, gostei de você!
- Eu também gostei de você!
Foi sua sorridente resposta, e nós continuamos a conversar.
- Posso te perguntar tudo sobre você?
- Pode!
- Sem problema?
- Sim, sem problemas!
Ela já havia falado que não gostava que as pessoas olhassem para ela com aquela cara de dó, ou a chamassem de “meu bebê” – pois que ela se sentia como uma pessoa normal e não era nenhuma criança para ser tratada como bebê. Senti que ela estava encorajada em continuar falando sobre tudo que ela já trazia na sua bagagem de experiência, na escola, suas amigas, a sua família e o carinho que recebia de todos. Eu havia esquecido de todos junto á mesa, certamente, entenderam que esse papo era importante para ela. Eu me apaixonei por Mayelle, e confessei:
- Mayelle, eu estou apaixonado por você!
Ela de rosto avermelhado sorriu cheia de graça. Vamos escrever a sua história?
- Vamos, mesmo!
Sorriu abertamente.
- Se importa em contar tudo com detalhes sobre você?
- Não!
Mayelle abriu o coração...