Viu o Vicentão...?
Conquanto de hábito questionado, e passante frequente no trecho de estrada estadual que liga o município da Onça de Pitangui a Pará de Minas, respondo, perplexo, que ainda não vi o Vicentão. E ele mora bem rente à beira da estrada, numa casa de dois pavimentos que construiu, faz anos e anos, mas que sempre parece abandonada.
Às janelas superiores faltam ainda as folhas, ou vidraças e se lá tem luz e água corrente são coisas que botam mais em dúvida minha mente. Um monte de telhas francesas à margem do alpendre dá-me idéia de que, mesmo se interrompido, o trabalho pode ainda ser concluído.
Mas que é feito do elusivo morador que nunca vejo à janela, ou nas imediações de sua casinha pouco singela? Dele ouço falar que a expressão favorita, que todo conhecedor seu repete quando o imita, é "...cê já pensou?", seja para iniciar ou concluir uma frase. Jà é uma pista.
Outra é que o abandonou a companheira, que continua vizinha sua, mas tampouco no meu campo visual atua. Feito essa superlua tão alardeada, pela nebulosidade destes pluviais dias e noites, sempre tapada... E há ainda um detalhe que espero, minha incessante busca não avacalhe, ao contrário, permita-me logo, muito pronto, matar essa charada do sujeito oculto, e ponto:
Quando tombou nas proximidades um caminhão de manilhas, Vicentão (so)correu em salvar as suas, afinal, carga na estrada espalhada, é risco, e não custa nada. Pois bem, no afã de mais carga carregar, atabalhoadamente, deixou uma delas sobre seu pé tombar, justamente na continução do dedão. E tamanho foi o estrado que para firmar o pé sinistrado, teve que mudar a forma de calçar sua haviana, firmando a alça entre o segundo e o terceiro artelhos. E até que se cure completamente, a chance de o encontrar, aumenta pra gente...