Chico mineiro
As lembranças que nossas tias, as irmãs Vicentina, Isabel, Rita e Maria, tinham de Chico, irmão seus por parte de pai eram sempre gratas e comovedoras. Chico, que provinha do terceiro casamento de Vovô Velu - que experimentara quatro atrozes viuvezes - havia convivido pouco com as meninas nascidas da quinta união. Mas o bastante para lhe infundir profundas impressões de filho ditoso e de irmão caridoso.
Da sofrida e estéril existência no povoado de Onça de Pitangui, muito moço Chico partiu com o irmão José para o mundo de São Paulo à busca de trabalho e de uma vida mais humana, de onde poderia ajudar o já alquebrado Velusiano a sustentar a família.
Com o retorno prematuro de José, Chico, nada obstante manteve-se de pé, e cheio de fé. Conseguiu emprego na linha férrea e se fixou em Santos, auferindo seu modesto, mas seguro quinhão que a riqueza cafeeira proporcionava à locomotiva da economia do país.
De seu primeiro retorno às Gerais, Chico foi encontrar a família no povoado de São Gonçalo do Brumado, onde a filharada velusiana iria, paulatimente empregar-se na fábrica de tecidos. Chico liquidou todas as pendências pecuniárias do pai e encheu de ânimo e mimos a irmandade.
A volta seguinte, já falecido o patriarca Velu, veio por carta. Duas missivas, que zelosamente, as irmãs guardaram no fundo de seu guarda-roupa e seus despidos corações. Nelas, o Chico convertera-se em Francisco e falava pela voz de Aníbal, companheiro de uma longa e venturosa travessia e testemunha de um desfecho cruel.
Acometido de grave e incurável moléstia, Francisco falecera, deixando uns minguados pertences pessoais, e um vazio impreenchível. De seus felizes mementos ficaram a estampa, em preto e branco, de uma fisionomia do xará Francisco Alves, o registro de um momento de lazer, em conservador traje de banho na praia de Santos, e a lembrança imorredoura, capaz de gerar e regenerar prantos.