Desilusão de ótica

Cansado de andar a olho-nu, e querendo melhorar meu visual fui bater ali numa ótica da Espírito Santo com a Almazonas...Induzido ou por acaso, lá fui me deparar com aquele homenzarrão, de baritonal vozeirão - e carente duma boa comissão. Era o Silvio, colega do curso de Geografia, na UFMG.

Desdobrou-se de atenções para comigo. Como, aliás, faria para qualquer potencial ou real freguês. É seu jeito nato de sensatez. Ou louquez...

Mas o fato foi que comprei o aparato, que não era mais que pura armação: continha lentes semi-escurecidas - e me protegia da claridade belorizontina, infelizmente na mesma proporção com que me afastava da possibilidade de algum flerte.

Cheguei a pilheriar com o colega que aquele trabalho ali, conquanto tão central e necessário não passava de ilusão de Ótica. Seu futuro lhe reservava cousas mais maiores e melhores.

E não é que ele, arrimo familiar, foi parar noutra freguesia, vendendo leotards e malhas finas numa galeria da mais refinada rua São Paulo. E, em bustos, quadris e coxas, tudo, ou quase tudo fez: das medidas às observações mais judiciosas à sempre atenta e crescente freguesia. E ainda assim, nosso barítono não cantou.

Iria soltar a voz mesmo era em cursinhos preparatórios para o vestibular que eram a coqueluche dos anos setenta e mais adiante.

A rede municipal de ensino iria também haurir de suas boas práticas e inesgotável sede de ensinar, encaminhar e empoderar.

Rico - de experiências e de satisfação do dever cumprido - mudou-se das Gerais para o Rio dos carnavais. E agora, quando folga arranja - na academia do frescobol do Arpoador, onde vitalidade esbanja - vez ou outra, vem a Minas, solta a voz, e uma canja, dá a nós.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 22/09/2016
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