Nascimento
Vai criança! Desembarca no mundo!
Vem ver a luz e a infinidade de correntes que te aguarda
Uma por uma
Uma após uma
Um emaranhado de superficialidades
De excessos
Derrocada de supérfluos, e de inutilidades.
Vagueia teus anos de infância entre brinquedos e mágoas.
Entre lembranças boas e outras amargas
Entre socos, pontapés e janelas quebradas
Entre marcas e cicatrizes, do chão de terra
Entre sorrisos, lágrimas e lições.
Vem criança! Ver a escola.
Cheia de encanto e de pequenos escravos
Futuros trabalhadores da nação
Programados feito robôs
Competindo feito animais
Estrangulando-se em números, frases, crases e acentos.
Em busca de um sucesso particular ilusório.
Vai criança, cresce rápido, acelera.
Porque a vida não é só beleza.
É luta e caos.
Mas também é juventude de um primeiro beijo apaixonado.
E depois de um novo primeiro beijo apaixonado
E uma infinidade de pequenos e grandes amores adolescentes.
Vai criança! Força!
Usa esse teu cérebro para descobrir quem você é!
Conheça o mundo novo
E aproveite o ensino que eles dizem ser superior
Que faz com que os imbecis se sintam superiores uns aos outros
Cheia de gente boa e ruim
E de muitos egos inflados
Inflando mais egos já inflados
Com a corda no pescoço
Perseguindo um canudo inútil
Que lhes convence do que é sucesso.
Vai criança!
Corre, atrás do trem
Do emprego
De gente
Corre contra o relógio
Corre para pagar conta
Ninguém lhe explicou que a vida de quem cresce é correr.
E correr
E correr mais.
Até chegar o momento que cala
O temido buraco da vala
E aí criança eu te pergunto
O que foi que você fez pelo mundo?
Quando chegar o fim real
O que é que você fez afinal?
Charlene Angelim.