Anita

Se existir a face do amor, Anita diria que a sua era inconstruível, pois não saberia atribuir-lhe olhos, nariz, boca, sobrancelha, e o que mais lhe doia, nesta arte jamais desmistificada era não poder vislumbrar aquele olhar apaixonado que tanto lhe impulsionava para a vida. Sabia no entanto, que era este "olhar inimaginável" que a conduzia para um futuro e que o presente apenas a fazia dar voltas sem que houvesse uma única alteração, e foi assim até o último minuto que antecedeu ao relatar sua história. O ouvinte era um espelho, que refletia nitidamente a imagem de uma mulher madura e indefesa.

A cronologia desordenada e desenfreada impulsionou o espelho a narrar o suposto final de uma história sem enredo, sem cenário, onde as personagens se construiam através de palavras, reticências e sobretudo pelo silêncio, que dificilmente lhe abandonava.

E era justamente o tempo desorganizado que agia como bandido, açoitando Anita aometidamente, não dando chances pra que refletisse sobre os erros e acertos. Sangrava, chorava e esquecia. Depois, dando continuidade aos amontoados de acertos e erros reconstruia-se, trilhando sempre caminhos tortuosos, onde percorrer por ele era como se estivesse tentando abrir caminho no meio de uma mata fechada, escura e inabitada.

continuará... (hoje eu estou um porre!!!)