O Zé Esperto
O Zé Esperto foi, com autoridade, o responsável pela Junta de Alistamento Militar de Pitangui. Registrando e colhendo as impressões do polegar da macharia da cidade. Tanto pelos que ardentemente aspiravam servir o glorioso Exército Nacional, quanto porraqueles que só queriam fugir do pau.
Eu me incluía na segunda categoria. Já havia abraçado o Exército de Cristo, e ao invés da farda, que não deixava de ser garbo de truz, meu fardo era a cruz.
E o Zé, cuja razão de esperteza ainda não consegui definir - uns diziam que por ser rápido no gatilho, outros, nos goles - deu-me, nada obstante, e desde a primeira vista, demonstração de que era mesmo um experto na matéria de conduzir os jovens.
Profissional era a sua acolhida, em que eu encontro paralelo nos aplicadores de injeção ao tentarem convencer o paciente de que não há razão pra medo da picadura. No fundo, no fundo, ela é que cura. E tem gente que ainda a esconjura. Mas deixemos de conjetura.
Zé, como eu, era Miranda, sem contudo haver aparência de parentesco próximo. Sua família já vivia havia muito radicada no Pays do Pitanguy, porquanto meu pai, Luiz Miranda, tor Velu aveludado, vinha da Onça, provindo da cepa de um Velusiano Justiano, seleiro curvelano. Demais, o Zé tinha olhos azuis, e eu andava longe do blues.
Zé foi quem me deu a orientação após o solene ato do alistamento - junto com a FAM - folha de alistamento militar, recomendando-me procurar um Tenente Brandão, do Pará de Minas para, ao vencimento da validade do documento, obter o providencial adiamento de incorporação, em virtude da batina. A menos que viesse eu a ser capelão, por sina.
Sem querer confundir os nobres símbolos nacionais com as cousas mundanas, eu confesso que, sob a tentação satânica, hesitava entre a continência à Bandeira Nacional e uma Denise Bandeira tal, femme fatale, que começava a fazer furor nas telas do cinema pátrio.
Zé, fingindo ignorar minhas inclinações recônditas, estendeu-me a mão direita desejando-me boa sorte. Espertamente, num aperto nem lasso nem forte.