Paricido
É da Abuja, Nigéria, que me chega por meio do confrade recantista William Santiago, a notícia da partida sentida e sofrida de nosso amigo comum, Paricido.
Geraldo Aparecido brincou na minha rua nos meados daqueles anos cinquenta, cantou, pulou corda, jogou mariquinha, passou anel, e até quis pegar bonde com minha mana Bebel. Futebol, não jogou.
E no enfeitiçado povoado do Brumado, que deixei, ele sempre ficou. E de lá para Pitangui o que nos trazia eram notícias, permeadas dum ou doutro mimo, duma abóbora a uma galinha.
Na estação da coroação de Jesus - dos meninos - em 57 ou 58, ele foi o primeiro a elevar a coroa a Jesus. Fê-lo com garbo e afinamento. Chegada a minha vez de trepar ao píncaro da glória, a voz traiu-me. Prestativo, o rouxinol do Brumado compareceu quando chamado. Joselito o aplaudiria.
Seu maior gosto, contudo, seria - imagino - cantar na coroação de maio, de Maria e das meninas. Era um anjo, que se recusava a ser marmanjo.
Embora nos distanciássemos cada vez mais ao longo dos anos, Paricido manteve-se preso ao torrão natal. Contava e vivia histórias fabulosas e até inventou um palácio de cristal para a mana Bebel, mas nem o botou no papel.
Da derradeira vez que o vi, vitimado havia anos por um avc, primogênito de uma devotada irmandade, Paricido, conquanto silente, inda sorriu, e, manualmente, esboçou um adeus.