Ubaldino das graças

Se eu lhe perguntar que nome de pia poderia desaguar no afetivo Dininho, cê vai pensar até em Orlandino, Galdino, Esmeraldino, mas dificilmente acertará com Ubaldino. Menos comum. E não bastasse um deles lá no Pays do Pitanguy, eles chegavam a ser dois, quando se celebrava a festa da padroeira, Nossa Senhora do Pilar, e um segundo Ubaldino, locutor de BH, lá pintava só pra mais bonito falar. Um da Fonseca, outro Guimarães.

Mas o que lá residiiu, no entanto, foi múltiplo: pai duma perrada de filhos, escrivão do crime, teatrólogo, cruzeirense empedernido, inaugurador da posse e pose televisiva na cidade, gozador implacável e impublicável, eterno aprendiz de motorista, e acima de qualquer conquista, Dom Ruão pra qualquer pista. Deve haver mais qualificativos certamente para quem se privou de sua amizade, ou simplesmente se magnetizou na órbita que Dininho orbitou.

O Doutor Arthur Bernardes, ligado a partes, artes e malazartes de nosso burgo, cercanias e anatomias, além de vizinho seu, deifniu-o em dois substantivos e uma preposição: Chaplin de Pitangui. E eu ousaria adicionar, Chaplin e o Garoto - sozinho, formando um par maroto.

Amigo de seus meninos - e cobiçoso do olhar das suas meninas - muito transitei pelo Beco dos Canudos, até mesmo depois que meu Beco, o sem-saída, ao dos Canudos paralelo, ganhou saída para a rua da Paciência. Era contagiante, diuturnamente, a convivência com aquele alpendre alongado, onde o primogênito William Jacques primava e primadonava, e primamaradonava, nos toquinhos de bola que disputava em intermináveis torneios. E a gente tentava replicar aquilo em casa, só para malograr. O charme das "willeiras" só no alpendre da casa do Dininho é que tinha graça, pra quem joga e pra quem passa.

Os jogos transmitidos pela tv tinham audiência concorrida, e lembranças de que a gente nunca olvida. Vimos lá, naquela telinha preto-e-branca da mais vil definição, mas em perfeito regozijo, a ponto de regomijo, o Brasil, num amistoso, dar de cinco a zero na Bélgica, com um Pelé inda meio menino e meio divino, e vimos até o Rinaldo - não confundir com o Reinaldo Rohr, que só assistia - ponta-esquerda do Palmeiras, fazer dois gols a zero, no tempo em que jogar com a Alemanha era sempre partida ganha. E mais, os Mirandas, em trinca, cochilávamos em coro para a gozação sem decoro. Só Dininho foi que não viu, sentado na primeira fila, olhos fixos na tela, enquanto mascava a fumaça de seu inseparável Minister entre as próprias dentaduras.

E uma vez até, ousados que éramos então, e descampado que ainda era o Chapadão, com seu campo de aviação, levamos lá alguns velhos para uma pelada com os mais novos. Dininho e papai levaram dribles colossais mas levaram tudo na sadia brincadeira e, sem torcida, sabiam que aquilo era um mero arremedo, quiçá esboço dum samba-enredos do que era, e se repetia na holofótica esfera, do clã bambambã dos Valérios, opondo a velha guarda de Genaro, Lauzinho, Nil àquelas feras Nadinho, Nenete, Jorge, Toninho...

Mas nenhum em grupo ou sozinho, fazia mais graça que o Dininho...

Paulo Miranda <pwmiranda7@gmail.com>

10:55 (Há 0 minutos)

para Juarez, Cco:Cesar, Cco:Teresa, Cco:Maria, Cco:Bebel_Lima, Cco:fla, Cco:William, Cco:Jose, Cco:Maria, Cco:Juracy, Cco:Guida, Cco:Laura, Cco:Miriam, Cco:luciana, Cco:renatoadvog, Cco:Ricardo, Cco:marcia

Dininho

Se eu lhe perguntar que nome de pia poderia desaguar no afetivo

Dininho, cê vai pensar até em Orlandino, Galdino, Esmeraldino, mas

dificilmente acertará com Ubaldino. Menos comum. E não bastasse um

deles lá no Pays do Pitanguy, eles chegavam a ser dois, quando se

celebrava a festa da padroeira, Nossa Senhora do Pilar, e um segundo

Ubaldino, locutor de BH, lá pintava só pra mais bonito falar e a

Vigorelli, do Saul Luciano anunciar. Um Ubaldino da Fonseca, outro

Guimarães.

Só que o que lá na Velha Serena e Serrana residiu, no entanto, foi

múltiplo: pai duma perrada de filhos, escrivão do crime, teatrólogo,

cruzeirense empedernido, inaugurador da posse e pose televisiva na

cidade, gozador implacável e impublicável, eterno aprendiz de

motorista, e acima de qualquer conquista, Dom Ruão pra qualquer pista.

Deve haver mais qualificativos certamente para quem se privou de sua

amizade, ou simplesmente se magnetizou na órbita que Dininho orbitou.

O Doutor Arthur Bernardes, confrade nosso, ligado a partes, artes e

malazartes de nosso burgo, cercanias e anatomias, além de vizinho seu,

deifniu-o em dois substantivos e uma preposição: Chaplin de Pitangui.

E eu ousaria adicionar, Chaplin e o Garoto - sozinho, formando um par

maroto.

Amigo de seus meninos - e cobiçoso do olhar das suas meninas - muito

transitei pelo Beco dos Canudos, até mesmo depois que meu Beco, o

sem-saída, ao dos Canudos paralelo, ganhou saída para a rua da

Paciência. Era contagiante, diuturnamente, a convivência com aquele

alpendre alongado, onde o primogênito William Jacques primava e

prima-donava, e primamaradonava, nos toquinhos de bola que disputava

em intermináveis torneios, com adversários de ocasião. E a gente

tentava replicar aquilo em casa, só para malograr. O charme das

"willeiras" só no alpendre da casa do Dininho é que tinha graça, pra

quem joga e pra quem a memória não passa.

Os jogos transmitidos pela tv da casa do Dininho tinham audiência

concorrida, e lembranças de que a gente nunca olvida. Vimos lá,

naquela telinha preto-e-branca da mais vil definição, mas em perfeito

regozijo, a ponto de regomijo, o Brasil, num amistoso, dar de cinco a

zero na Bélgica, com um Pelé inda meio menino e meio divino, e vimos

até o Rinaldo - não confundir com o Reinaldo Rohr, que só assistia -

ponta-esquerda do Palmeiras, fazer dois gols a zero, no tempo em que

jogar com a Alemanha era sempre partida ganha. E mais, os Mirandas, em

trinca, cochilávamos em coro para a gozação sem decoro. Só Dininho foi

que fingia que não via, sentado na primeira fila, olhos fixos na tela,

enquanto mascava a fumaça de seu inseparável Minister entre as

próprias dentaduras., entre uma e outra expressão de agrado ou

gozação...

E uma vez até, ousados que éramos então, e descampado que ainda era o Chapadão, com seu campo de aviação, levamos lá alguns velhos para uma pelada com os mais novos. Dininho e papai levaram dribles colossais mas levaram tudo na sadia brincadeira e, sem torcida, sabiam que aquilo era um mero brinquedo, arremedo quiçá esboço dum samba-enredo do que era, e se repetia na holofótica esfera, do clã bambambã dos Valérios, opondo a velha guarda de Genaro, Lauzinho, Nil àquelas feras que eles próprios criaram, Nadinho, Nenete, Jorge, Toninho...

Mas nenhum, em grupo, ou sozinho, mais graça fazia que o Dininho...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 10/05/2016
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