Chique Chiquinho

Chique Chiquinho

Entre os Chicos famosos, o Papa, o Xavier, o César, o de Holanda, o Ferramenta, o Landi, o da Corina, o do Vinício, o Giriza, o da Farmácia, o Égua Tonta, o do Custa, e o Queirós, entre nós, Chiquinho Cabeleireiro é, quiçá, o mais atroz, a despeito de sua tão aveludada voz.

Fez cabeças coroadas e, fiel aos nativos resistiu aos apelos de conquistar a fama universal, restringindo-se à efervescência da nascente e ebuliente capital. E foi sem hesitação que, aos doze anos, no sonho acreditou, e para a inaugurada - e ainda mal-agourada Brasília - embarcou. E território, glório, lá marcou.

No Palácio da Alvorada, era franca, frequente e triunfal, a sua entrada. Embaixatrizes estrangeiras, damas e demoiselles do jet-set brasiliense e nacional, submeteram-se, esperançosas e especulosas, à sua imperial tesoura. Tudo por um exuberante coup-de-coiffe. Até nossa celestial Pompéia, para além da sólida amizade, fê-lo sentir, num eflúvio, o possante Vesúvio. O grande Jambert vinha do Rio para embeber-se no know-how do grande expert, cuja rima engrandeceria a um Flaubert...

Et pourtant, esse talentoso estilista, após décadas de tanta conquista, filho pródigo, regressou à Velha Serrana, para assistir à sua maman, num desvelo venturoso, sem se jactar de seu passado alumbrado. Frequenta a noite, abraça ternamente os amigos, conta e ouve causos novos, antigos e, num ato de despojamento e solidariedade, revela seu descoberto sacerdócio de repassar aos jovens de múltiplos povoados que circundam a Velha Serrana, as artes do corte, da armação e da sedução das madeixas de nossas musas.

Instado a falar um pouco sobre seus anos doirados, revela-me que a mais estonteante cabeleira que penteou, tant pis, foi a de Ângela Diniz, de destino, porém, tão infeliz. Divinamente diabólica dondoca, vida interrompida pela vileza de um Doca. Estive quase a compor-lhe uma ode. Mas vi que, se fosse feliz na construção, cairia fatalmente em plágio da celebrada canção interpretada por Aznavour, Comme ils disent...J´habite seul avec maman, dans un très vieux appartement, rue Sarazate....

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 07/05/2016
Reeditado em 26/11/2020
Código do texto: T5627954
Classificação de conteúdo: seguro