O Pacamá
É a abreviatura de " o pai com a máquina" , numa referência tão-só verbal da meninada do Antônio Lúcio - mais conhecido como Lavanca - quando de sua chegada em casa com o tripé de retratista ao ombro, no iniciozinho da noite, após mais uma dura jornada naqueles anos das décadas de 50 e 60.
E o pacamá era mesmo razão daquela espontânea alacridade infantil. Em seu diuturno giro pelos povoados e roças da cidade de Pitangui ele, de hábito, trazia novidades sobre as encomendas de retratos de famílias que visitava.
E na também quase extrema paucidade de recursos em que vivia, era engenhoso o truque de seu relativo sucesso: após convencer os visitados das virtudes dum retrato em casa, e os ter juntado para o solene registro, Antônio enfiava a cabeça na caixa preta e simulava o disparar dum clique. Pedia, a seguir, uma fração do preço combinado e passava a uma nova visita.
Com a grana que arrecadava, Pacamá garantia o pão de cada dia da família e ainda comprava, na capital, as chapas que necessitava para, efetivamente, tirar as fotografias.
O passo seguinte era re-percorrer as casas onde havia criado a expectativa de fotografia e se retratar da "falha da máquina que havia queimado o chapa". E aí, a família voltava a se reunir para o clique definitivo. Sem finta ou tentativa de golpe, como a temer-idade que vem assolando nossa nação dilma vez...
Com fotógrafos já estabelecidos na cidade, dotados de material mais moderno para a execução de seu ofício, o retratista Lavanca tinha pouca chance de atuação urbana, a não ser na periferia, onde a gente mais humilde aos seus serviços recorria.
De mais, o Antônio Lúcio só ia ao centro do burgo para cumprir o sacro dever de assistir as cerimônias religiosas, enfatiotado em seu terno de brim cáqui, e só perturbado em sua compenetração por um pigarro insidioso que o fazia até cuspir e escarrar em sucessão. Coisa do Cão?