Especialmente naquela noite.
Ela sempre teve o dom de ser uma boa ouvinte. E não daquelas que apenas escutam histórias... Ao ouvir passos, ela sabia de quem eram, ao ouvir barulho de chaves, ela já sabia a quem pertenciam.
Mas naquela noite, especialmente naquela noite, parecia que seus sentidos estavam aguçados, e ela caminhava como se pisasse em nuvens... Leve e calma.
A brisa que tocava sua pele era tão intensa que parecia penetrá-la.
Ouvia latidos, risadas, passos, carros, músicas.
Sentia o vento em seu rosto enquanto seus cabelos voavam, sentia aromas, perfumes... De pessoas, de flores, dos jantares sendo preparados nas casas.
Era como se a imensidão a invadisse. Fechou os olhos e deixou que seus sentimentos a inundassem. Era como se nada a pudesse atingir.
Poderia caminhar durante toda a noite, o faria sorrindo, pois sentia possuir a leveza de uma criança novamente.
Naquela noite, especialmente naquela noite, ela dormiu sorrindo, e acordou também sorrindo, pois percebeu que é necessário ignorar as energias ruins e sentir a imensidão de coisas boas do universo.
Aquela única noite trouxe a ela uma lição, e a melhor das sensações por tê-la aprendido.