João Cândido Pinto Ribeiro
 
Luiz Carlos Pais
 
Este artigo destaca a trajetória de um mestre que atuou numa das fases mais remotas da história de São Sebastião do Paraíso, MG. A intenção consiste em destacar traços memoriais de sua atuação e de seu tempo. Suas práticas estavam dispersas em condições nem sempre tão favoráveis e mesmo assim persistiu por décadas até que fossem criados os cursos mais regulares da cidade. A principal característica desse período foi a existência de poucas aulas primárias públicas, a inexistência de ensino secundário regular e o trabalho de alguns poucos mestres particulares.
 
Devido às dificuldades de acesso aos documentos desse período, cumpre observar que os subsídios aqui redigidos, por vezes, se apóiam em traços preservados por escritores que registraram eventos sobre diferentes aspectos da sociedade. Mesmo com a dificuldade de acesso às fontes, esse retorno é um exercício necessário, pois contribui para preservar memórias educacionais e também para não passar a ilusão de que os grandes projetos de uma época surgem como passe de mágica.
 
Uma das mais remotas referências históricas da educação paraisense diz respeito à existência de uma escola primária regida pelo professor João Cândido Pinto Ribeiro, nos idos de 1844. Este mestre era pai de outro ilustre cidadão paraisense, o coronel José Cândido Pinto Ribeiro. Nessa época, a localidade tinha o estatuto de distrito vinculado ao termo de Jacuí e somente 11 anos depois seria elevada à categoria de freguesia, por uma lei provincial de 18 de maio de 1855.
 
A notícia sobre a existência dessa escola pioneira foi preservada nas memórias registradas pelo ilustre escritor José de Souza Soares, bem como foi confirmada na profícua produção histórica do professor Luiz Ferreira Calafiori. Seguindo essas referências, procuramos visualizar o contexto distante, quando o “velho” Imperador Pedro II ainda era um jovem com apenas 19 anos. O professor João Cândido Pinto Ribeiro, homenageado com a atribuição do seu sobrenome a uma das vias públicas centrais da cidade, foi um imigrante português que dedicou longos anos de sua vida ao magistério. Consta ter sido um mestre com sólida formação cultural, científica e pedagógica, em razão de estudos realizados na famosa Universidade de Coimbra.
 
O registro sobre sua atuação foi preservado na historiografia local na tradição memorial de sua própria família, pois o escritor José de Souza Soares era casado com uma de suas netas, filha do coronel José Cândido Pinto Ribeiro, cujo nome também está na história política e cultural de São Sebastião do Paraíso. Na época de sua atuação, estava em vigor a lei de 15 de outubro de 1827, assinada pelo Imperador Pedro I, considerada a primeira legislação educacional brasileira. Por esse motivo, a data motivou a criação do “Dia do Professor”. A intenção dessa lei era regularizar a instrução primária, em termos das matérias, dos modos de ensino e das condições para o exercício do magistério. Foi anunciado, no plano discursivo da lei, que em todas as cidades, vilas e lugares do Império deveria haver escolas de primeiras letras.
 
Assim, a escola do professor Pinto Ribeiro deveria funcionar numa sala multisseriada, normalmente frequentada por cinquenta alunos em diferentes idades e níveis de aprendizagem. Enquanto alguns davam os primeiros passos na alfabetização, outros já sabiam ler e escrever com mais desenvoltura. Em certos casos, para aumentar o número de alunos na sala, o mestre deveria usar o método de ensino mútuo. Nesse caso, os discípulos mais adiantados, chamados decuriões, eram escolhidos para auxiliar o mestre, zelando pela disciplina escolar, tanto no sentido de vigiar o comportamento do aluno como na tarefa de explicar a matéria. Essa estratégia funcionava como estímulo à iniciação ao magistério e alguns decuriões tornavam mestres de outras classes. Ao mestre João Cândido Pinto Ribeiro e aos demais mestres-escola de seu tempo, nossas reverências em nome da cultura e da educação da São Sebastião do Paraíso dos nossos dias.