Edifício

Eu não peco pela neutralidade

Peco porque não me escondo

Porque detesto o que é morno

Bebo da liberdade

E degusto o sabor do desapego

E pronto

Nunca raso

Sempre fundo

Intenso e equivalente

Eu não me alimento de emoções covardes

Perco o controle

Pelo remoto sabor da euforia

Mas aceito migalhas

Tolas e poucas que não deveria

Aceito o silêncio

Como alguém aceita a morte

Engulo a seco

E sigo

Choramingando minhas tristezas

Minhas dúvidas e minhas certezas

Eu pelo menos não erro

Por ser

Eu me pertenço

E sou minha

Não deixo o acaso me definir

Nem a sorte me escolher

Meu caminho me fez

Cada passo e pedra

E choro em silêncio

Ninguém diz amém para tudo

E aceita as consequências sem se lamentar

Eu também tenho minhas dores

Minhas cicatrizes profundas

Estão ali

Onde o som do riso impede de ver

Poeira e ferrugem

Rachaduras no que nunca foi concreto

Minhas estruturas nunca foram intactas

No edifício de mim

Só eu sei quantas são as vidraças quebradas

Me deixa aqui

Hoje eu quero flertar com a solidão

- Charlene Angelim

Charlene Angelim
Enviado por Charlene Angelim em 10/02/2016
Código do texto: T5539315
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