Edifício
Eu não peco pela neutralidade
Peco porque não me escondo
Porque detesto o que é morno
Bebo da liberdade
E degusto o sabor do desapego
E pronto
Nunca raso
Sempre fundo
Intenso e equivalente
Eu não me alimento de emoções covardes
Perco o controle
Pelo remoto sabor da euforia
Mas aceito migalhas
Tolas e poucas que não deveria
Aceito o silêncio
Como alguém aceita a morte
Engulo a seco
E sigo
Choramingando minhas tristezas
Minhas dúvidas e minhas certezas
Eu pelo menos não erro
Por ser
Eu me pertenço
E sou minha
Não deixo o acaso me definir
Nem a sorte me escolher
Meu caminho me fez
Cada passo e pedra
E choro em silêncio
Ninguém diz amém para tudo
E aceita as consequências sem se lamentar
Eu também tenho minhas dores
Minhas cicatrizes profundas
Estão ali
Onde o som do riso impede de ver
Poeira e ferrugem
Rachaduras no que nunca foi concreto
Minhas estruturas nunca foram intactas
No edifício de mim
Só eu sei quantas são as vidraças quebradas
Me deixa aqui
Hoje eu quero flertar com a solidão
- Charlene Angelim