Luiza Aurora de Aguiar Silveira
Luiz Carlos Pais
Este artigo registra traços históricos da trajetória de uma ilustre professora normalista que exerceu o magistério em São Sebastião do Paraíso, nas primeiras décadas do século XX. Trata-se da professora Luiza Aurora de Aguiar Silveira, esposa do professor Gedor Silveira, conhecida como Dona Luizinha. Ambos foram nomeados, em 1899, pelo governo de Minas, como titulares de cadeiras de instrução primária pública da cidade, quando o sudoeste mineiro começava a se destacar como polo da cafeicultura nacional. A professora Luiza Aurora assumiu a 2ª cadeira para meninas e o professor Gedor Silveira foi nomeado na 2ª cadeira para meninos. Na época, a 1ª cadeira para meninos era ocupada pelo professor Ângelo de Souza Nogueira e a 1ª cadeira para meninas era ocupada pela professora Maria Lisboa. O jovem casal integrou à comunidade paraisense, onde constituiu família e deixou seus nomes na história local, sobretudo, por terem atuado, com competência na desafiante tarefa de contribuir na expansão da educação das classes populares. Conforme foi noticiado na imprensa da então capital mineira, a professora Luiza Aurora e seu esposo, professor Gedor Silveira, visitam a redação do jornal “Minas Gerais”. Ouro Preto. Ed. 335, 19 de dez. de 1899.
Natural de Diamantina, MG, Luiza Aurora de Aguiar nasceu a 17 de maio de 1879. Normalista formada no Colégio Nossa Senhora das Dores de sua terra natal. Um dos mais conceituados educandários mineiros do final do século XIX, berço de formação social e religiosa para moças, fundado pelo bispo da Diocese daquela cidade mineira, Dom João Antônio dos Santos. Por mais de um século, essa escola normal foi um renomado centro de formação de professoras do norte de Minas, com influência na região sul da Bahia. Ainda estudante, Luiza Aurora participou ativamente de trabalhos sociais realizados pela Associação das Filhas de Maria, uma respeitada entidade católica fundada em 1875 e que chegou a congregar 12 mil afiliadas no país.
Ainda solteira, a jovem mestra Luiza Aurora de Aguiar foi nomeada para ocupar uma cadeira para meninas no distrito de Lençóis, município de Boa Vista. Mas, ao se casar com o professor Gedor Silveira, o casal vislumbrou um novo plano para suas vidas, indo residir nas então florescentes terras cafeeiras do Sul de Minas. Em Paraíso, além de atuarem no magistério primário, ambos compuseram o primeiro corpo docente do curso normal criado pelo padre Aristóteles Aristodemus Benatti. Em 1912, este curso foi equiparado à Escola Normal Modelo de Belo Horizonte. A sólida formação intelectual e pedagógica do casal contribuiu na consolidação dos primeiros momentos históricos da formação de professores na cidade.
Educadora brilhante e em sintonia com os desafios do seu tempo, Luiza Aurora escreveu uma obra pedagógica sobre técnicas da arte de alfabetizar. Este trabalho intitulado Modelo de Escrita Vertical, foi publicado, em 1910, pela Tipografia Almeida Marques, do Rio de Janeiro. Além de exercer o magistério público, a princípio, ministrando aulas em sua própria residência, Luiza Aurora passou a integrar o corpo docente do Grupo Escolar Campos do Amaral, cujas aulas foram inauguradas em 1º de fevereiro de 1916, também foi professora do curso normal do Ginásio Paraisense.
Até por volta de 1920, ano do falecimento de Gedor Silveira, a professora Luiza Aurora dirigiu, por cerca de 20 anos, um estabelecimento particular misto, o Colégio São Vicente de Paula. Em 1914, era professora do curso normal do Ginásio Paraisense, quando esse curso estava vinculado à Câmara Municipal, sob a liderança do escritor e político José de Souza Soares. Um jornal do Rio de Janeiro publicou, em 1930, que a escola de particular regida pela professora Luiza Aurora, havia realizado os exames de avaliação do final do ano de 1929. [O Jornal, Rio de Janeiro, 5 de janeiro de 1930]. Os resultados obtidos pela mestra foram satisfatórios devido ao seu eficiente método de ensino. Três alunos tinham concluído o primário: Geraldo Pimenta, com distinção, Weber Brigagão e Nair Moura, aprovados plenamente. Nas outras séries do curso primário, quatro alunos foram aprovados com distinção, outros quatro foram aprovados apenas com distinção, 12 outros alunos foram aprovados plenamente e 23 foram aprovados simplesmente. Portanto, o Colégio São Vicente de Paula era frequentado por 50 crianças. Sua trajetória no magistério primário justifica a memória de tratar-se de uma das mais importantes mestras paraisenses da primeira metade do século XX.
Luiz Carlos Pais
Campo Grande, MS, 22 de Janeiro de 2016