Admissão de perfil

De corpo, e alma, discentes, perfaríamos pouco mais que uma vintena. Era o curso de admissão ao ginásio, ministrado no próprio Ginásio e Escola Normal Estadual de Pitangui, no finzinho de 1961 - aquele ano em que Jânio renunciara ao Governo.

O corpo docente era composto de professores do mesmo ginásio, que nos ensinvam as 4 matérias essenciais: português, matemática, história e geografia. Todos bambambãs, respeitados e reverenciados, capacitados a nos levarem àquele cobiçado patamar do saber: o ginásio. De longe, o mais fulgurante, sem porém, ofuscar o brilho dos mestres era o Professor Newton, dono da cátedra de português. A Antônio cabia a ininvejada tarefa de nos ensinar matemática, ou tentar nô-la incutir, pelo menos. Meméia Maciel, possivelmente, Amélia, era a musa de verdade da Geografia e para a história, se me não falha a memória, o lente era o Professor Morato, homem ocupadíssimo com lides políticas - que já fora alcaide da cidade uma vez, e viria e bisar o feito mais tarde - e leitura de mãos, onde costumava acertar com precisão aristotélica.

E dos alunos, confesso que não chego a me lembrar de todos. Já me vem lapsos cada vez mais expandidos com o passar do tempo. Afinal, estamos falando aqui de um decurso superior a meio século...

Mas vamos lá: começo comigo, que era o único, dos machos, a usar calças curtas. A mentira pode ter pernas curtas, mas, que inconha, tem-nas também a vergonha...Mas eu não ousava dramatizar aquela premência pessoal para o meu pai que, anos depois, com desvelo, falava da alegria que experimentou no dia em que fizera minha inscrição naquele curso noturno.

E entre os meninos, tinha o Matias, sempre falante, cheio de iniciativas como roubar tomates pelo caminho afora, tinha o Lúcio Flávio, já de óculos cobrindo seus olhos verdes, numa demonstração de sua precoce intelectualidade, tinha o Marco Antônio que podia passar por um italianinho em razão de seus cabelos tão negros, tinha o Marco Aurélio, já espichado para sua tenra idade e uns olhos azuis que lhe apressavam a puberdade. Acho que tinha também o Marco Fifi, o canhotinha da turma, mas ele que fez todo o ginásio comigo, só ele é que poderia confirmar.

E tinha um outro grupo, de meninos já mais crescidos, embora em idade não muito de nós diferidos, só que já andavam com porte de distinguidos. Era o caso do Tarcísio Maciel, que já ajudava o pai na loja ciclística e de decorações, o Haroldo, o Hevérton, o Marcionílio, todos eles já mais de olhos para musas do que para as travessuras rueiras...

E ainda um outro grupo, esse de moços ainda mais responsáveis, engajados em alguma atividade laboratícia, como o João Oldack, o Raimundo Quildário, o José Maria...

Mas e o melhor capítulo? Ficou pro fim. Meninas, enfim, e no desabrochar de sua juventude que costumavam sentar e caminhar agrupadas tal o seu instinto de preservação da casta idade... Eram a Glória, a Ana Lúcia, a Zezinha, a Dalvinha, e mais mais tinha mas que é de que reage a memória minha? Ah, bem, havia a Aparecida, a Geralda, a Maria Lúcia e, suprema delúcia, Samara que sob a blusinha alvar deixava insinuar aquele tão formoso par...

Nem luz bruxuleante àquela época nos deixava cochilar - ainda que toda a rapaziada se pusesse a sonhar...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 20/01/2016
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