NICOLAU MAQUIAVEL (1469-1527)
Niccolò Machiavelli nasceu em 3 de Maio de 1469, em Florença, Itália, filho de Bernardo Maquiavel, que era advogado, legislador e tesoureiro de uma província, e de Bartolomea Nelli, bela e de uma família que não se poderia dizer que era nobre. Teve sua educação em um padrão elevado, mas não comparável a outros do renascimento, assim estudou matemática e latim aos 7 anos, e aos 8 anos estuda na escola de Battista de Poppi. Aos 12 estuda com Paolo de Ronciglone. No diário de seu pai aparece que ele ficava dedicado aos estudos dos clássicos, em especial sobre o tema de humanidades. Lia assim também Cícero. Também estudou com Marcello Adriani. Aos 28 anos viaja para Roma. Com 29 começa sua atividade política como secretário, mas apenas o conseguindo em segunda tentativa, pois na primeira não obteve êxito, por ter outro convocado, ligado a um religioso de seu tempo, Savonarola, que depois foi condenado por heresia, perdendo o cargo. Assim consegue o cargo de secretário na segunda chancelaria da República. Teve em seguida várias missões de tom diplomático e político, senão estratégicas de governo. Deste modo em sua juventude observou o transcurso de grandes transformações que derrubaram as instituições e ideais medievais. Aos 32 anos se casa com Marieta de Luigi Corsin, tendo dessa união 6 filhos. Por outro lado, seu relacionamento teve paralelamente uma amante, cantora chamada Bárbara Salutari. Maquiavel assim era um homem que tinha suas conquistas, mas ao mesmo tempo suas limitações, não tendo o sangue real. Desse modo ficou mais como conselheiro de príncipes, governantes e até mesmo tiranos, apesar de ele não ser muito a favor da tirania. Contudo diferenciava a ética política, ou moral, daquela moral privada de cada um. Assim surge a expressão que os meios justificam os fins. Disse que o uso da crueldade em certa medida se fazia necessária em um governo. Desse modo foi colocado em seu nome a origem de uma palavra, que não era justa em o condenar: “maquiavélico”. Maquiavel não era maquiavélico. Muitas são as provas para tal afirmação, e em seu melhor livro, que não é o “Príncipe”, mas sim “Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio”, exalta a República e não a tirania ou o absolutismo. Apesar que desejava em ideal que se tivesse apenas um governante. Numa política pela própria política. O príncipe assim tem a virtude, uma virilidade, e domina o destino ou a fortuna, pela sua atividade. O estrategismo de Maquiavel vai além dos atos administrativos, escrevendo também uma obra sobre “A Arte da Guerra”. Apesar que em se lendo a versão comentada por Napoleão, se percebe que o maquiavélico mesmo está bem além de Maquiavel. Também escreveu comédias. Belfegor, que era uma crítica do consumismo da época, continua atual até hoje. Ele estava inserido em um contexto e em um tempo que se separava da moral cristã e de instituições medievais, tão arraigadas e engolidas ao longo dos tempos. Assim Maquiavel antes descrevia de modo empírico e realista o que acontecia em governos de seu tempo, fazendo comparações com governos romanos e gregos de outrora. Prezzollini o relacionada ao Anticristo, em uma obra. De certo modo não seria estranho descobrir nesse pensador um liame com a mão esquerda, ou sociedades pouco heterodoxas, chamando alguns de satanistas. Certo é que ele venerava o paganismo e os valores daí resultantes. A obra que usou dele e de Montesquieu em diálogo foi usada para escrever os Protocolos e assim depois em muitas visões nacionalistas e de conspiração. Ele parece superar as noções de bem e de mal, e assim antecipar o pensador Friedrich Nietzsche em muitos aspectos. Também parece antecipar Hobbes, com um homem que tende naturalmente mais a tender ao mal que ao bem. Bem sacou Joly em sua obra sobre esse diálogo no inferno entre os dois pensadores, Maquiavel e Montesquieu: “ El secreto principal del gobierno consiste en debilitar el espíritu público, hasta el punto de desinteresarlo por completo de las ideas y los principios con los que hoy se hacen las revoluciones. En todos los tiempos, los pueblos al igual que los hombres se han contentado con palabras. Casi invariablemente les basta con las apariencias; no piden nada más. Es posible crear instituciones ficticias que responden a un lenguaje y a ideas igualmente ficticios; es imprescindible tener el talento para arrebatar a los partidos esa fraseología liberal con que se arman para combatir al gobierno. Es preciso saturar de ella a los pueblos hasta el cansancio, hasta el hartazgo. Se suele hablar hoy en día del poder de la opinión; yo os demostraré que, cuando de conocen los resortes ocultos del poder, resulta fácil hacerse expresar lo que uno desea. Empero antes de soñar siquiera en dirigirlas, es preciso aturdirla, sumirla en la incertidumbre mediante asombrosas contradicciones, obrar en ella incesantes distorsiones, desconcertarla mediante toda suerte de movimientos diversos, extraviarla insensiblemente en sus propias vías”1. Nada reflete melhor a política atual. Os Médici, banqueiros daquela época, voltando ao poder, fazem com que Maquiavel seja exonerado, multado e proibido de entrar no palácio, em 1512. Se herói era César Bórgia, que não era nenhum santo. E parece que a filosofia nunca foi nenhuma santa. Talvez Maquiavel ficou mais com a fama de ter denunciado as estratégias dos príncipes. Assim com 44 anos foi preso e torturado, por suposta conspiração, mas depois é inocentado. Tristemente comparou a mulher a sorte, e assim dizendo que essa devia ser espancada, e que a mesma era mais amiga dos jovens por serem menos respeitosos. Estranhamente se usa hoje Maquiavel como lição de liderança, empreendedorismo e mesmo no meio empresarial. Talvez assim alguns donos dos meios de produção mostrem sua verdadeira face, quando os fins justificam os meios. Tentou assim Maquiavel derrubar a política da escolástica e de Aristóteles, onde o governo deveria ser bom. Desvincula assim a política da ética. Mas teve boas lições sobre a liberdade, apesar dessa estar um tanto limitada pelo poder do soberano e do Estado. Morre aos 58 anos no dia 21 de Julho de 1527, na pobreza e sem o poder, sepultado no cemitério de Santa Croce.
1JOLY, Maurice. Diálogo en el infierno entre Maquiavel y Montesquieu. p. 77-78.