Professor Gedor Silveira

Luiz Carlos Pais

Este artigo registra traços da biografia didática do professor Gedor Silveira, um dos mestres que protagonizaram dos primeiros anos da educação escolar em São Sebastião do Paraíso, MG, no início do século XX. Estavam em curso os primeiros sinais de expansão da oferta da instrução primária popular, no quadro de difusão dos ideais republicanos e quando o avanço do momento foi simbolizado pela construção dos primeiros grupos escolares. Natural de Montes Claros, Norte de Minas, Gedor Soares da Silveira nasceu aos 15 de julho de 1874 e faleceu em São Sebastião do Paraíso, com apenas 46 anos. Em 1899, recém casado com a professora normalista Luiza Aurora de Aguiar Silveira, foi nomeado pelo governo do Estado de Minas para exercer o magistério primário público na cidade que se tornaria no principal polo da cafeicultura do sudoeste mineiro.

O competente mestre assumiu então a 2ª cadeira pública de instrução primária para meninos, quando na 1ª cadeira estava exercendo o magistério o seu companheiro de longos anos, professor Ângelo de Souza Nogueira. Cumpre observar que antes da criação dos grupos escolares, as aulas públicas eram ministradas na própria casa do professor. Assim, na residência do professor Gedor, além de suas aulas, funcionavam ainda as de sua esposa, professora Luiza Aurora de Silveira, nomeada no mesmo ano, para ocupar a 2ª cadeira para meninas. São informações publicadas no jornal Minas Gerais, edição do dia 3 de Dezembro de 1899.

Esse mesmo jornal publicou edital, declarando vagas a cadeira de ensino primário de São Paulo do Muriaé do Rio Pardo, por não ter assumido o cargo o professor Gedor Soares da Silveira, designado para reger aquela cadeira. O mestre tinha novos planos para sua vida: ir morar em São Sebastião do Paraíso, com sua esposa, onde se integrou à sociedade local e se tornou em cidadão atuante e filantropo. Foi diretor do Grupo Escolar Campos do Amaral, de 1916 a 1920, ano do seu falecimento, quando foi substituído interinamente pelo professor Ângelo. Retornando a esse tempo o corpo docente do Grupo era formado pelos seguintes professores Ângelo Souza Nogueira, José Emygdio de Lima e Gedor Silveira e pelas professoras Maria Leopoldina da Silva Lisboa, Hercília Soares, Luiza Aurora de Aguiar Silveira e Palmestina O. Bueno.

Além de exercer o magistério primário, nas chamadas escolas isoladas, o casal de educadores teve quatro filhos que nasceram em São Sebastião do Paraíso. Os dois também exerceram o magistério nos primeiros anos de funcionamento do Ginásio Paraisense. A princípio, nas aulas do curso preparatório para o início do curso ginasial, instalado em fevereiro de 1907, e, posteriormente, nas aulas do curso normal, instalado em 1910, sob a liderança do padre Dr. Aristóteles Aristodemus Benatti. Três anos depois, esse curso normal, já contemplado com um decreto de equiparação ao Curso Normal Modelo de Belo Horizonte, foi transferido para o poder municipal. Nos meados da década de 1920, o mesmo curso foi transferido para o Colégio Paula Frassinetti das Irmãs Doroteias. O início dessa história de formação de professores em Paraíso contou com a competente atuação do referido casal de educadores.

A memória do professor Gedor Silveira foi homenageada com a atribuição de seu nome a um grande hospital psiquiátrico de São Sebastião do Paraíso, referência em todo o sudoeste mineiro, confirmando sua engajada atuação social em favor de instituições filantrópicas. Tinha patente capitão da Guarda Nacional do 356º Batalhão de Infantaria, baseada na Comarca de São Sebatião do Paraíso, conforme foi publicado no Diário Oficial da União, 23 de novembro de 1906.

Quando foi implantada a reforma educacional do Ministro Rivadávia da Cunha Correia, em 1911, sancionada pelo presidente Hermes da Fonseca, o professor Gedor Silveira, no exercício de sua atividade de mestre-escola de São Sebastião do Paraíso, enviou ofício de felicitações ao Ministro, conforme foi noticiado na imprensa nacional. Na correspondência, o educador afirma que, naquele ano, estava completando 15 anos de experiência no magistério, tendo iniciado o ofício em 1896 e também era professor do Ginásio Paraisense, expressando sua concordância pelas medidas tomadas, há mais de um século, para reorientar o ensino secundário no país. Nas palavras do professor Gedor Silveira: É com indizível satisfação felicito Vossa Excelência pela reforma justa, necessária e excelente, que o espírito patriótico que acaba de dar ao ensino secundário e superior em nosso país. Disse ainda o educador que em São Sebastião do Paraíso, a reforma tinha causado a melhor impressão possível. Essa reforma instituiu o exame vestibular para o ingresso no ensino superior, que naquele momento foi um avanço em relação aos antigos exames preparatórios. Esses eram exames preparatórios eram realizados nos próprios estabelecimentos de ensino secundário. A aprovação nesses exames permitia o ingresso em cursos superiores, sendo que as instituições de ensino secundário não estavam sob o “controle” direto das academias de ensino superior. Em torno da questão estavam as correlações de poder estabelecidas pelos diferentes níveis da educação escolar. [Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 16 de Abril de 1911, p. 6.]

Luiz Carlos Pais

Campo Grande, MS, 20 de janeiro de 2016

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