GUILHERME DE OCKHAM (1288-1347)
Guilherme de Ockham, ou Ockham, Ockham, Occam, Auquam, Hotham e inclusive, Olram, nasceu no condado de Surrey, sul de Londres, perto de East Horsley, na Inglaterra, em 1288. Ainda em precocidade ingressa na Ordem Franciscana, onde estuda Filosofia. Também ainda jovem teria ido para a Universidade de Oxford ensinar matemática e ciências filosóficas, sem concluir o mestrado. Teve contato com outro filósofo franciscano, Duns Scot, sendo discípulo deste. Também fez estudos e escreveu ensaios sobre Lombardo. Foi acusado de heresia pelo chancelar da Universidade, chegando o Papa João XXII a concluir que ele estava defendendo heresia acerca de pobreza evangélica. Ficou praticamente em prisão domiciliar enquanto seus escritos eram analisados. Fugiu assim para Pisa, em momento seguinte acompanhando imperador Luís da Baviera até Munique. Mesmo lá continuou a atacar a figura do Papa, escrevendo sobre a infalibilidade papal, defendendo a liberdade e o direito natural, estes apoiados no Evangelho. Ockham parecia ir contra os poderes estabelecidos, e de algum modo antecipar certas reformas na Igreja, ou mesmo por suas críticas contra a instituição. Defende assim que o cristão pode apoiar o poder temporal contra o Papa, se não contrarias os ensinamentos do Evangelho. Seguindo assim ainda Scot, defendeu a doutrina nominalista no seu extremo, nos passos de Roscelino. Também apoiou a ala reformista da Igreja e fundou o partidos dos “espirituais”, que criticava a riqueza papal e seu luxo em contraste ao modo de vida franciscano, de pobreza e humildade, a exemplo de Jesus. Em nosso atual contexto, de Papa Francisco, isso já se vê em atual momento superado, uma vez a humildade do Santo Padre, seu comportamento mais do que acessível e desapegado. Ockham foi na época assim perseguido e escreveu até a sua morte, permanecendo protegido por esse imperador da Baviera. Chamado de doutor invencível, mesmo assim foi excomungado. Sua obras não chegaram a serem proibidas. Talvez pela grande carga lógica e filosófica muitos nem chegaram a compreender seus trabalhos. Se destacava assim a navalha de Ockham. Seja por não multiplicar os entes sem necessidade, seja por afirmar que a verdade mais simples é a que deve valer, resta que foi uma contribuição epistemológica também válida. As máximas pluralidade não devem ser postas sem necessidade. Essa natureza econômica não é de todo equivocada. Guilherme assim foi um defensor da liberdade e de alguma valoração da simplicidade. Mas talvez uma crítica que fique contra o filósofo da navalha é que nem sempre o mais simples seja a verdade ou a resposta. Suas maiores obras: Summa logicae e o Tractatus de sacramentis. Assim Ockham nega os universais platônicos e as abstrações aristotélicas. O que havia seria apenas os indivíduos, criados por Deus. O conhecimento real viria dos sentidos, do que pode experimentar e pegar. Isso parece ter um pé, senão os dois, no empirismo. Explica estranhamente certas ocorrências da física, como o movimento de uma flecha no ar, existindo algo não material que garante o movimento. Disse que o mundo é de tal forma porque Deus o deseja. Assim 2+2=4 porque Deus o quer. Parece assim o pensador confundir o Demiurgo com as Leis Cósmicas. Tal confusão era comum entre os padres. Parece talvez que tenha um pé também no panteísmo. Também essas partes individuais e simples de que ele fala parecem em muito com os átomos ou mesmo mônadas. Em Guilherme assim parece existir uma síntese filosófica. E caminhava para as experiências e largava um tanto das reflexões metafísicas. Lembra Jeauneau: “El Dios de Ockham está lejos del Dios-Intelecto de Eckhart y del Dios-Amor de Duns Escoto”1. Assim em teologia até não foi tão radical, quanto foi com a lógica e metafísica. Falece em 9 de abril de 1347, com 59 anos, em Munique.
1JEAUNEAU, Edouard. La filosofia medieval. p. 93.