NICOLAU DE CUSA (1401-1464)
O alemão Nicolau Chrypffs (ou Krebs), procedente de Cusa (Kues), junto ao rio Mosela, perto de Treves, em Richeland, e dali Nicolau de Cusa ou, às vezes, Cusano. Filho de um barqueiro, João Cryfts, e de Catarina Roemer. Teve seus estudos na Itália, sendo primeiro advogado, estudando em Heidelberg, e depois sacerdote, o único ofício que abria portas intelectuais na época. Também em seus estudos teve grande influência do misticismo alemão, assim mestre Eckart, Dioniso-Areopagita, São Boaventura e outros de tendência neoplatônica, incluindo Agostinho. Também de Raimundo Lulio. O filósofo mais significativo do início do renascimento. O verdadeiro fundador da filosofia moderna. Antecipa muitas teorias da ciência, mesmo sem a experiência necessária a comprovação de muitos fenômenos. Escreve assim que a terra gira em torno do Sol, que as estrelas são sóis e que a terra gira em seu eixo. Sendo o universo infinito, não existiria nem abaixo e nem encima. Ainda em Nicolau há uma espécie de sombra de Heráclito, em que existe a possibilidade da contradição, diferente de Aristóteles, onde havia a não-contradição. Assim a doutrina concidentia oppositorum. Toda a criatura é finitude infinita. Seu pensamento é em grande parte inspirado pela intuição, e não por método científico moderno. Chegou a usar de diagnóstico médico por meio de batimentos cardíacos. Funda também um asilo para idosos em Kues. Em linha parecida a de Roscelino, é um filósofo nominalista. Chega ainda a elaborar lentes para quem possui redução na capacidade visual, além de opinar que as plantas tiravam sustendo do ar. Mas sua doutrina principal está em Douta Ignorância, onde admite três formas de saber, os sentidos, a razão e a intelecto, nessa ordem. Acima da razão está o intelecto, atividade suprarracional iluminada pela mística ou pela fé, cujo objeto próprio é o Uno, Deus. Assim os limites dessa ratio. Nomeado Cardeal em 1448, e em 1450 torna-se Bispo. Participou assim do concílio da Basiléia, o que rendeu a obra de “Concondantia Cathólica”, onde defende uma sintonia entre a fé católica e outras fés cristãs. Isso lembra em muito o Vaticano II, de Papa João Paulo, onde se defendia essa sintonia entre a fé católica e as protestantes ou evangélicas, dentre outras do seio do cristianismo. Com Ratzinger se deu um passo para trás nesse sentido, restando que apenas a Igreja verdadeira seria a Católica Apostólica Romana. O interessante de Cusa é que ele busca sempre uma conciliação ou equilíbrio. Esse espírito conciliador se reflete mais no pensamento atual ou mesmo na Igreja, que já participa de forte diálogo interreligioso. Assim não será difícil ver o Papa apertando as mãos de líderes de outros credos ou religiões ao longo da história. Esse neoplatonista que foi Cusa estudou também Alberto Magno, e já tratamos do sentido a que o Grande Alberto toma, inclusive com saberes esotéricos e outros assemelhados. Pensa assim que o universo é infinito, e que isso em decorrência de Deus ser infinito e Unidade. Uma vez que nascem ainda estrelas, e que o big bang pode ter tido algo em seu momento anterior, nada obsta que em parte esteja correto Nicolau de Cusa. Mesmo antes da Criação pela cabala haveria os três véus de infinitude, e assim há algum infinito. Talvez no mundo material não esteja, mas que há, há. Há quem observe sua influência numa classificação que cabe a toda a filosofia: “Sensus - empirismo inglês; Ratio - predomínio de conceito sobre a imagem – Leibnitz; Intelectus e Ratio - positivismo, materialismo e Intelectus - Karl Jaspers; teólogos protestantes”1. A evolução do pensamento filosófico parece exigir todas estas visões em conjunto, o que seriam graus e que mostrariam por fim nossa ignorância. Somente a união e conhecimento de Deus nos dariam algum saber superior, através da mística. Esse intelecto superior parece ser uma Inteligência Cósmica. Também o intelecto de Cusa vai a um subconsciente, da parapsicologia, ou à uma Consciência Cósmica, de místicos.