A braços com Lizico
Amputado na metade do ante-braço direito, e impedido de manejar uma enxada no eito, restou a Lizico o ofício de vagar. E seu mundo, expandido na prosa, com a linguagem dum Rosa, foi ganhando eiras e beiras.
Recebido na casa de vovó, naquele ermo Brumado dos meados dos anos cinquenta, encontrou acolhida, comida e oitiva. Eram comuns as suas histórias, simplórias, inglórias, mas com a toada que satisfaz, ia ganhando confiança para ficar um pouco mais.
Quando viu assegurada a hospedagem por um pernoite, num cantinho modesto, compartilhado com ferramentas e (in)utensílios, adjunto ao galinheiro, nem pensou no cheiro que adviria do poleiro: ergueu a mão para o céu, e abençoou por inteiro.
Sorvido o cafezim do arremate, naquela chicrinha amarela, uniu a vontade de pitar com uma mágica estonteante perante a galera resfolgante: tirou do bolso sua caixinha de fósforos, depositou-a no toquinho do antebraço e cometeu a proeza de riscar um fósforo. Sucesso imediato. Estava cumprido o seu ato.