PIRRO (360-270)

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Pirron nasceu ao norte de Peloponeso, em Elis, entre 365/360 antes de Cristo, sendo pintor e ainda participando de campanha de Alexandre Magno em região oriental, de modo que conheceu lá sábios que mudariam sua vida, iogues gimnosofistas, que andavam nus e ficavam imperturbáveis frente as coisas do mundo. Estes iogues o ensinaram sobre a ilusão do mundo e dos sentidos, o que os hindus chamam de maya. Disso surgiu sua doutrina da ataraxia, ou imperturbabilidade, e mesmo ainda o ceticismo. Mas para clarear, basta lembrar o livro sagrado hindu, Baghavad Gita: “Os sentidos, o intelecto e as emoções são o habitáculo desses desejos objetivos; são eles que anuviam a razão e roubam ao homem que a eles sucumba a lus do conhecimento” (p. 49) e “Erram os homens por sua própria ignorância, porque a luz da verdade está envolta nas trevas da ilusão” (p. 62). Disso levado ao pensamento de Pirro, se observa que ele também colocava a indiferença além dos sentidos, nas coisas mesmo. Assim o ceticismo de Pirro tem o fundamento de compreender que os sentidos e nem mesmo o intelecto nos dão garantia de conhecimento do mundo. Pela grande dúvida, que chegava a ser uma dúvida de tudo, a sua doutrina se opunha a qualquer dogmatismo. Apesar que seu discípulo chegou certa vez a dizer que as vezes o mestre é dogmático. Esse dúvida de tudo parece depois ser copiada ou imitada por Descartes, que ganhou fama por tal pensamento. Mas Pirro também não é muito de ter uma metafísica, uma vez que prefere não julgar, e suspender assim o juízo. Vivia uma vida ascética, a exemplo dos gurus do oriente a que conheceu, e até mesmo na pobreza. Isso em dias atuais parece absurdo, mas era e para alguns sadus ou santos ainda possível, bem como a monges. Mas de importante é que chegou a aprender mesmo, tendo controle mental e corporal sobre si mesmo, e assim admirado por discípulos não apenas pelos seus ensinamentos, mas também pelo seu modus vivendi, pelo seu hábito e comportamento. As coisas sendo indiferentes, não sem nem mais nem menos, e também são e não são. A aparência então domina. Parece que Pirro vive no século vinte e um, com a afirmação da aparência. Mas talvez ele queria falar que não podemos conhecer as coisas em sua essência, esta que ficaria indiferente. Frente a esse mundo virtual resta apenas ficar sem se modificar, não procurando nem a verdade, nem a coisa em si. Mas há quem não tenha achado que Pirro fosse um cético, como Cícero. Bem certo é que Pirro chegou a ensinar que “eterna é a natureza do divino”. Apesar de sofrer fortes críticas de outro pensador, Pascal. Talvez Pascal entendesse Pirro como um ateu, mas seu comportamento não parecia ser de alguém que não acreditasse em alguma, haja vista o seu comportamento acético e místico. Para Pascal há no pirrorismo uma ambiguidade ambígua e uma obscuridade duvidosa, e que suas conclusões são duvidosas. Mas em sentido consolador Pascal disse também que o pirrorismo é a verdade, mas porque ele não havia ainda conhecido Jesus Cristo. Mas voltando a ele, teve assim a doutrina da impossibilidade de valores universais ou mesmo de algum relacionado a uma religião maior. Por causa da diversidade de costumes e de valores entre as nações, vê impossível um valor universal. Também fala até de modo humanista, que a condição de louco é natural. Esse relativismo vai assim até as últimas consequências. De curioso que o mestre ficava imperturbável na maioria das vezes. Mas em duas oportunidades talvez se perturbou. Numa um cão o agrediu e ele teve de reagir. Quando seguidor o questionou, ele disse que as vezes se precisava retornar a condição de homem. De interesse é que Pirro foi tão influenciado por aqueles yogues, que acaba provando alguma ligação com o oriente no pensamento e na filosofia. Não apenas no caso dele, mas já antes outros pensadores via Egito teriam usado de uma contribuição oriental em sua filosofia. E por sua vida nobre e reservada, mesmo de um asceta, os seguidores ou admiradores não duvidavam da capacidade do mestre. Assim ganha atenção com Pascal, mas sem muito conhecimento talvez do verdadeiro Pirro, e com a mira do julgamento religioso, que muitas vezes não caberia no caso. Mas Pirro era ligado também aos atomistas. Também sua morte foi lendária. Dizem que estaria ensinando com os olhos vendados, por não acreditar no mundo, a beira do precipício, de modo que ao ser questionado por um discípulo, este duvidou, de modo que acabou caindo do precipício e falecendo, isso em 275/270 a.C.